A natureza das religiões


JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.

flor
Pensamento lógico é importante
"Vigiemos nossos pensamentos, porque do pensamento provém a ação..."
Pensamento Budista


Analisamos em palestras anteriores alguns pontos que dizem respeito à natureza do pensamento, e alguns aspectos das estruturações estabelecidas a partir dele. Vimos que toda e qualquer imagem de Deus que se possa criar, quer seja ela uma imagem morfológica, ou mesmo atributiva, sempre ela é inexata. Por mais que tentemos construir a imagem de Deus, por mais atributos positivos que lhe acreditemos ainda assim ela não é verdadeira. Por mais que tentemos acabamos sempre creando uma imagem segundo nossa maneira pessoal de pensar, de perceber, e de compreender, literalmente baseada pensamentos colhidos na memória, que, conforme já estudamos trata-se de um registro limitado e deformado das coisas.


Nenhuma imagem de Deus sequer aproxima-se da realidade desde trata-se sempre de uma mera montagem estabelecida a partir de qualidades restritas constantes da memória pessoal. A partir dessa premissa, vamos tecer alguns comentários a respeito das doutrinas instituídas.

De inicio, podemos dizer que o mesmo que acontece com a imagem de Deus acontece também com todas as doutrinas e religiões existentes. Tudo o que tem sido escrito e pregado a respeito de doutrinas e religiões, na realidade, diz respeito apenas á uma estruturação também montada segundo padrões de memória expressos pelos pensamentos.

Uma religião não pode conter mais que aquilo que existe na memória do seu fundador, do iniciador. Se alguém se propõe criar uma seita, uma doutrina ou religião, no máximo ela apenas conseguem criar uma imagem segundo valores que existem registrados na sua própria memória. Isto é o que ocorre, em maior ou em menor grau com todas as doutrinas existentes.

Na verdade somente religiões estabelecidas por emissários incorpóreos que independem do pensamento é que podem ter um elevado coeficiente de verdade. Mesmo assim a estruturação e desenvolvimento da doutrina dependerá de pessoas, sujeitas ao pensar e, sendo assim, a partir disso inexoravelmente ocorrem imensas distorções.

O que acabamos de referir aconteceu com a doutrina pregada por Jesus e outros seres transcendentais, que foram totalmente modificadas, chegando a um ponto de haver um grande número de sistemas derivativos.

É praticamente impossível uma pessoa estruturar uma religião exatamente como é pregada pelo seu iniciador. O Iniciador pode até mesmo não depender do pensamento, mas os seus discípulos sim.

Quando o Iniciador tem Natureza Divina, ou quando ele ensina o que recebe pela via da verdadeira intuição, então, o que diz e sente pode corresponder à verdade, mas mesmo assim como tem que ensinar para pessoas limitadas ele percebe somente pode transmitido de forma incompleta. Aquele que escuta faz uso do pensar, e do raciocinar, e isto modela o que ouve segundo sua maneira própria de pensar.

Não temos dúvida de que Jesus quando vivenciou a existência terrena Ele concebia muito alem de todos os limites de compreensão factível aos seres humanos, contudo Ele teve que adequar e equalizar os seus ensinamentos à capacidade limitada das pessoas.

Não podemos dizer se um iniciador que detenha um corpo físico - meio limitante - possa manifestar o nível pleno da intuição, pois, como já dissemos em outra palestra, a intuição via de regra aflora através do pensamento. Sendo assim o pensamento interfere e a mensagem acaba por perder sua natureza essencial. Esta se torna tanto mais ou tanto menos mascarada por outros valores oriundos que tem como origem a própria memória e que são veiculados pelo pensamento.

Por mais verdadeira que seja uma doutrina, por mais límpidos que sejam os seus ensinamentos, temos que levar em conta que a mensagem é transmitida a pessoas e evidentemente estas não a utilizam pura por dependerem do pensamento. Muitas vezes, nem mesmo as pessoas chegam a entender a mensagem com a devida clareza e daí passam a transmiti-la de uma forma pessoal, tornando-as, muitas vezes, uma mensagem viciada. Foi assim que a mensagem trazida por Jesus logo começou a ser transmitida de forma adulterada. Os Apóstolos, mesmo havendo sofrido uma abertura de consciência, ainda assim, por serem seres canais, estavam sujeitos as limitações inerentes à natureza carnal. Os seguidores destes, em maior grau ainda, limitaram e deformaram os Ensinamentos Crísticos, que chegaram até nossa época totalmente diversificada da origem.

Na realidade pode-se afirmar que todas as religiões ensinadas não chegam atingir um nível que esteja próximo a 100% da verdade.

