Sonhos perceptivos

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO  F.R.C.

Tema 359
1995 - 3348

"Os sonhos enquanto duram são uma verdade."
— Alfred Tennyson.

Quando a pessoa adormece há uma atenuação da ligação entre o espírito e o corpo. Assim sendo o espírito como que viaja para lugares distantes. Na realidade ele não faz viagem alguma, o que ocorre é um afloramento da consciência para além do lugar onde está o corpo físico. Há projeção da consciência, mas não num nível tão intenso que ela se projete num outra dimensão, num outro plano, ou mundo. Sendo assim, é como se fosse uma viagem na própria terra.

Em tal situação o espírito visita lugares e torna-se ciente de um mundo de coisas. Quando a pessoa desperta tem lhe afloram as lembranças de tudo o que percebeu. É claro que a lembrança é incompleta, ele recorda fragmentariamente e muitas vezes um fragmento de uma “viagem” se une ao de uma outra tornando o sonho um tanto incoerente.

Dissemos que o espírito viaja quando a pessoa está dormindo, na realidade não é bem uma viagem física e nem um deslocamento físico. Na realidade é um afloramento da consciência em outros níveis, mas sempre dentro do plano terreno. Há um afloramento nesse mesmo mundo porque e não em outro como acontece no quarto tipo de sonhos. Como veremos na próxima palestra, a consciência pode aflorar num nível de consciência alem do mundo em que estamos, isto é, num outro mundo com uma realidade totalmente diferente desta que Vivenciamos na matéria densa, ou seja, o afloramento pode ser numa outra oitava, numa árvore da vida diferente da nossa.

Agora faremos algumas observações quanto a algo de real importância que é o ponto de convergência energética. Na próxima palestra nos aprofundaremos mais no estudo desse item, mas anteciparemos um pouco afim de que esta palestra possa ser mais bem compreendida.

O ponto de convergência energética – Ponto de Sintonia da Mente sobre a Consciência) – é aquele representativo do nível de consciência do ser. Na realidade não se pode falar de uma representação espacial mesmo que de natureza energética. Será melhor dizer que é um ponto energético apenas. Mas quando percebido é como se houvesse uma área energizada em torno da pessoa e dento dela presente um ponto de concentração de grande intensidade energética.

Quando uma pessoa habilitada observa o corpo energético percebe alguns vórtices de energia. Existem 7 vórtices que são os denominados chacras. São pontos que poderíamos analiticamente chamados de “plugs”, pontos por onde a energia penetra ou sai do corpo. Também é possível serem visualizados outros 7 vórtices que são os centros psíquicos. Há correspondência entre cada um destes pontos um determinado órgão físico. Analogicamente podemos compará-los a “antenas”, pontos em que não é energia em si, mas por onde através da energia as mensagens adentam o corpo.

Mas além desses 14 pontos, existe mais um que poucas pessoas percebem sendo por isso pouco citado. Trata-se de um de um ponto para onde há uma convergência das forças inerentes aos 14 vórtices. É um ponto bem menos conhecido que os chacras e centros psíquicos embora tenham importância maior que qualquer um dos 14 existentes.

Todos os 14 pontos convergem para um ponto energético único. Numa visão espacial daquele ponto pode-se o percebes com diferente grau de intensidade energética assim como a ocorrência de mudanças de posição.

O “lugar” do corpo energético em que o ponto de convergência se situa depende da natureza vibratória dos l4 canais (chacras e centros psíquicos). De conformidade com o grau e o nível de percepção da pessoa ele pode estar num ponto ou noutro.

É a partir do ponto de convergência que se estabelece o comando de todo o organismo, incluindo, por absurdo que possa parecer, o plano de existência do ser. O viver no plano denso, na terra, é função de um comando que surge a partir do ponto de convergência. O que parte dali é que através dos corpos intermediários funciona como modelo organizador biológico. Dali provém o estado de consciência e o comando de toda a estrutura orgânica.

Qualquer modificação que ocorra no ponto de convergência resulta em algum tipo de alteração sobre o corpo denso e vice-versa. Disto resulta que através de praticas mistificas podem ocorrer manipulações do ponto de convergência havendo como resultado uma gama imensa de consequências.

Muitas práticas existem que permitem quer sejam alterações na intensidade, quer alterações na aparente localização espacial do ponto de convergência. Na realidade tudo isso nada significa do que alterações no nível de vibração pessoal. Tudo o que modifique a resultante vibratória de uma pessoa por certo altera também a localização do ponto de convergência e isso determina reflexos imensos sobre o organismo.

Num sonho perceptivo é possível se visualizar quando ocorre alguma alteração na intensidade do ponto de convergência e também quando há algum deslocamento (voltamos a insistir que não há realmente um deslocamento real e sim uma exteriorização superficial que parece ser um deslocamento. Isto na essência, no sentido prático, não faz diferença alguma, por isso pode-se aceitar como deslocamento).

Num sonho perceptivo se for visualizado o ponto de convergência ver-se-á a ocorrência somente de pequenos deslocamentos. Nisto difere dos sonhos projetivos (estudados na palestra seguinte) em que o deslocamento é acentuado. Em decorrência do deslocamento pequeno, as modificações do ponto de afloramento da percepção situa-se dentro do nosso plano existencial, portanto é como se apenas houvesse ocorrido simplesmente uma “viagem” da qual a pessoa ao acordar tem recordações parciais. Quando há deslocamento para planos astrais geralmente é alcançado apenas o mundo astral mais próximo do plano material.

Nesse nível de sonho, ou seja, nesse nível de afloramento da percepção, a pessoa pode perceber coisas, assistir, participar de eventos, auxiliar, aprender e ensinar. Muitos conhecimentos apresentados por pessoas, até mesmo descobertas científicas ocorrem por esse canal. Pelo que dissemos antes sim é que a Bíblia refere:

“Deus fala uma vez, e segunda vez não repete uma mesma coisas. Por sonho de visão noturna, quando cai sopor sobre os homens, e estão dormindo no seu leito, então abre os ouvidos os homens, e admoestando-os lhe adverte o que devem fazer”. Bíblia, Jó, 33-14.
           
O que vamos revelar agora tem muito significado. Um estado de sonho pode ocorrer espontaneamente, automaticamente, ou pode ser induzido mediante determinadas práticas. Portanto a própria pessoa pode induzir os seus próprios sonhos e deles tirar proveitos. Mas, por assim agir ela está sujeita a também ter sérios prejuízos espirituais.

