JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO — F.R.C.
Tema 692
1997 - 3350
”A verdade só pode ser atingida pela experiência de cada um".
A conhecida como Tábua da Esmeralda é a lápide, a pedra sepulcral, repleta de hieróglifos e símbolos, sob a qual jazia intacto o corpo de (Thoth) Hermes Trismegisto. As primeiras palavras gravadas na lápide são: É Verdade! É certo! É a Verdade toda! – A seguir vem dizendo: “O que está embaixo é como o que está em cima, a fim de que as maravilhas do Uno se realizem. E assim todas as coisas se fizeram do Uno, através de um mediado; assim todas elas nasceram desse único casamento.”
Essa é a primeira referência ao Princípio da Correspondência, um dos sete Princípios Herméticos.
No tocante aos Ensinamentos Herméticos, os normalmente citados como Os Sete Princípios são apenas os básicos, mas, tendo um bom entendimento a respeito deles, o discípulo, pela meditação, ou pela análise racional, chega a outros princípios de um conjunto maior, integrantes da natureza das coisas; chega à compreensão da natureza da creação.
Não é fácil se chegar a níveis de conhecimentos herméticos sem que se tenha uma idéia sobre os Sete Princípios. Compreendendo-os, fica mais fácil se penetrar em outros ensinamentos mais elevados. Os que estudam e meditam sobre eles logo percebem a existência de mais alguns Princípios inerentes à natureza da criação, sobre a Natureza Cósmica, e que não são mencionados entre os Sete, razão pela qual não são diretamente descritos na literatura hermética e nem diretamente ensinados, pois é ao discípulo que cabe descobri-los.
Chegar ao entendimento dos Princípios Herméticos que transcendem aos clássicos deve ser uma descoberta pessoal e, podemos dizer, bem enriquecedora. Descobri-los é algo como receber uma Iniciação de elevado nível, a partir do qual um novo e vasto portal é aberto ao buscador.
Entre os Princípios não revelados, um deles é de natureza inefável, pois não há forma alguma de ser verbalizado, de ser descrito ou comentado a seu respeito, mas que pode ser sentido. Não há como defini-lo, mas pode ser sentido, é até mesmo considerado o mais evidente de todos. Os Princípios Herméticos não revelados podem ser descobertos pelo pensamento, pelo raciocínio.
Segundo algumas Escolas Herméticas sérias, o discípulo, quando descobre os Princípios não revelados, preenche o Primeiro Grau Hermético, tendo, então, o direito de receber um sinal de identificação. O Princípio Inefável completa os Princípios em que se estabelece toda a Criação. O Princípio Inefável, aquele que se recebe pelo sentimento, é muito significativo. Um discípulo que haja tido o merecimento de percebê-lo vem a ter algo que aos olhos profanos é imperceptível, mas não aos olhos de um Iniciado Maior.
A Escola Hermética à qual estamos nos referindo dá ênfase ao segredo relativo aos Princípios não revelados. O Mestre pode orientar e conduzir o discípulo ao descobrimento, mas não deve revelá-los e nem especificamente descrevê-los. Ai daquele que o fizer, ai daquele que usar de subterfúgios para descobri-los. Reza a Tradição que, de forma nenhuma, essa pessoa receberá o Princípio Inefável, e, sem ele, não há como penetrar nos Mistérios Maiores. Aquele que recebe o Princípio Inefável pode ser considerado um Iniciado Maior, e para ele estarão abertos os portais dos Ensinamentos Secretos de Thoth.
O Primeiro Grau da Ordem Sagrada de Hermes[1] visa levar o discípulo à compreensão dos princípios básicos da natureza do Universo. Quando ele atinge esse nível, iniciam-se os ensinamentos sobre a criação propriamente, baseados no Corpus Hermeticum, um dos livros que faz parte da Tábua da Esmeralda.