Agora vejamos o porquê de um paradoxo que existe entre muitas doutrinas autênticas. Uma pessoa santa normalmente atribui suas qualidades a um determinado sistema religioso e chega a afirmar que o grau atingido por ele deve-se a uma determinada religião ou a algum santo ou Iniciador. Por certo, "santos homens" integrantes do Islamismo atribuem a purificação deles a Maomé, os do Budismo a Buda, os do Cristianismo a Jesus, e assim por diante. Jacob Boehme, por exemplo, falava de suas qualidades como dádivas do Espírito Santo, e só mencionava os seus valores segundo o modelo Cristão da sua época. Se ele fosse um Islamita, ou um Budista, ou um Xintoísta, as atribuições por ele conferidas seriam creditadas a outros seres e a outros ensinamentos.

Se uma pessoa estudar a vida de Jacob Boehme, de Santo Agostinho, de Lao Tsé, e uma gama imensa de pessoas que podem ser consideradas santas, verá que são bem diferentes naquilo que acreditam como religião. Uma Santa Teresa D'Ávila, um São Francisco, e tantos outros não admitiriam que alguém pudesse se santificar em outras doutrinas que não fosse o catolicismo. Assim acontece com muitos religiosos, eles não admitem salvação que não seja procedida em consonância com a religião que professam.

Muitas pessoas de elevado nível espiritual professam religiões que têm valores totalmente diversos entre elas e sendo assim persiste a indagação sobre qual delas é verdadeira. Se analisarmos com esta questão veremos que em todas as épocas existiram espíritos bem iluminados professando as mais diversificadas religiões, muitas destas falando o oposto uma das outras, e que ainda assim eles encontraram nelas o caminho verdadeiro.

Algumas vezes uma "pessoa santa" afirma uma coisa e uma outra chega até mesmo a afirmar o inverso, a dizer de forma totalmente diferente e mesmo assim a vida que levam pode ser considerada altamente espiritualizada. Por isto fica-se sem entender o porquê de valores heterogêneos poderem levar conduzir o ser a um mesmo ponto. Na realidade é assim porque se não fosse jamais alguém se purificaria desde que seja qual for o sistema este não é verdadeiro em sua plenitude, pois se tratam sempre de sistemas montados mediante pensamentos, segundo enfoques pessoais e coisas assim.

O que é significativo é que a pessoa purifica-se não pela religião em si, ou por algum dos poderes do seu Iniciador, mas sim por si mesmo. A religião age apenas como um suporte limitado, por uma metodização do viver pessoal. No máximo ela pode apresentar em seu contexto doutrinário ensinamentos que mesmo sendo limitados e não perfeitos ainda assim, se forem aceitos e praticados facilitam a caminhada da pessoa na busca da iluminação espiritual. Os valores mencionados pelas doutrinas são assimilados e praticados e assim a pessoa caminha passo a passo de encontro a Luz e na medida em que caminha amplia sua capacidade intuitiva e pode continuar assim na senda da purificação.



  


A ilusão do tempo



JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.

"Seja vão e que tudo pareça real"
U. Foscolo



Quando se diz que o ser tem que se libertar da Mente, na verdade o que se pretende dizer é que ele tem que se libertar das limitações que são a mente.

A consciência contém o todo e a parte. Mesmo que se considere ilusão ainda assim as partes, de certa, forma existem e se existem devem constar no “É”. Seja qual for a coisa, ou condição, que real ou ilusoriamente exista deve fazer parte do “É”, logo é parte integrante da Consciência.

A mente se existe, quer ela seja realidade ou ilusão, está presente no “É” . Como o “É” se trata de um registro pleno poderia como tal deixar de conter todas as ilusões? Tudo o que faz parte do “É” não se extingue porque o “É” é eterno desde que ele está fora do espaço-tempo.
Sejam como realidades ou como ilusões os elementos constitutivos da mente aprisionam o ser, setorizando e limitando a percepção que se tem da Consciência. No conto dos cegos e do elefante a condição do não ver o animal por completo, sem dúvida, o limita. Assim também há condições que limitam a Consciência condicionando e limitando a percepção. É preciso que se tenha uma compreensão exata sobre a natureza dos elementos limitantes que em sua totalidade compreende a mente.

Um dos principais meios que limita a percepção do todo é a falsa idéia de tempo linear. O Tempo, como algo absoluto, é o mais importante elemento presente na Consciência, mas como no processo do “se ver em parte” ocorre o surgimento então esta modifica o tempo absoluto gerando o tempo seqüencial – tempo linear, ou tempo cronológico.

A única realidade está representada como o “É”. Coisa alguma está fora dele, pois se fosse de outra forma não seria infinito. No “É”, em termos de tempo, só existe o Eterno Agora, portanto não há passado e nem futuro, somente presente. Transportando ao sentido gramatical poderemos dizer que no Eterno Agora só há o tempo verbal presente.