O trabalho desenvolvido pelos adeptos da projeciologia ocorre nessa área. Basicamente eles se projetam acordados, mas pode ocorrer também através dos sonhos, seria melhor dizer que recordados como sonho. Mas, como toda moeda tem duas faces, ou seja, em decorrência da lei da polaridade, pessoas maldosas podem mesmo dormindo prejudicar outras pessoas e isso é possível de ser rememorado como um sonho.
           
Não é raro uma pessoa sonhar e saber que aquilo tudo não passa de um sonho e assim até mesmo assim comandar, e se deslocar pela ação do querer. Mas, então esse tipo de sonho já está no limiar do quarto nível, que estudaremos na palestra seguinte, e que é perigoso porque está sujeito a ocorrência de situações sobre as quais é possível a pessoa não ter controle, ou por incapacidade de conhecimentos ou por carência de sutil.

Um dos problemas mais simples que ocorrem quando desses sonhos, com ciência de que se está sonhando, é a possibilidade de sugestionar outras pessoas. Na história da humanidade existiram pessoas altamente habilitadas para usarem esse tipo de sonhos visando à consecução de seus propósitos pessoais. Conhecem-se pessoas que usam isso como uma forma de magia para condicionar paixões e coisas assim; para induzirem pessoas a fazerem determinados negócios; para conquistas amorosas e muito mais.

Por existir tal possibilidade é preferível que a pessoa simplesmente deixe o sonho evoluir naturalmente e evitar tomar decisões, pois todo prejuízo que possa causar, todos os transtornos que possa motivar, mesmo ocorrendo numa situação que e a ela parece um mero sonho, por ter um reflexo na vida real, por certo ela terá que responder carmicamente.

Uma coisa que normalmente as pessoas menos afeitas aos conhecimentos místicos ignoram é que o mundo dos sonhos é tão real quanto este que Vivenciamos no estado de vigília. No mundo onírico o que parece irreal é este mundo que estamos. Quando uma pessoa sonha e sabe que está sonhando aquele mundo parece-lhe mais real que esse que vivenciamos quando no estado de vigília. Quando uma pessoa sonha e sabe que está sonhando o seu nível de percepção é no mínimo o quarto, aquele correspondente ao estado de vigília.

Queremos salientar e dar maior ênfase ainda à afirmativa de que os sonhos podem ocasionar sérios transtornos e por isso a pessoa por certo será responsável por tudo o que determinar, mesmo no estado de sonho consciente.  Assim deve-se adormecer sem pensamento preso em negatividades. O adormecer deve ser um momento um tanto sagrado, um momento de recolhimento e de prece verbalizada ou mentalizada. Não se deve brincar com os sonhos do terceiro e quarto nível porque a pessoa fica sujeita a sérios transtornos. Não é sem razão que está escrito na Bíblia:

 “Porque os sonhos tem feito extraviar a muitos, que caíram, por terem posto neles a sua confiança”: Eclesiástico, 34-7.

Sonho - Fantasia ou realidade?

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.

Tema 358
1995 - 3348

“Onde vives?  Pergunta  o  possível ao impossível 
e esse responde: nos sonhos ...”
Rabindranath Tagore.

Quando a pessoa adormece, dizem algumas doutrinas, há um desligamento parcial entre o espirito e o corpo. Assim sendo o espírito como que viaja para lugares distantes. Na realidade ele não viaja, o que ocorre é uma projeção mental para além do lugar e tempo onde está o corpo físico.

O ponto focal da consciência pode se manifestar em qualquer nível Cósmico. Via de regra ele se manifesta onde está o corpo físico, mas isso numa pessoa encarnada. Já dissemos na série de palestras sobre os corpos intermediários que  a consciência se manifesta no derradeiro dos corpos intermediários. Numa pessoa encarnada ele se manifesta evidentemente ao nível do corpo físico dando até mesmo a impressão de que ela se situa no cérebro. Numa pessoa em que haja anulação do corpo físico (por desencarne, anestesia, traumatismos com perda das percepções) ela pode se manifestar num outro nível, num outro corpo astral.

Mas, não é somente nas condições citadas que a pessoa toma ciência dos afloramentos da consciência em outros níveis. Muitas vezes uma projeção desse tipo ocorre espontaneamente.

Tornar-se ciente num ponto afastado é necessário que a pessoa altere a sua vibração. Existem alguns métodos que possibilitam isso e que são ensinadas por algumas doutrinas.

Carlos Castañeda menciona com frequência aos ensinamentos de Dom Juan referentes às condições que o “feiticeiro” atinge através de deslocamentos daquilo que ele chama de Ponto de Aglutinação. Diz ele que é pelo deslocamento daquele ponto que os diversos níveis de consciência se manifestam.. Isto é verdade e veremos alguns detalhes que julgamos importantes no desenvolvimento espiritual.

Primeiramente queremos lembrar que em nível orgânico, em nível corporal, existe no cérebro um ponto correspondente à qualquer função. Tudo tem o seu lugar representativo no cérebro. Se, por exemplo, for estimulado o ponto da visão a pessoa terá sensação de luz, de cor e assim por diante. Também a acupuntura e reflexologia afirmam que no nariz, nas orelhas e nas plantas dos pés estão representados todos os pontos do corpo e que se um daqueles pontos for estimulado haverá uma resposta correspondente à função inerente a ele.

No corpo bioplasmático há um ponto energético representativo de cada nível de consciência. Assim sendo, atuando-se sobre o ponto energético (ponto de convergência) obtém-se um determinado estado de consciência. Portanto, deslocando-se o ponto energético (ponto de aglutinação citado por Carlos Castañeda) o nível de percepção aflora num outro nível.[1]
            
Assim como é em cima é embaixo”, portanto, todas as coisas que existem num nível existem em a sua representação nos demais níveis. Assim, existem pontos representativos de todo o universo em todos os planos.

Estimulando-se (o que equivale a fazer mudar de lugar) o ponto energético correspondente aos níveis de consciência é possível se projetar a consciência para N níveis. Na realidade o que varia são os métodos de como agir sobre ponto energético segundo o que se pretende obter.

Experiências fisiológicas mostram que estímulo exercido sobre pontos cerebrais obtém-se inumares respostas psíquicas e sensoriais. Por exemplo, se um determinado ponto do cérebro for estimulado mecanicamente a pessoa pode ter sensação tão real que é incapaz de perceber ser aquilo algo não real provocado por um estimulo mecânico. Por esse tipo de experiência é possível  a pessoa sentir odores, perceber formas, cores, sensações auditivas e mesmo estados se cólera e de tranqüilidade, sensações eróticas, etc.
            
