Prakriti e Purusha

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO  F.R.C.

Tema 941
                               1998 - 3351                               

“O que você chama de 'creação' é apenas a manifestação do Princípio Cósmico."

Em palestras anteriores, falamos que, no princípio da creação, o Inefável se manifestou inicialmente sob dois aspectos: Consciência e Fohat. Dissemos que todas as formas resultantes da energia originaram-se de Fohat, que compreende cinco essências: Akasha – Fogo – Água – Ar – Terra. Nesta palestra vamos nos reportar ao mesmo assunto, porém segundo a doutrina védica. Nosso intento é ampliar mais os ensinamentos relativos àquelas palestras, e, ao mesmo tempo, mostrar a equivalência entre os dois sistemas citados.

De início, podemos dizer que o termo Purusha tem o mesmo sentido de “Consciência”, ePrakriti o de Fohat [1], em outras doutrinas.

No primeiro momento da creação já se estabeleceu a Lei dos Opostos (Princípio da Polaridade), pela manifestação da Consciência – Purusha – em um pólo, e no outro pólo temos Fohat sob a forma dos 5 elementos – Prakriti. Como diz a “Doutrina Secreta”:Purusha e Prakriti são dois aspectos primitivos da Divindade[2] única desconhecida”. Dois princípios não criados e eternos (Espírito[3] e matéria).

O mundo material, como já vimos, é constituído dos cinco elementos (Matéria Primordial Elementar), desde o mais denso ao mais sutil, que são manifestações de Prakriti – manifestações Divinas. Por isso a doutrina diz que mesmo uma partícula atômica contém Jiva – Vida Divina – consciência.

Prakriti é a natureza material visível e invisível, potencial ou dinâmica. Compreende tudo o que resulta da energia, em contraposição a Purusha, que existe de uma forma incompreensível, que só quando se manifesta através de Prakriti é que pode ser percebido. Não se concebe alguma forma de manifestação de Purusha sem que seja através de Prakriti. A consciência só se manifesta através das coisas. A mente humana somente pode conceber diretamente as manifestações de Prakriti. Ela não percebe diretamente Purusha. A consciência existe, sentimo-la, mas não a concebemos em sua natureza e essência.

Como define Shultz: Purusha é um Princípio elementar, primordial, simples, puro, espiritual, consciente, eterno, não criado, não produtor, imutável, inativo, mera testemunha ou espectador das operações de Prakriti, e que, “como espelho cósmico”, nele reflete-se e revela-se todo o universo, ou seja, todas as mudanças que se operam na Prakriti, no curso da evolução.

Prakriti e Purusha, segundo a Doutrina Secreta: “São dois aspectos primitivos da Divindade Una e desconhecida. Em sua origem, são a mesma coisa; porém, ao chegarem ao plano de diferenciação, cada um deles evolui numa direção oposta, o Espírito no sentido da matéria e essa ascendendo à sua condição original, aquela de pura substância espiritual. Ambos são inseparáveis e, contudo, estão sempre separados. Assim como no plano físico, pólos iguais repelem-se, enquanto pólos opostos atraem-se”. Com o espírito e a matéria ocorre o mesmo.

Purusha é o espírito de vida que anima toda a matéria, que lhe dá atividade por seu contato. Todas as formas existentes, tanto os seres animados quanto os inanimados, resultam da união de Purusha com Prakriti, ou seja, do espírito com a matéria. Purusha é por si inativo, porém toda atividade de Prakriti é determinada por ele.

Segundo a filosofia Sânkhyia, cada ser tem seu Purusha particular ou individual. Isso muitas vezes tem sido mal interpretado, mas pode-se facilmente entender, desde que se considere que, embora seja UNA, a Consciência se apresenta em número inconcebível. Ela por si mesmo imanifestável, por isso necessita das diversas formas de Prakriti para poder se manifestar. Assim sendo, em certo sentido, quando em manifestação,“o número de Purusha(s) é incontável, pois cada corpo, cada ser da criação, tem seu Purusha particular ou individual” (Manual Teosófico).