É a mente quem gera a idéia de passado e de futuro e isto funciona de forma fazer parecer que existem dois mundos distintos, o Transcendente e o Imanente. Na verdade o Imanente se baseia na condição de manifestação parcial da Consciência. No conto do elefante, para os cegos a parte percebida por cada um representaria o elefante. Na Consciência ocorre o mesmo, a parte percebida por cada ser compõe um mundo distinto – mundo imanente – mas que não é o verdadeiro mundo-Transcendente. A percepção parcial é que motiva a existência aparente de um outro mundo – Imanente.

O não perceber o tempo como algo absoluto e infinito gera a ilusão de tempo linear. Nesta condição ele se apresenta de forma tríplice: passado, presente, e futuro. Mas, a ilusão do tempo é tão marcante que faz com que seja tremendamente difícil a pessoa de dissociar dela. O Imanente é um mundo baseado em passado e futuro e onde não há lugar para o presente, para o agora. Quando é o presente – agora? Jamais ele é encontrado no Mundo Imanente, neste mundo que aceitamos como algo real e concreto. Voltamos a lembrar um exercício mental que já utilizamos em outras palestras. Tome como exemplo uma hora qualquer como, por exemplo, Meia Noite. Quando ocorre a meia noite? Quando é o agora da Meia Noite? Faltam 10 minutos, falta um minuto, um segundo, um nanosegundo, e assim por dia nesse processo cada vez o tempo faltante diminui, mas quando é que ele zera? Em nível de tempo linear jamais se chega a atingir a Meia Noite. Isto tende para infinito, portanto somente no infinito ocorre o agora, contudo quando isto acontece, em se tratando de Infinito, já não é mais Imanência e sim Transcendência. Tempo infinito é Eterno Agora uma condição somente existe como o “É”. Por outro lado, no “É” – Eterno Agora – não pode haver nem passado e nem futuro, pois tudo “ali” é presente, tudo é agora. Mas, ver isto é ver a totalidade. As partes do elefante são as partes do tempo, é como se fosse tempo fracionado, o que equivaleria a dividir o Tempo Absoluto, que equivaleria a dividir o indivisível.

Vemos que ao se falar de Mundo Imanente tem-se que eliminar o presente onde somente os únicos tempos verbais aplicáveis são passado e futuro. Contudo, devemos examinar o passado. Esta é uma condição que só existe no presente. Algo que sentimos, como passado, quando ocorreu ele era presente. Considere uma ação qualquer do passado e veja que ao ocorrer ela era presente. Então como é que fica, se o agora – o presente – não existe! Então o passado só existiria no Transcendente, mas já dissemos que no Transcendente o que existe é o Eterno Agora em que não pode haver passado e nem futuro, pois se assim não fosse aquilo perderia a condição de Eterno Agora. Como então sair desse paradoxo? Entendendo-se que tudo é “agora”, que passado e futuro são artifícios da mente e, desde que não põem existir tanto no Mundo Imanente quanto no Transcendente. Assim há de se convir que aquilo que se acredita ser o passado é uma mera ilusão, um artifício da mente que diz respeito à percepção limitada ao nível de Consciência.

Evento algum ocorre no passado, pois quando ele ocorreu era presente, e se presente ocorre no “É”. Presente é uma condição única do Transcendente. Isto mostra que a idéia de passado é um artifício mental, e que tudo ocorre no presente, tudo existe e ocorre somente no “É”.

A análise do passado mostra claramente que o mundo imanente é pura ilusão. Trata-se de uma armadilha da mente cujo objetivo é assegurar a individualidade e a manutenção do Ego


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A importância dos Princípios Herméticos



JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.

" A virtude não consiste na indigência,

muito menos na opulência, mas na
siplicidade da vida."
Do Caminho Óctuplo - BUDA


fogo
O Fogo é um dos símbolos da Ordem
Assim como é em cima é embaixo...

O que está expresso nesta declaração faz parte dos chamados Princípios Herméticos - Princípio da Correspondência - sido a base dos ensinamentos de Thoth e aceito como verdade fundamental das mentes conscientes.

Nesta afirmativa Thoth indica que o mundo objetivo é apenas um espelho do céu, ou seja, que os padrões existentes no mundo inferior são reproduções dos padrões do mundo superior, existindo, portanto uma conexão íntima entre o divino e as formas exteriores que constituem o mundo imanente.
O imenso cabedal de ensinamentos de Thoth, em parte, é descrito numa obra conhecida pelo nome de Corpus Hermeticum.