Se, por exemplo, for estimulado um ponto correspondente a um odor a pessoa sentirá aquele odor de forma não fácil de concluir ser ele provocado por algo real ou simplesmente  ser resultante de um estímulo mecânico cerebral. Agora vale um outro ensinamento. Se aquele ponto em vez de ser levemente estimulado o for com intensidade está sujeito a ocorrer um dano com resultado definitivo, algo que passa a agir de forma perene e assim a pessoa jamais deixaria de sentir aquele odor. Isto é valido para qualquer outro tipo de sensação.

O que descrevemos sucintamente sobre estímulos presta-se bem para o entendimento do que ocorre com referência ao ponto energético. Ao ser estimulado o ponto de convergência ( = ponto de aglutinação ) a pessoa vivencia uma outra realidade, quer em espaço, quer em  tempo. Na realidade não é um deslocamento do ponto energético. Uma pessoa que tenha a capacidade de perceber o corpo energético vê aquele ponto de confluência nas diferentes situações. Vê que ele como que muda de posição dentro do campo energético. Na realidade ele não muda de lugar, na realidade podemos dizer que isso é só aparente, há deslocamento real do ponto de convergência energética e sim níveis de vibrações que dão uma sensação, pois o que se percebe realmente é a alteração vibratória. Um nível vibratório corresponde a um estado de consciência, uma vibração diferente corresponde a uma outra realidade e assim sucessivamente. No nível em que o ponto energético estiver vibrando ali está a consciência da pessoa.

Não é raro ter-se percepções de outros níveis de percepção e de registros de memória. Isto em dado momento aflora parcialmente durante o sono e no estado de vigília é assinalado como um sonho...
            
Acontece que os sonhos não são claros exatamente porque as percepções ocorridas durante o sono são conscientizadas fragmentariamente, afloram segmentos de percepções de situações diferentes misturados. Esta é uma das razões pelas quais os sonhos são alheios aos princípios que regem o pensamento lógico. Via de regra, eles violentam a lógica, a começar pela relação espaço tempo. Estas duas condições têm conotação totalmente diversa daquelas que  ocorrem no estado de vigília.
            
Mas não são apenas “viagens” que  participam na elaboração dos sonhos. Quando uma pessoa adormece, ela praticamente está no mundo astral e todas as condições que já estudamos a respeito do astral se tornam presentes. Aquelas situações são rememoradas quando a pessoa volta ao estado de vigília e então tem a sensação de haver  tido um sonho. Assim uma pessoa através dos estado de sono ter acesso a diferentes níveis astrais que ela em ciência como se fosse um sonho.
            
Num estado de sonho a pessoa pode ter acesso a níveis com escala espaço/tempo totalmente diversa e assim em certas condições pode ter acesso aos registros do tempo e colher eventos ainda por acontecerem no mundo objetivo. Neste caso, são os sonhos premonitórios.
            
Por meio dos sonhos premonitórios é que muitas profecias são feitas. O futuro já está registrado no tempo, ou como preferem chamar os orientais, nos registros akáshicos. Aqueles registros podem ser consultados e assim sendo uma consulta aos registros do tempo  pode aflorar parcialmente constituindo exatamente um sonho.
            
No estado de sonho a mente de uma pessoa adormecida comporta-se num nível abaixo daquele que ocorre no estado de vigília, muito embora as experiências que ocorrem num sonho sejam muito mais elásticas desde que no estado de vigília há um enorme condicionamento físico da mente enquanto que no estado onírico a barreia imposta pelo corpo físico é muito menor. Embora menor, a clareza de percepção é menor do que no estado de vigília. Como veremos depois, o nível de percepção num sonho pode ser de qualquer nível superior, porque o estar ou não sonhando não indica o nível de percepção em si, mas sim um estado psico-fisiológico.

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[1] Temos evidenciado que a compreensão sobre o ponto de aglutinação citado seguidamente por Carlos Castañeda tem sido de difícil compreensão para muitos leitores daquele autor. Na realidade, o ponto de aglutinação é um ponto de confluência, situado no corpo energético, dos distintos níveis de energia psíquica inerente aos estados de percepção da pessoa.

Introdução à natureza dos sonhos

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO  F.R.C.

Tema 356
1995 - 3348

"Nem sempre está dormindo quem está de olhos fechados."

Em todas as épocas o sonhar exerceu grande influência sobre as pessoas. Para uns, é algo sem significação, para outros é algo tão importante que muitos sonhos foram tidos como mensagens dos deuses.

Na Bíblia há muitas citações a respeito de sonhos, muitos profetas receberam mensagens das divindades através deles. Há muitas referências aos anúncios feitos em sonhos pelos anjos anunciadores, assim aconteceu com o nascimento de Salomão e de Jesus.

Teriam os sonhos importância real? - Certamente, pois na Bíblia está escrito: Quando os tempos forem chegados, as crianças terão visões e os velhos terão sonhos.

A fisiologia até o momento não pode explicar o que na realidade são os sonhos, apenas ela consegue detectar quando uma pessoa está sonhando e alguns mecanismos cerebrais inerentes ao processo, mas de forma alguma o que ele é em essência, contudo através da metafísica no campo do Unismo isso se torna de fácil compreensão.
            
Sendo algo muito enigmático, é muito elevado o número de tentativas de explicá-los, chegando mesmo a existir uma mística inerente aos sonhos. A arte divinatória tem nos sonhos um dos seus principais suportes operacionais.
            
Sempre houve os que tentaram interpretar os sonhos. Na Grécia antiga as pitonisas pre­viam o futuro e adivinhavam os acontecimentos pelos sonhos, tal como faziam também os antigos sacerdotes da Pérsia.
            
Para os Cristãos e Judeus e o mais conhecido de todos os sonhos é aquele que José, filho de Jacó interpretou para um Faraó do Egito. Aquele sonho do Faraó constitui um dos tipos básicos e classificados como Sonho Profético.
            
Na psicanálise o sonho tem um papel muito importante haja vista o que disse Freud: “O sonho é na vida real o que conduz ao conhecimento do inconsciente”.
            
Os sonhos sempre foram envoltos por uma auréola de mistério, exatamente, não apenas porque representam um estado de percepção totalmente discrepante do estado de vigília, pois que, via de regra, são alheios aos princípios que regem o pensamento lógico. São condições que ocorrem como que fora do espaço-tempo comum. Na realidade é assim, somente a mente objetiva tem essa conotação de tempo, que vivenciamos no dia-a-dia, mas podemos afirmar que em outros níveis de consciência se tem uma sensação temporal característica.
            
Conforme o plano de consciência em que se esteja a sensação de fluir do tempo vai desde o patamar típico do dia a dia comum até um patamar em que se torna zero ao nível do NADA. Por isso é que durante o sono a pessoa perde a noção de tempo físico, a noção de cronologia. Sonham-se alguns segundos e tem-se a impressão de uma vivência correspondente a horas ou mesmo dias e meses do estado de vigília. Por outro lado, também cada ponto do “disco da consciência" tem escala temporal própria. Isto é o tampo linear é função do ponto de aglutinação – ponto de detecção da Mente sobre a Consciência.
            