Na Idade Média muitos trabalhos sobre o Hermetismo foram escritos, alguns deles baseados em conhecimentos autênticos, e que chegaram até nossos dias, através de documentos escritos em grego e em latim. Sem dúvida alguma, muitos deles revelam segredos da natureza e da Criação do mundo. Nesses documentos estão contidos ensinamentos que levam, até a seus possuidores, conhecimentos essenciais sobre a própria natureza de Deus.
Sobre a origem da Tábua de Esmeralda existem vários mitos[2], sendo o mais conhecido um que já era narrado pelos gnósticos dos primeiros séculos, e que deve ser entendido num sentido simbólico. Esse mito diz assim: “Antes de ser criada a terra, o chefe dos anjos do Altíssimo, antes de se tornar o chefe dos anjos caídos, tinha uma esmeralda na testa, localizada na posição do “terceiro olho”. Contudo, quando ele rebelou-se contra Deus, aquela esmeralda partiu-se em 3 partes. Uma das partes permaneceu lá, mas, como havia se rompido, desde então aquele ser deixou de ter visão clara. A jóia rompida passou a dar-lhe uma visão deformada, e que é a única que lhe resta ate hoje. Outro pedaço que caiu criou os mundos do Caos, e, a meio caminho entre o Céu e o Inferno, caiu na terra[3]. O terceiro pedaço caiu no Astral, que os Iniciados costumam denominar de Caos Filosofal, criando o Caos dos Sábios, que, para os puros, é o céu, o potencial da criação de todas as coisas, e que, para os que têm a visão impura, é o fogo do Inferno, e a Geena.”[4]
Diz a Tradição que, no terceiro pedaço, foi escrito o texto fundamental de todos os ensinamentos herméticos, base de todo esoterismo e ocultismo antigo, e que, segundo a Tradição Ocultista Ocidental, foi escrito por “Hermes” Trismegisto.
Uma parte do texto, escrito na Tábua da Esmeralda, é conhecida pelo nome de CorpusHermeticum, também conhecido como Discurso de Iniciação, pois nele constam alguns diálogos iniciatórios entre Hermes e seu filho Thath e Asclépius.
O desenvolvimento dos ensinamentos contidos no Corpus Hermeticum constitui a base de alguns dos graus iniciais da Ordem Sagrada de Hermes.
O Corpus Hermeticum inicia-se com um diálogo entre Thoth e um ser denominadoPimandro (Poimandres). Parte desse diálogo é normalmente ensinado de forma exotérica, contudo há níveis mais elevados sobre ele; somente têm acesso aqueles que hajam atingido o Primeiro Grau.
Nesses livros estudaremos partes de um estudo sobre os ensinamentos esotéricos contidos no Corpus Hermeticum.
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[1] Tradução portuguesa do nome latino de uma milenar Escola Hermética. Na Idade Média floresceram muitas organizações, que buscavam descobrir o segredo da unidade das coisas. Assim houve inúmeras organizações dedicadas ao estudo do Hermetismo, especialmente sob a forma de Alquimia. Muitas não chegaram a lugar algum, mas houve aquelas que atingiram objetivos válidos. Assim, nos dias atuais, ainda encontram-se remanescentes daquelas escolas iniciáticas, que ensinavam autênticos conhecimentos herméticos, a par de tantas outras que apenas agem como vendedores do grande “mercado das ilusões”.
[2] Por trás de um mito sempre existe uma parcela de verdade, pois muitas vezes um mito representa uma forma de linguagem velada.
[3] Mais tarde, quando surgiu o “Mito” da Távola Redonda - Rei Artur - foi dito que na parte da esmeralda que caiu sobre a terra, foi esculpida a Taça na qual foi recolhido sangue de Jesus agonizante, constituindo-se o Santo Graal, alvo da busca dos Cavaleiros da Távola Redonda.
[4] Gehenna (Hinon, em hebraico). Não significa o inferno, mas, conforme o profeta Jeremias, um vale próximo a Jerusalém, onde os israelitas imolavam seus filhos a Moloch.