JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO — F.R.C.
Tema 69
1975 - 3328
“A realidade nada mais é do que a forma com a qual vestimos a todo instante o sonho da existência.”
Para um místico e metafísico sério, é imperativo o conhecimento de certas nuances da mente, bem como de certas características do universo, onde ele desempenha a sua missão cósmica, porque muitos fenômenos com que se defronta envolvem condições especiais ligadas à natureza daquelas duas coisas.
Na palestra anterior comentamos que os universos relativos podem ser inúmeros, tanto quanto forem as combinações possíveis de percepções.
O que é o universo para nós senão o resultado de todas as percepções que os sentidos enviam para o cérebro? Alterando-se tais percepções o universo de um ser se apresenta diverso do de outro.
Suponhamos uma pessoa dotada de um órgão a mais. Por certo aquela pessoa tem uma conceituação, uma “visão” diferente do universo. Aqui mesmo na terra alguém que percebesse diretamente as ondas de rádio teria um universo bem diferente do nosso. O daltônico, como já dissemos em palestra anterior, vê tudo aquilo que para nós é verde como sendo avermelhado, e assim sendo, o universo dele já difere do nosso.
Baseados nas percepções dos seres, podemos dizer que o universo de que participamos não é o único, pode haver tantos outros quantos forem as percepções individuais.
Se considerarmos este universo como sendo comum para todos os seres que nele vivem, se ele parece UNO é tão somente porque há coincidência de detecções de ondas, há faixas de ondas detectadas simultaneamente pelas pessoas que nele vivem. Há faixas de ondas identicamente percebidas, há pontos (ilhas) comuns em grande quantidade, havendo somente pequenas diferenças de uma pessoa para outra. A “ilha” de percepção soa a mesma para todos, e as discrepâncias são mínimas, podendo ser consideradas desprezíveis, para uma mesma espécie de seres.
Por outro lado, o homem e um pardal, por exemplo, convivem num mesmo planeta, mas, mesmo assim, embora compartilhando de um mesmo universo absoluto, o universo de um é totalmente diferente do outro. A diferença é tão grande que, se alguém hipoteticamente se transformasse num pardal, por certo não reconheceria praticamente qualquer das coisas que lhes eram antes comuns, e vice-versa. Notem bem, entre o homem e o pardal ainda existe grande número de percepções similares, de “ilhas” comuns. Pensemos, então, entre dois animais bem diferentes em percepções.
Na medida em que as faixas vibratórias percebidas por cada ser ficam mais distanciadas, os pontos comuns de percepção vão ficando mais incomuns, os pontos de semelhanças vão diminuindo, a tal ponto que surge um limite aquém ou além do qual não há detecção alguma em comum, e assim, embora eles vivam num universo absoluto comum, mesmo assim eles têm universos relativos diferentes. Essa situação pode chegar a um ponto tal em que um ser pode como que inexistir para um outro. Inexiste por não ter pontos de percepção comuns.
Temos um exemplo disto bem perto de nós. Durante séculos o homem viveu com seres em número que lhe era muitíssimo superior, os micróbios. Embora aquele mundo, o dos micróbios, existisse realmente, mesmo assim o homem nunca se apercebera dele. Ele só veio a tomar ciência disto casualmente, após a descoberta do microscópio. Antes, no máximo, nós poderíamos suspeitar da existência de algo estranho, por ações que os microrganismos provocavam. Não era possível detectá-los com órgãos sensoriais, por isto o homem não os conscientizava. O tato, a visão, a audição, o olfato, eram insuficientes para captar diretamente qualquer informação sobre a existência dos micróbios, por isso praticamente eles não existiam para o homem. Vejam bem, um reino vivo, constituído por um número imensamente superior ao animal, e o homem nem sequer suspeitava que existisse fora e mesmo dentro de si.
Mas os micróbios ainda não são o limiar, existem outros seres que convivem aqui e que ainda não foram detectados. São seres que têm as suas atividades em limites além ou aquém das percepções humanas. É possível que um dia sejam criados instrumentos que os detectem, mas até então é provável que convivamos com eles sem que ao menos suspeitemos.
Todas essas variações estão ainda dentro dos limites de frequências vibratórias em que existem algumas realidades semelhantes.

Figura 1
Os seres que tivessem percepções como podem ser vistas no gráfico da fig. 1 teriam possibilidade de parcialmente se perceberem mutuamente, mas, se não houvesse “ilhas” comuns, neste caso seria totalmente impossível que um grupo de seres tivesse ciência da existência de outros. Seriam universos tão diferentes entre si que se tornaria impossível o estabelecimento de pontos de contato entre eles.