Diz a medicina que o sonho é  indispensável à saúde mental. Se privar uma pessoa do sonho  por certo a sua mente entra em falência. Poucos sabem que  existem distintos tipos de sonhos como veremos:

· SONHOS DE TENSÕES;
· SONHOS PROFÉTICOS;
· SONHOS POR PERCEPÇÕES DO ESPÍRITO;
· SONHOS POR PROJEÇÕES ASTRAIS;
· SONHOS POR VIVÊNCIA DE OUTRAS REALIDADES (MUNDOS).

Nesta palestra veremos dois  dos cinco principais tipos de sonhos.

SONHOS DE TENSÕES:
           
A psicanálise admite que seja através dos sonhos que ocorre um extravasamento das tensões internas. Freud disse que no sonho a mente fica liberta da auto-sensura, e assim se dá vazão aos impulsos sem as contenções impostas pelo formalismo da vida.
            
As preocupações geram tensões que fazem com que a mente cerebral torne-se muito ativa durante o sono. Assim, parte daquela atividade psíquica que ocorre durante o sono aflora em parte ao nível da consciência de virgília sob a forma de sonho. Via de regra, este tipo de sonho é algo confuso, incompleto e incoerente. Isso ocorre porque apenas parte daquela atividade é rememorada, além do mais como ele é formado a partir de fragmentos de várias situações diferentes estruturando um contexto muitas vezes sem segmento lógico algum. Portanto, o principal motivo do aspecto confuso apresentado pelos sonhos resulta da ação de filtro exercido pela auto-censura que apenas deixa aflorar no estado de vigília apenas parte daquela atividade. Somente aquilo que não envolve um grande conflito para a consciência moral é que aflora, o mais fica  totalmente bloqueado a nível de subconsciente. O filtro da censura, mesmo com a pessoa fora do estado de virgulais, somente deixa passar fragmentos esparsos do contexto, por isso é que  os sonhos geralmente são confusos.

Indubitavelmente um dos tipos de sonho é este: sonho de extravasamento da  tensões. Ele nada mais é do que um afloramento de condições que no estado de vigia é contido pela censura pessoal.
            
A dificuldade de muitos analistas é o não admitir que existam outras razoes, outros processos que se manifestam como sonho. É o querer que tudo seja tão somente  um extravasamento do conteúdo  inconsciente da pessoa. Nisso praticamente é que se baseiam algumas linhas de psicanálise. A psicanálise estabelece como norma de tratamento a utilização dos sonhos no sentido de tornar a pessoa consciente daquilo que está reprimido dentro dela. Dormindo a auto-censura rompe-se em parte deixando aflorar o problema como sonho aquilo que  estava reprimido em níveis profundos da mente cerebral e que era a causa de algum distúrbio somático ou de conduta.
            
Por isso para Freud o sonho seria uma tentativa da mente de realizar um desejo que no estado de vigília, ou está contido por uma série de fatores, especialmente pela censura. De forma alguma negamos isso, apenas queremos salientar que tal representa apenas um dos tipos possíveis de sonho.
            
Neste grupo situa-se grande parte dos sonhos eróticos. Para a psicanálise o sonho erótico nada mais representa do que o afloramento das repressões exercidas sob a sexualidade. As religiões sempre exerceram grande repressão à sexualidade por várias razões. Algumas delas estudamos na palestra A MÍSTICA MATRIMONIAL. Assim se estabelece a censura moral para impedir que a pessoa utilize-se  da sexualidade de forma indiscriminada. Parece ser isso uma imposição prejudicial desde que ela pode ser fonte de distúrbios. Mas Queremos dizer que mais sério é a liberdade sem limites como veremos depois. Mas, por outro lado a sexualidade pode servir de mecanismo para sonhos projetivos. Se a liberdade sexual por um lado diminuiria as tensões, por outro lado ela ocasiona seríssimos problemas para a pessoa, não apenas a nível social como especialmente a nível energético.
            
Na temática referente às repressões de natureza sexual deve ser considerado tudo aquilo que já ensinamos sobre a Energia Sutil.
            
Mas queremos dizer que nem sempre um sonho erótico representa um afloramento de uma repressão sexual, pois existe outro mecanismo que estudaremos numa palestra futura desta série e que é algo bem diferente e que está sujeito, a ser  perigoso.

SONHOS PROFÉTICOS:

Na Mente Cósmica – Consciência – tudo quanto há ou que possa vir a ser já existe e aquilo que chamamos mente individual nada mais é do que uma parcela daquela. Assim sendo na consciência já está o presente, o passado e o futuro. Por tal razão é possível em determinadas situações a pessoa ter acesso a um nível que ela pode ter ciência até mesmo daquilo que ainda não se manifestou cronologicamente no seu mundo. Esse tipo de acesso à mente  atemporal é possível mesmo no estado de vigília, porém, é mais comum durante o sono quando há o silencio do diálogo interno, quando há contenção do pensamento.

O pensamento é como um caçador ” disse o M. G. que está a todo tempo se movendo de um lugar para ouro, permanentemente espreitando. No estado de vigília a pessoa permanentemente está com a mente em grande atividade sob a forma de pensamentos. À cada segundo o pensamento muda de um lugar para outro, de uma coisa para outra, de uma circunstancia para outra. A pessoa tem um tagarelar interno permanente e isso constitui a primeira grande dificuldade ao acesso a níveis mais elevados de consciência. Durante o sono o diálogo interno é atenuado acentuadamente e assim torna-se mais fácil a pessoa ter acesso aos planos mais altos da sua natureza cósmica.
         
Abordando a Centelha Cósmica inerente à cada pessoa é possível se ter acesso ao futuro e  isso pode aflorar como um sonho. Aquilo que consideram realidade habitual é apenas um dos incontáveis posicionamentos – registros – de afloramento daquilo que existe na Consciência. Na realidade quando tal acontece trata-se de uma visão além do tempo cronológico. Tudo já existe na consciência, por isso é bastante uma consulta aos registros da consciência para que ocorra  é provável a antevisão do futuro. A abordagem de distintos pontos da Consciência é  mais fácil de ocorrer em estado onírico do que no de vigília.
            
Quando a pessoa tem acesso aos registros do tempo, que é parte de sua própria natureza, durante o sono ela ao acordar, ao voltar ao estado de virgília tem uma sensação exata de haver tido um simples sonho.
         