Agora voltemos à conceituação de Purusha e Prakriti muito usada por algumas doutrinas orientais. Elas dizem que o Poder Superior – Brahman – se manifestou como creação sob dois aspectos distintos, porém essencialmente únicos: Purusha e PrakritiPrakriti é o lado da energia, portanto tudo quanto existe como estruturação é uma manifestação, por assim dizer, de Prakriti. A própria ciência diz que todo o universo é constituído de energia, assim, de certo modo, se pode considerar Prakriti como a energia primordial, o lado energético do universo. Por sua vez, Purusha corresponde ao lado mental, que melhor pode ser chamado de consciência primordial, a qual é a própria vida.

Prakriti se subdividiu parcialmente, formando as miríades de estruturações constitutivas do mundo imanente[4]. Prakriti é um termo para designar os cinco princípios constitutivos das coisas: Akasha, fogo, água, ar e terra.

No que tange a Purusha, ela é a própria consciência formadora, sempre presente em tudo quanto há. Purusha é a manifestação da Consciência no nível do Imanente, e Prakriti, deFohat.

Pela ilustração 1, vemos que a Consciência, dentro da creação, gera Purusha. Fohat gera Prakriti, que compreende os cinco elementos, os quais, através de uma sucessão de divisões e combinações, originam todas as coisas, nas quais o aspecto Purusha(Consciência) se manifesta. Purusha se manifesta em todos os 5 elementos e em tudo aquilo que deles deriva.

Há, pois, muitos níveis de Consciência em manifestação, mas ela não se subdivide, como acontece com Prakriti, que se apresenta como uma infinidade de divisões parciais – coisas, que envolvem consciência, mas que não são diretamente Consciência.


Segundo a Vedanta, Prakriti contém três qualidades distintas, inter-relacionadas e ativas em todos os seres. Essas qualidades são conhecidas pelo nome de Gunas[5]: Guna Sattva– Guna Rajas – Guna Tamas.

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[1] O termo FOHAT é comum a muitas doutrinas, e em cada uma tem um sentido diferente. Ele não consta do vocabulário do Hermetismo, mas vamos usá-lo porque aquele “meio” no qual a Consciência se manifesta do Nível Transcendente não tem uma palavra própria. Fohat pertence ao vocabulário da Magia, mas, como magia é um dos capítulos do Hermetismo, então resolvemos usá-lo num sentido mais amplo.

[2] O termo “Divindade” tem dois sentidos. Um, relativo à creação, quando a tríade PAI – KRISTOS – SOPHIA (3) foi desfeita, passando a existir a díade PAI – KRISTOS (2) (Termos Gnósticos). O outro se refere à dupla natureza da manifestação primeira – Purusha ePrakriti  (2 = divindade).

[3] O termo “espírito” aqui é usado no sentido de consciência pura. Muitas definições existem, às vezes com diferentes sentidos para o termo consciência. Aqueles que têm acompanhado essas palestras devem perceber que nos referimos à consciência como um dos 7 aspectos da manifestação do Inefável e que está presente em tudo, quer no espírito, quer nas mais elementares partículas. Nesta palestra, quando nos referimos a Purushacomo consciência, queremos indicar consciência diferenciada, ou seja, o “se dá conta…”. A Consciência Cósmica apresenta-se de forma diferenciada (“se dá conta” = consciência de si) em Purusha, e de forma indiferenciada (“não se dá conta”) em Prakriti.

[4] Dissemos que “parcialmente” porque a fragmentação não atingiu todos os sete níveis, a unicidade persiste em pelo menos um nível, mas mesmo assim isto é o bastante para que se perceba o mundo como coisas independentes. Mas, se prestando atenção se vê que até mesmo os corpos siderais não são independentes, basta considerar que todos eles estão ligados por aquilo que a ciência chama de “força de gravidade”.

[5] Em estudo mais avançado os Gunas serão devidamente estudados.