Em continuação, devemos tecer algumas considerações, a respeito da capacidade que a mente possui, para alterar os padrões vibratórios comuns. Qualquer fenômeno só pode ser detectado quando há batimento de ondas, ou quando há ressonância entre as suas vibrações. Disto resulta a sintonização através dos órgãos sensoriais, e em certas situações diretamente graças a certas faculdades cerebrais pouco conhecidas. Para a detecção, os órgãos sensoriais estabelecem uma sintonização fixa para determinadas faixas que são percebidas de várias maneiras (som, luz, odor, etc.). Se algo não vibrar na frequência para a qual o órgão está sintonizado, então o evento deixa de ser detectado, e consequentemente também deixa de ser conscientizado.
Existem outras faculdades da mente que tornam isso muito mais efetivo, pois o cérebro é capaz de alterar a sua própria sintonia, tal como se ele fosse um receptor radiofônico.
Nos rádios receptores, há a possibilidade de uma sintonização progressiva para inúmeras frequências (estações), graças a um dispositivo especial denominado condensador variável. Os primitivos receptores, denominados “baixo falantes”, não sintonizavam mais do que uma estação (rádio galena). Sintonizavam só aquelas em que mantinham sintonização fixa. Posteriormente, graças ao circuito de condensador variável, surgiram os receptores que captavam várias frequências de radiodifusão, mudando à vontade a sintonização.
Os órgãos sensoriais operam de forma idêntica aos receptores de frequência fixa (rádio de galena), enquanto que o cérebro pode operar com o receptor moderno, que altera a sintonia própria, e assim capta inúmeras frequências. Disto advém que o cérebro é o mais perfeito conversor de frequências que existe, tem capacidade muito superior a qualquer receptor mecânico que existe. Ele sintoniza muitas frequências diferentes diretamente mesmo fora das faixas comuns aos sentidos.
Graças à capacidade referida é que ao cérebro é possível sintonizar outros universos relativos, e há a possibilidade de que ele até mesmo possa entrar em sintonia com algum universo absoluto diferente deste, se é que eles existem realmente.
Quando o cérebro sintoniza a resultante de outro universo, ele se torna capaz de ter percepções daquele mundo. Esta captação, dependendo da frequência sintonizada, tanto pode ser de universos relativos que têm certas relações com o nosso (como o do pardal, que usamos como analogia), ou de outras vibratoriamente muito distantes de todas as nossas realidades físicas.
Dois pontos merecem ser assinalados agora. A transferência material entre dois universos só é possível se eles tiverem resultantes vibratórias múltiplas entre si, e só nos momentos e pontos em que ocorrem batimentos de ondas é que tal evento poderia ocorrer.
Em se tratando não de uma transferência material que só pode ocorrer em pontos de interseção de ondas, a mente pode penetrar também em universos relativos pela modificação da sua sintonia própria.
Os estudiosos das “ciências herméticas” sabem que muitos planos, muitas realidades diferentes das nossas, podem ser detectadas pela mente. Eles sabem da existência de mundos diferentes deste, e que cada um deles se comporta de uma forma peculiar. São aqueles mundos exatamente os que chamamos Universos Relativos.
Percebe-se que os universos relativos sintonizados pela mente podem ser totalmente diferentes deste, algumas leis físicas também podem ser diferentes, e até o próprio tempo pode fluir em ritmo diferente.
Muitos daqueles universos relativos são frequentemente citados como mundo dos elementais, mundo astral, mundo mental, mundo dos Djins, mundos dos Gênios, das Fadas, etc. Seria cansativo enumerar muitos outros universos relativos aos quais podemos ter acesso, mediante um treinamento místico adequado.
Em muitos casos não é nenhuma alucinação quando alguém refere vivências em mundos diferentes e mesmo estranhas, assim também pode não ser fantasia quando os adeptos de algumas doutrinas dizem coisas a respeito de situações vivenciadas.
Igualmente não é apenas fruto da “mente fértil das crianças” quando elas falam de fadas e de duendes.
Por fim temos que aceitar também que certos pacientes tidos como esquizofrênicos na realidade são apenas indivíduos cujas mentes são facilmente levadas à sintonização de realidades de universos relativos diferentes. Tentem entender algumas dessas pessoas sob esse aspecto, tentem escutá-las, para sentir que nem todas elas são doentes. Visto sob este prisma se pode ver o quanto de coisas interessantes elas dizem.
Embora em torno de nós existam inúmeros universos relativos acessíveis, contudo ainda muito pouco se sabe a respeito deles, mesmo porque as pessoas que os vivenciam geralmente são cautelosas, evitando falar a respeito para não serem taxadas de malucas. Quando alguma pessoa fala a respeito deles, de coisas que vivenciou, logo aquilo que diz é posto em dúvida, e ela está sujeita a ser catalogado como mais uma assim.