A mente tem um escudo protetor natural que protege a pessoa contra grandes perigos inerentes aos sonhos como estudaremos em outra palestra. Esse perigo diz respeito à identificação que pode ocorrer não apenas no estado de vigília como também no sonho. No estado de vigília a pessoa vive sem cosmo-ciência de si, vive quase todo tempo identificado com as tensões, com aquilo que lhe chega pelos canais dos sentidos. Praticamente só em poucos momentos a pessoa está consciente de si. Durante o sonho ocorre exatamente o contrário, a pessoa mesmo que normalmente não esteja consciente de si mesmo assim ela assiste a coisa como um espectador.
            
Durante séculos o homem se recusou a aceitar o sonho como coisa de sua autoria. Ao sonhar a pessoa tem a impressão dele ser apenas um espectador de seu próprio sonho, e só rara e vagamente ela percebe como se fosse uma produção pessoal, algo à semelhança de um filme em que ele é um espectador. Mesmo que ele seja um dos personagens naquele episódio do sonho mesmo assim ele sente-se como se fosse um mero espectador.
            
Em tema futuro veremos uma situação muito séria exatamente quando em vez de for um espectador a pessoa se identifica com o próprio sonho. Quando isso ocorre podemos afirmar, por razoes que estudaremos numa próxima palestra, existe uma situação real de perigo. Para a psicanálise o sonho é uma produção da pessoa embora a sensação de quem sonhou do sonhador seja o oposto disso. Ele tem a sensação de haver sido algo que ele apenas assistiu, mesmo que haja sido um dos personagens.
            
Outro ponto que merece consideração diz respeito à linguagem dos sonhos. Em uma palestra anterior em que tratamos de outros mundos dissemos que a linguagem de comunicação entre o mundo físico e o mundo hiperfísico se processa tem como expressão a linguagem simbólica. São os símbolos que servem de linguagem entre diferentes mundos. Assim, o conteúdo onírico tem grande percentual de símbolos.

A energia - "Moeda" universal

 JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO  F.R.C.

Tema 1787
2007 - 3360

"A gente todos os dias arruma os cabelos. Por que não o coração?"
— Provérbio chinês.

Não existe sequer um processo que ocorra no Cosmos em nele que não esteja envolvido algum aspecto de manifestação de energia. Por isso podemos dizer que ela é a coisa, talvez a única, que motiva todos os propósitos da existência, quer se trate do lado físico, quer psíquico, emocional, ou abstrato. Por tudo isso, podemos compará-la a uma forma de “moeda universal” com a qual tudo pode ser adquirido no Cosmos, pois que nele tudo é elaborado a partir da energia. No mundo da ilusão tudo pode ser conseguido desde que haja suficiente índice energético. Na verdade é a energia o que dá suporte às manifestações do universo.

Como já estudamos, a energia é um dos sete aspectos de Deus, portanto ela é uma meta a ser conquistada, mesmo que ela seja algo inerente à própria natureza dos seres. A volta à unicidade passa pela reintegração à energia, aliás, que nunca esteve separada. Antes da reintegração ao Todo a eliminação da ilusão de separatividade tem que ser desfeita. Se formos Deus, um dos nossos aspectos é da energia – Energia é um dos 7 aspectos de Deus – e, na medida em que os grilhões da mente vão sendo eliminados se chega ao momento em que o ser, antes de se sentir como o Ser se sentirá integrado ao todo energético do universo, por ser parte de Sua natureza.

Na ilusão do Mundo Imanente – Mundo de Maya - Deus se apresenta como se existissem em sete aspectos – níveis – de manifestação, sendo a energia um deles. Assim, o ser humano que vivencia o nível da matéria densa, para chegar à Unicidade tem que passar por todos os demais níveis até que a ilusão haja sido desfeita. Como no Absoluto não tem como existir níveis, eles não são mais do que meras ilusões, pois no “E” não existem níveis, desde que nele só existe a unicidade. Deus, portanto, não tem níveis, a mente é quem os cria dentro do contexto do existir o Mundo Imanente. Podemos dizer que de baixo para cima existem níveis – formas de o limitado entender o ilimitado – mas não de cima para baixo. O TODO  pode “ver” as partes, mas a “parte” não pode ver o TODO e por isso é que o ser humano percebe Deus como algo acima, fracionado e separado dele, mas Deus – o Ser – vê os seres como partes de si mesmo, ou melhor, como Ele mesmo.

A energia constitui um dos níveis aparentes de Deus, se trata de uma etapa a ser vencida no processo da eliminação da ilusão da existência como seres, pois que, na verdade, o sertem que sentir a energia não como algo separado de si, mas sim como algo de si. Para tanto é muito importante o ser buscar a energia até que um dia se sinta integrado à ela e não como algo a ser incorporado a si. Como a integração da condição de Ser depende daMente, e sendo esta limitada, então o ser busca formas de conseguir a energia como se fosse parcelada, não importando de que modo o faça, donde ele tira as parcelas. Na verdade seria ótimo se ele buscasse se sentir a própria energia, mas na prática o que ele busca é exatamente o inverso, integrar a energia a si, configurando assim um processo egoístico, individualista, e o modo como isso é feito, em vez de unificar ele diversifica; em vez de unir, separa, mesmo que tudo isso seja altamente ilusório.

Tudo no mundo, direta ou indiretamente, gira em torno de interação de energia, pois no fundo é isso o que interessa não só aos seres humanos, mas a todas as expressões de existência no Cosmos. Essa busca de energia, em síntese, é a busca do retorno ao estado energético da manifestação do Ser, mas no geral é uma luta de conquista. Buscar energia é buscar a volta à condição de Ser, movido pela força de integração Cósmica, destruição da ilusão de divisibilidade, mas acontece que isso é feito de forma errada, pois o ser não busca sentir a energia como sendo parte de si – energia em si –, mas incorporar a energia vindo de fora, como se ela não fosse apenas um aspecto de sua própria natureza.

As religiões quase não falam da energia em nível Cósmico, elas não falam do porquê das chamadas e tentações, das possessões e de tudo o mais que compõe o corpo doutrinário delas, baseado em pecados, culpas e condenações. Todas as religiões falam das maldades de satanás ou equivalentes, das maquinações maquiavélicas dele visando conquistar as pessoas, mas não indagam o porquê dele ter tanto interesse nisso. Por que ele deseja conquistar as almas, o que ele vai fazer com elas? Que utilidade elas têm para o maligno? Não é fácil se entender no que um espírito pode ser útil ao demônio. O que uma alma tem a oferecer ao senhor dos infernos? As religiões não dizem porque ele estimula ódios, maldades e um tanto de aberrações de sentimentos dos mais distintos tipos. Segundo o pensamento religioso no final de tudo isso restaria uma incomensurável legião de almas condenadas pelo eternidade. Mas pergunta-se: para que isso? Que finalidade tem? Num sentido oposto, o mesmo se pode dizer de Deus dualístico; o que Ele ganha com a conquista das almas, o que fará com elas, que utilidades elas têm para Ele? Uma incomensurável legião de almas sem qualquer utilidade que possamos entender. Seria somente para ficarem por toda a eternidade simplesmente cantando hinos de louvores? E nisso onde fica o tédio? Ou seria para mostrar a satanás que venceu, ou vice versa. Como aceitar um deus de disputa, um deus atuando em competição com outro poder? Onde então a Perfeição Divina?