No Corpus Hermeticum ensinamentos cosmológicos são apresentados sob a forma de diálogos entre Hermes - Thoth - e várias outras deidades egípcias, inclusive Ísis. Estudiosos mostram que trata-se de um texto verdadeiramente original.

O conteúdo da mencionada obra, em sua maior parte é composto pelo que Thoth escreveu sobre a polaridade do universo definindo-o em termos de treva e luz, de mal e bem, e assim por diante. Ele faz ver a polaridade do mundo imanente e não no sentido de dualismo cósmico. Isto está bem claro quando diz "...semelhante e dessemelhante são uma coisa só...", significa exatamente o principio da polaridade.

Pelos ensinamentos de Thoth foram estabelecidas as bases que constituem os ensinos das várias organizações de estudos herméticos no que dizem respeito à visão do mundo.

Realmente a visão universal hermética tem muito em comum com a filosofia de Platão.

Indubitavelmente para os antigos egípcios Thoth era " a personificação da Mente de Deus, o Mestre Supremo de Sabedoria. Essencialmente a religião dele era a Religião da Luz. Como Luz era o Pai da Religião de Iluminação (os Mistérios da Luz e de um Nascimento divino), assim era Vida, o cônjuge dele, a Mãe da Religião de Alegria ". (TGH)

Nem todos os estudiosos, mesmo muitos que integram grupos de estudos direcionados já chegaram à conclusão de que os Princípios Herméticos não são apenas simples condições inerentes ao universo, ainda não se deram conta de que na realidade eles constituem a própria base de tudo quanto há.

Certamente a "Árvore da Vida" da Cabala representa a planta arquitetônica de tudo quanto há no mundo da Imanência, o seu "modus faciendi" enquanto que os Princípios Herméticos podem ser considerados como o "Modus Operandi", ou seja, a manifestação da Lei.

Isto que estamos falando indica que os Princípios Herméticos manifestam-se segundo um modelo que é representado esquematicamente pela "Árvore da Vida" e não segundo um padrão aleatório. A árvore é o modelo de organização do caos cuja distribuição ordena-se mediante desdobramentos da Lei manifestada consoante aos princípios Herméticos.

Podemos considerar que em tese todos os princípios resumem-se em um só desde que eles estão intimamente relacionados entre si sendo difícil estabelecer o limite onde termina um e tem início o outro, pois geralmente eles interpenetram-se. Naturalmente não poderia ser diferente desde que apenas existe UM.

Inicialmente ao estudar os 7 Princípios Herméticos o discípulo não percebe o quanto eles significam, ao nível de conhecimentos que eles encerram. Não podemos afirmar o percentual exato, mas acreditamos que 99% de tudo quando se percebe no mundo imanente são manifestações ligadas ao Princípio da Vibração. " Nada está parado, tudo se move, tudo vibra " - O Cabailion ".

Obviamente a vibração é a base de todo o universo imanente, de toda creação. Na verdade somente as manifestações daquilo que temos em algumas palestras de "Faces do Poder Superior" é que não vibra, ainda assim aqueles que conseguem penetrar no entendimento sobre o 9º Princípio, correspondente à "Nona Hora" mencionada no Nuctemeron de Apolônio de Tiana, sentem que não podem ser consideradas fora do limite dos Princípios Herméticos.

É pela vibração que a absoluta unidade de Deus manifesta-se na imensa variedade dos mundos. - Huberto Rhoden.
O limite das percepções faz com que a mente aceite a existência de princípios independentes quando na realidade só existe UM.

Leis e mais leis são mencionadas pela ciência, mas todas resumem-se numa só.

Indubitavelmente vivemos na terra imerso num oceano de vibrações que nos cercam por todos os lados, e isto tem grande significação em decorrência da ressonância vibratória. Quando estudamos algumas peculiaridades das vibrações no temas iniciais falamos que nunca um som mantém-se isolado. Qualquer som geral outro sons.

Mesmo que apenas uma corda de um piano seja percutida não ocorre apenas a nota correspondente isoladamente, pois inúmeras outras cordas vibram em uníssono mesmo sem que hajam sido percutidas.

Isto que estamos falando não diz respeito somente à uma nota musical mas a tudo quanto existe. Uma vibração qualquer ressoa num incalculável número de coisas existentes, e quando nos referimos a coisas estão incluídos também os seres vivos em geral e o humano em particular.

Temos que considerar que somos seres inter-agentes com todo o Universo desde que estamos sujeitos às leis que regem o movimento vibratório. Se nossa constituição física é material e matéria nada mais é do que manifestação vibratória logicamente vivemos sujeitos às leis da ressonância vibratória.

Esta palestra é o preâmbulo de uma temática de imensa significação, mas que mesmo assim tem sido totalmente negligenciada pelas pessoas - os sons.