É possível, mas não é muito fácil se ter percepções claras dos universos relativos, pois, para se penetrar neles, é necessário que a mente vibre no padrão característico de cada um deles. Este tipo de penetração não diz respeito a uma transposição física, a uma viagem física, mas sim uma projeção psíquica, pois o corpo fica aqui mesmo, enquanto a mente entra em sintonia, estabelecendo a devida percepção.
Esse tipo de percepção igualmente pode acontecer nos sonhos. Muitos sonhos são devaneios da mente, mas inúmeros são percepções de outros planos. O mundo onírico que vivenciamos nem sempre é uma simples fantasia. Esta afirmação é algo que a ciência não aceita, mas nem por isso ela deixa de ser verdadeira. Uma parte dos sonhos é interpretação consciente distorcida do nosso mundo material, mas há uma parcela deles que resulta da penetração psíquica em outros universos de realidades diferentes.
Há uma tendência muito grande de se misturar vivências reais com fantasias, mas existem treinos especiais para que isso seja evitado e não venha a causar imprecisões quanto ao que é percebido, para que a experiência real seja separada das fictícias. Tanto o consciente quanto o inconsciente podem interferir nos mecanismos do sonho, por isto é preciso que se aprenda a separar as coisas, para que se venha a ter uma visão válida das estranhas realidades, deixando apenas aflorar a nítida consciência daquilo que realmente pertence ao plano em que se penetrou durante o sonho.
Por certo muitos perguntarão se são também reais os mundos dos fantasmas, dos espíritos desencarnados, propostos por algumas religiões. Se também são reais o mundo Astral e as suas subdivisões. Respondemos afirmativamente. Eles são universos relativos, mundos de outras realidades, mas nem por isso são eles irreais, apenas se situam em faixas de frequências diferentes daquelas que são próprias do mundo material, mesmo que estejam dentro de um mesmo universo absoluto (fig. 1).
O mundo dos fantasmas existe sim, os espíritos desencarnados estão povoando o astral, que, por sua vez, está em todos os lugares da terra. Existem ocupando outras faixas diferentes das do mundo material.
Quando uma pessoa penetra com temor num casarão velho, ou em um cemitério, ou em algum outro lugar que desperte temor, na mente dela começa a ocorrer modificações no padrão normal de vibração, e o resultado é que ela entra em sintonia com o astral próprio dos espíritos; é quando, então, os fantasmas surgem, pois o indivíduo não está vibrando no mundo que lhe é normal, e sim num outro, onde aqueles seres são bem reais. Para uma pessoa que não teme, que enfrenta qualquer ambiente sem medo, acontece que o seu padrão vibratório não se altera, e consequentemente não sintoniza outros universos relativos, por isso ela nada percebe. Não há fantasmas para quem não acredita neles, contudo eles existem realmente.
Os universos relativos têm grande significação quando se quer estudar a magia, pois muitos dos eventos ligados àquela arte encontram as suas justificativas em outros planos de existência. Os magos, bruxos e feiticeiros, em sua grande maioria, são pessoas que têm empiricamente certos conhecimentos do como operar em universos relativos. Aparentemente eles agem de forma contrária a todas as ciências conhecidas, podendo fazer coisas tanto ou quanto incríveis.
Na palestra sobre a psicometria, falamos da maneira como a magia pode atuar. Agora examinaremos as ações ligadas aos universos relativos e que são operadas através da magia. É claro que uma pessoa é tanto mais vulnerável à ação da magia quanto mais propensa ela for a aceitá-la. Nem toda ação da magia se prende à sugestão, embora esta tenha participação direta nos processos mágicos, especialmente na magia negra, em que os malefícios estão sujeitos a serem tanto mais eficazes quanto mais influenciável for a pessoa. Graças a isso é fácil o estabelecimento de meios de defesa contra os fetiches e outros processos mágicos.
Basicamente os processos de magia só são eficazes em pessoas que os aceitam ou em pessoas que vibram naqueles níveis, portanto que sejam merecedoras daquilo que lhes for endereçado. Isto acontece porque a condição básica para a eficiência de um processo de magia é a sintonia vibratória, que a pessoa se ligue mentalmente às faixas de vibrações de certas energias, para que estas possam ser canalizadas para a efetivação do processo.
A ação da magia envolve normalmente forças, poderes oriundos de outros planos de existência. Aquelas forças são capazes de atuar eficientemente, contudo só o fazem em quem as aceita ou as teme, pois, para tanto, é condição básica vibrar em sintonia com elas. Se não se acreditar nela, não acontece coisa alguma, porque, pela falta de sintonia, essa via de ação da magia praticamente deixa de funcionar.