Não é assim a maneira como o unista entende, não é assim o pensamento unis tico quando ensina que no final – se é que existe final – tudo volta à Unicidade, ao Um que é o próprio Deus. Nem sequer afirma que existe volta ao UM e sim que existe a ilusão de separação que precisa ser eliminada. Não existe luta de conquista encetada pelo satanás ou por Deus, o que existe é a dissipação dos véus que envolvem a mente fazendo com que cada um ser esqueça Quem ele na essência. Os sete níveis de Deus conforme a mente humanizada entende, um deles é o da energia, daquilo que estrutura tudo quanto existe, e que é sentido ilusoriamente como concretitude ou como abstração.

Tudo no universo visa conquistas, ou transferências de energia, mas isso não é uma determinação de Deus, e sim uma forma de Sua manifestação, algo como um bulício no seio da própria energia. Ela é una, não existem duas, mas mente divisionária aparentemente divide a energia, fazendo com que ela se pareça múltipla e assim a mente joga com partes, faz com que pareça haver uma integração, interferências energéticas e coisas assim. Faz com que num nível superior – nível mental – existam corpos energéticos independentes, quando na realidade tudo são manifestações desse aspecto de Deus.  Não negamos que existam interações energéticas e tudo o que a ciência preconiza, mas o Unismo diz que isso é apenas um jogo de partes mentalmente criadas, desde que diante de um universo mental, isso quer dizer que tudo aquilo que é percebível ou entendível pela mente humana fracionada, se trata apenas de aparências quando é “visto” do “É”[1].

Temos que convir, ainda estamos distantes de nos sentirmos integrados ao Um, estamos integrados a um nível de percepção em que a energia parece ser algo distinto, algo que existe fora e nos levando a pensar que ela é uma coisa exterior ao contexto da natureza do ser, a algo distinto da nossa natureza divina intrínseca. Nenhum aspecto de Deus está parado quando em manifestação, tudo se movimenta porque o movimento é um dos esteios da ilusão do existir fora da Unicidade. Assim podemos dizer que a energia se movimenta, que nela existe um inconcebível bulício, mas isso faz parte do perceber fracionadamente, pois se nos fosse dado perceber em totalidade a energia não teria movimento algum. Todas as interações de energia são movimentos, que são reais dentro dos limites da Imanência, portanto, condições de percepção criadas pela Mente. Mas acontece que o ser, limitado, vê em tudo quanto existe em geral, e na energia em particular, um estado de descontinuidade em que uma parte vive querendo se apossar da outra, formalizando a luta tremenda do existir no descontinuo.

A condição de existir como descontinuidade faz com que a pessoa se sinta separada da energia, porque ela ainda se sente separada de Deus. Se formos seres que se sentem separados um dos outros, e também da energia, e como energia é o combustível de todas as atividades, então se entende porque a vida se resume a uma luta de conquista de energia, ou seja, a uma peleja de captação energética, um adquirir energia, e o que é pior fazer isso de uma forma egoística, mantendo viva a ideia se separação da pessoa com o “É”.

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[1] O "É" significa o Infinito, o Eterno Agora, a Consciência Cósmica, em que todas as possibilidades cósmicas de existência estão eternamente registradas, as quais, quando acessadas pela Mente - UMa expressão do É - dão aparente origem ao Universo.

Mundo Imanente e Mundo Transcendente

                                                                             JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO — F.R.C.

Tema 995
1999 - 3352

“Não há solidão real. Todos estamos impregnados do viver com os outros."
— Valter da Rosa Borges. 

A maioria das pessoas jamais indaga sobre a existência de outros mundos além deste onde estamos, contudo também há uma fração que fala de outros mundos, mas no sentido de lugares chamados inferno e céu, porém sem que haja qualquer preocupação em situar tais lugares. Também existem aqueles que estendem um pouco mais o limite de indagação, e chegam ao nível da existência de diversos planos, entre eles o mundo denominado de astral, mas sempre dentro da conceituação de que todos eles são apenas níveis de um mesmo universo.

Na verdade existe grande confusão em torno daquilo que se conceitua chamar mundo, por isso vamos tentar esclarecer e situar as coisas de forma clara.

Para muitas pessoas ligadas a algumas religiões, prevalece a ideia de que o céu significa simplesmente um estado de espírito, uma condição mental, mas possivelmente a maior parte delas chega mesmo a acreditar que inferno e céu são lugares físicos, concretos, objetivos. Por certo tais pessoas nunca indagaram a respeito da localização desses lugares. Pelo que ensina o ortodoxismo católico, por exemplo, tratam-se de lugares físicos, fora deste mundo objetivo que vivenciamos.

Com os avanços da ciência, começaram as inquirições a respeitos de planos em dimensões paralelas, chegando a própria física a admitir a possibilidade da existência não só de dimensões além daquelas que conhecemos e vivenciamos, mas também de outras, e mesmo de universos paralelos. Mas tais universos paralelos sugeridos pela física corresponderiam àquilo que as religiões descrevem como inferno e céu? Também fica no ar a indagação sobre o surgimento de tais planos. Seriam eles inerentes à creação deste universo, ou algo independente dele? – Se realmente existirem as dimensões paralelas, a hipótese mais provável é de que elas hajam aparecido concomitantemente com aquelas básicas que conhecemos, ou seja, elas seriam partes integrantes deste universo.

Agora são de certa importância duas indagações a respeito deste universo, que, por muitos, é chamado de “universo dialético”. Pessoalmente preferimos usar como denominação a expressão “mundo imanente”. Seria ele eterno ou temporário? Pelo que falam as religiões, e a própria astrofísica, ele teve um início, houve um momento considerado o início da creação, momento esse que as religiões denominam de “Fiat Lux”, e a astrofísica fala do Big Bang.

Desde o período védico, na Índia, diz-se que, antes que este universo existisse, já existiaBrahman, sendo Este um “Princípio Incriado” (eterno).

De uma forma ou de outra, o conceito que dualisticamente prevalece é o de que houve uma creação, e isto nos força fazer a seguinte indagação: A partir de Quem, ou do que, se originou a creação? De um “nada” absoluto? – É muito difícil se poder entender que, de uma inexistência absoluta, origine-se algo. A Teoria Quântica diz que, antes de tudo, deve ao menos haver existido “informação”. Em outras palavras: onde nada existe há informação.

Quer consideremos um Creador, ou um algo que possa ser conceituado como informação, a partir do que procedeu a creação, vale a indagação: Qual a localização do elemento creador antes do surgimento deste mundo? Evidentemente, como não existia o universo que conhecemos e que chamamos de “mundo imanente”, é claro que este não existiu num plano paralelo inerente ao próprio universo, ou seja, num daqueles planos mencionados como integrante do nosso mundo.

Na verdade, as religiões védicas em geral, assim como a própria ciência, dizem que tudo surgiu de um ponto adimensional, portanto sem espaço algum. Mas é óbvio que ele existia em lugar algum, pois, não havendo universo, não havia lugar. Mas, ao mesmo tempo, ele existia, pois deu origem ao universo. Poder-se-ia dizer que o agente creador existia numa dimensão paralela, mas queremos afirmar que tal não seria possível, a não ser que se entenda como dimensão paralela algo que não pertence diretamente ao Cosmos. Se pertencer ao universo é óbvio que não pode se tratar de um plano de creação transcendente, por ser apenas parte do universo, evidentemente algo surgido depois da creação.

O raciocínio que temos desenvolvido nesta palestra nos conduz à admissão da existência teórica de dois mundos, sendo um deles imanente, ou seja, resultante da creação, e o outro transcendente, aquele a partir do qual procedeu a creação.

O Hermetismo estuda certos princípios básicos, sem os quais não poderia existir aquilo que se chama universo físico, ou seja, princípios físicos, que caracterizam o mundo imanente. Agora vamos conjeturar sobre o limite entre esses dois mundos, ou seja, onde termina um e começa o outro. Conforme se sabe, um deles, o imanente, se caracteriza pela manifestação dos Princípios Herméticos, enquanto o outro não, pois que neste tais princípios apenas podem existir como potenciais. Diante disso poderia se dizer que o limite do imanente pode ser assinalado pela presença dos princípios herméticos em ação. Mas a inquirição persiste: quando ou onde os princípios têm início?

O nosso objetivo, nesta palestra e na seguinte, é analisar a existência ou não de um limite separativo entre os dois mundos, o imanente e o transcendente.

Até mesmo para a astronomia existe um limite para o tamanho do universo, o que quer dizer que ele nem é eterno em tempo – pois teve começo – e nem infinito em espaço – ocupa uma área. Segundo as hipóteses astronômicas, o universo ocupa uma área correspondente a um diâmetro que a astronomia admite ser dentro de um limite entre 12 a 20 bilhões de anos luz. Em decorrência da relação espaço-tempo, este também seria o limite em tempo medido a partir do Big Bang (tempo zero e espaço zero).

O que existiria então além desse limite de tempo e de espaço? – Uma incógnita, pois o espaço só existe no mundo imanente, a própria doutrina einsteniana nos fala do espaço-tempo. Além daquela fronteira não poderia existir espaço vazio, e, mesmo que pudesse, continuaria válida a indagação de até onde vai aquele espaço vazio, qual o seu limite. Vemos que dizer que, além do universo delimitado segundo a ciência, existisse o espaço totalmente vazio; isto não nos auxilia como resposta, pois isso seria uma maneira de transferir a indagação do onde se situa o limite do universo físico para do onde o do espaço vazio. Uma das respostas seria o espaço vazio ilimitado. Mas sendo assim ele seria infinito, e neste caso, ele teria que ser aceito como sendo o próprio Deus, pois, como já dissemos muitas vezes, o infinito tem que ser o próprio Deus, caso contrário Este estaria contido no infinito e algo contido não pode ser absoluto. Assim, o Deus – contido – não seria o absoluto, pois além d’Ele haveria o Infinito – continente.

Terminaremos aqui esta palestra, pois o assunto é bastante delicado, pelo que requer grande atenção e acuidade mental, para ele poder ser devidamente acompanhado no que estamos querendo fazer, que seja sentido. Assim, damos um intervalo, a fim de que primeiro seja bem sentido o que acabamos de expressar.

Thoth e o Monismo

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.

thoth
Tema 858
1998- 3351

“A absoluta unidade de Deus está manifestada na imensa variedade de mundos."

Já escrevemos sobre Toth, considerado pelos antigos egípcios como um Deus, ao qual mais tarde os gregos deram o nome de Hermes, o deus da sabedoria, e passou à história com o nome de Hermes Trismegistus. Nas Primeiras Dinastias, ele era conhecido pelo nome de Imhotep, o escriba.

Estamos nesta palestra aprofundando os ensinamentos de Toth, pois dezenas de palestras recentemente escritas têm versado sobre os princípios deixados por Ele.

O valor de Toth é imenso no que diz respeito ao desenvolvimento espiritual neste atual ciclo, pois foi ele que mostrou as características do universo e a sua origem única. Trata-se de uma das esplêndidas manifestações em forma humana que a humanidade teve o privilégio de receber, pois, na verdade trata-se de uma, entre outras, manifestação direta de Deus na terra.

Verdadeiramente, neste atual ciclo de civilização, até a vinda de Toth, não havia nenhum povo que adotasse o monoteísmo[1]. Os diversos povos sempre tiveram vários deuses, existiam panteões repletos de deuses dirigindo cada tribo, cada profissão, ou representando os mais diversos tipos de sentimentos.

Atualmente, dizem que quem primeiro aceitou o monoteísmo foi o povo Hebreu, mas na verdade isto é um ponto que precisa ser bem esclarecido.


O Egito, muito antes dos hebreus haverem chegado lá, já havia a idéia de um Deus único, com base nos ensinamentos de Toth. Evidentemente os hebreus de então já admitiam a existência de um único deus, mas segundo uma visão dualística, em contraposição os herdeiros de Toth tinham uma visão essencialmente monística. Na verdade, no mundo ocidental, tem-se a idéia de que o monoteísmo, a crença num único Deus, deve-se aos Hebreus; isto é verdade, mas não o Monismo, doutrina esta que Moisés, embora haja dela se inteirado quando viveu na corte do Faraó, não a endossou, pois de forma alguma se tratava de uma doutrina que atendesse aos interesses do deus dos Hebreus. Embora Moisés houvesse tido conhecimentos sobre a natureza monística do Universo, ainda assim ele persistiu na doutrina monoteísta[1], que era uma forma bem adequada ao poder dominante no seio dos Hebreus.

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Mesmo que no Egito haja proliferado um sem número de deuses, isto foi decorrência natural de uma civilização que perdurou por milhares de anos e também por inúmeras outras razões. Toda religião, toda filosofia, ao longo do tempo, acaba por degenerar, especialmente quando fere interesses da conjura ou do “terceiro interesse” – força inferior. Não é de se esperar que haja sido diferente no Antigo Egito.

Em verdade, não pode ser negado que o monismo fere diretamente os interesses da força inferior, desde que ela só pode imperar segundo uma concepção dualística. Ela intitula-se de chefe, de “senhor de exércitos”, e, sendo assim, não pode admitir ser parte de uma mesma natureza. Aquele que se intitula de rei necessita de vassalos. Sem vassalo não existe rei.

Não é difícil falar sobre o monismo, o difícil é vivenciá-lo…

Tem que haver uma nítida separação entre deus e seres para que possa se falar em senhor, em soberano, ou em algo semelhante. Não tem sentido qualquer ser comandando a humanidade, se esta for parte integrante dele, por isso a filosofia monística não atende aos requisitos satânicos.

Indubitavelmente, o dualismo é o sistema que mais eficientemente se presta ao atendimento da condição de senhor e servo, duas condições distintas. No Monismo, tudo é Um, portanto na essência não existem condições de servo e senhor.

Realmente o dualismo é a linha filosófica que mais serve aos que se consideram senhores ou deuses, estes precisam do dualismo, sem o qual eles não têm sentido algum.

O sistema dualístico é o preferido dos que precisam se impor, mas isto só não atinge o Monismo. O Monoteísmo também é vulnerável a usurpações, desde que estabelece uma separação entre o Creador[1] e a creação. O Monoteísmo diz existir um só Deus Transcendente, embora não o coloque como a realidade única. Para o monoteísta o mundo foi creado do nada por Deus, ao passo que para o monista o mundo veio do Todo.

Só no Monismo não tem lugar para um senhor separado do servo, assim sendo não tem como um ser colocar-se no lugar da Força Superior, assumir a Sua identidade, como já aconteceu muitas vezes. No monismo Deus, em sua expressão máxima, não tem nome, e a Ele não podem ser atribuídas quaisquer qualidades, pelo que é simplesmente Inefável. Desta maneira, não tem como alguém, ou algo, usurpar-Lhe o lugar, mesmo porque Nele estão englobados todos os potenciais.

O Peregrino da Senda percebe o sentido velado dos ensinamentos…

∴ ∴ ∴

Tem-se alegado que, no Antigo Egito, só existiu o dualismo, em sua forma menos elevada, o Panteísmo. Na verdade foi onde mais proliferaram deuses, mas isto não implica que não haja existido em nenhum momento o Monoteísmo, a não ser num curto período do Faraó Amenophis IV. Isto não é verdade, porque, na realidade, o ensinamento deixado por Toth (Doutrina Hermética) é totalmente direcionado ao Monismo. Até podemos concordar que o Monoteísmo só haja existido com Amenophis IV, pois que, na realidade, o que paralelamente existiu com o dualismo e o panteísmo foi o Monismo.

Uma das mais significativas contribuições ao desenvolvimento do conhecimento metafísico do Universo diz respeito aos ensinos de “Hermes”. Eles refletem o mais puro Monismo, mas acontece que os ensinamentos por ele deixados perderam-se em sua grande parte, especialmente quando da destruição da Biblioteca de Alexandria, em obediência aos preceitos obscurantistas.

Desde que o obscurantismo passou a direcionar a conduta da sociedade humana, especialmente através das religiões, os ensinos herméticos foram banidos, restando apenas citações ligeiras em alguns hieróglifos, gravadas em papiros e pedras. Ao nosso tempo chegaram apenas quatro obras ao alcance dos não iniciados, conhecidas pelo nome de Kybalion (O Caibalion)[2], “Pistis Sophia” e “Corpus Hermeticum” (Conteúdo da Tábua da Esmeralda). O Caibalion é uma obra que não foi diretamente escrita por Toth, mas sim em época bem mais recente, como forma de divulgação dos seus ensinamentos pela V∴O∴H∴ [4]

O mencionado livro não existe disponível em sua totalidade, mas existe um pequeno resumo dele também intitulado Caibalion, o qual assinam Os Três Iniciados, isto porque, na realidade, nenhuma pessoa pode por direito dizer-se autor dessa obra.


É impressionante o número de obras esotéricas que ora estão sendo vendidas no mundo. Trata-se de um tremendo emaranhado de informações, em sua grande maioria inautênticas, ou mesmo intencionalmente direcionadas para determinados fins. Por isso é preciso separar o joio do trigo. A obra que mencionamos antes pode com certeza ser catalogada como trigo. Na realidade trata-se de um resumo do que consta no Original, que é uma obra reservada aos membros da Veneranda Ordem Hermética.

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Desde priscas eras, os conhecimentos de Toth estão baseados nos chamados Sete Princípios Herméticos, mas devemos revelar que esses ensinamentos estendem-se bem mais. Muito do que Toth ensinou foi destruído no incêndio da Biblioteca de Alexandria, mas algumas Escolas de Mistérios preservaram grande parte dos ensinamentos que agora estão sendo divulgados.

Estão sendo organizados grupos de estudos herméticos em diversos lugares, visando o aprofundamento dos estudos da Ordem, contudo toda vigilância é pouca, porque o obscurantismo, a conjura, não se extinguiu, e menos ainda o “terceiro interesse”.

Um cuidado que se deve ter é identificar a autenticidade das organizações, e, mesmo nas organizações sérias, deve ser mantida vigilância, para não permitir que sejam dominadas pelo obscurantismo.

Sem dúvidas, cada princípio hermético encerra conhecimento de altíssimo nível, não se tratam de níveis relativamente simples. Neles estão contidos ensinamentos do mais alto nível metafísico.

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VEJAM OS QUE TÊM OLHOS PARA VER…

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[1] Monoteísta: admite um só Deus. Monista: admite que tudo quanto haja é uma expressão do próprio Deus.

[2] Temos usado o nome creador para fazer distinção. Crear é gerar, e criar é cultivar. A mãe, por exemplo, crea o filho no útero e o cria no lar.

[3] Conforme cita Rohden, Kybalion é uma palavra derivada do mesmo radical Kybele, ou Cibele, divindade fenícia que simboliza a luz. Portanto Kybalion seria, pois, um luzeiro, ou seja, um farol para guiar a humanidade na sua longa jornada rumo ao Infinito. Outras duas obras: Corpus Hermeticum e Tábula Esmeraldina.

[4] Sigla em português da autêntica fonte de ensinamentos herméticos.