A V∴O∴H∴ e os Princípios Herméticos

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.

Tema 865
1998 - 3351

Na palestra anterior repassamos alguns tópicos referentes às vibrações, mostrando que quase tudo o que existe ou que se manifesta na natureza tem como base padrões vibratórios, e que, em atendimento ao princípio da ressonância, todas as coisas interagem entre si.

Os chamados Princípios Herméticos não apenas formam um conjunto descritivo de qualidades complementares do Universo Imanente, não se tratam de simples citações de condições isoladas no universo.Na verdade eles refletem a própria natureza de tudo quanto há, por isto aquele que realmente busca o conhecimento, aquele que deseja conhecer a razão de ser das coisas, deve examiná-los, estudá-los e meditar sobre eles. Se assim o fizer, por certo a natureza revela-se a ele sem quaisquer mistérios. Por esta razão é que um dos mais eminentes Veneráveis da V∴O∴H∴ prefere empregar o termo As Sete Verdades, quando se refere aos Sete Princípios Herméticos. São dele estas palavras: “Estas sete verdades são como que as sete cores da luz incolor quando dispersa por um prisma. Na realidade, essas sete verdades são uma só, mas, vista em sua dispersão, pelo lado do mundo fenomenal, parecem ser sete, assim como as cores do prisma, ou do arco-íris, se nos revelam como sete, embora em sua causa sejam uma única luz branca.”

Desde o início desta série de palestras temos direcionado os estudos místicos aos ensinamentos herméticos, porque os consideramos o nível descritivo mais elevado que se pode chegar a respeito da natureza e do funcionamento de tudo quanto há.

Aquele que deseja ter ciência dos conhecimentos arcanos e conhecer o mistério das coisas e da vida deve dedicar-se no aprimoramento do estudo dos Princípios Herméticos,desde que eles encerram o conhecimento de toda dinâmica universal. O estudo dos Princípios Herméticos é muito abrangente, tenha-se em mente o quanto já escrevemos sobre eles direta ou indiretamente em mais de mil temas.[1] Deve ser adotado como base inicial; antes de dedicar-se com denodo a outros assuntos, o discípulo deve estudar os Princípios Herméticos. Vejam o quanto escrevemos sobre a descontinuidade e suas implicações, o quanto mostramos sobre o Monismo e o Dualismo. Podemos dizer que tudo isso é uma pequenina parte do que está contido nos doze princípios estudados pela V∴O∴H∴.

Já dissemos que são em número de sete os Princípios Herméticos estudados exotericamente, e que são mencionados nos inúmeros livros existentes sobre os ensinos herméticos, contudo queremos dizer que existem outros além destes. Na verdade existem mais cinco princípios, que até recentemente eram guardados em sigilo, e que, nesta fase atual da humanidade, eles vêm sendo divulgados veladamente, pelo que somente os buscadores que sabem ler nas entrelinhas, ou que estejam sendo orientados por quem de direito, podem senti-los sempre presentes na natureza e descritos nos textos herméticos. Quando uma pessoa decide estudar com denodo os sete princípios, quer seja individualmente, quer seja com o auxílio de outrem, ela chega a descobrir os demais princípios e vê-los em toda parte. Estes princípios revelam-se com tamanha clareza que ao buscador não cabe qualquer dúvida.

Isto serve como quando se deseja identificar pessoas que se dizem conhecedoras, ou até “mestres herméticos”. Se a estes for indagado se existem outros princípios além dos sete dirão que não. Se for mencionada a existência de mais cinco princípios, muitas pessoas que se dizem “mestres”, estudiosos, ou conhecedores do Hermetismo, é possível que respondam negativamente, que digam não existir outros além dos sete clássicos. Afirmamos que aqueles que assim afirmam são “cegos guias de cegos”, como dizem os Evangelhos. Evidentemente são pessoas que apenas intitulam-se de Mestres Herméticos, quando na verdade nem ainda ultrapassaram o grau inicial de simples buscadores, pois que o descobrir por si os cinco princípios é a chave de acesso ao segundo portal.

Os iniciados egípcios simbolicamente diziam que também os Princípios Herméticos podiam ser considerados como véus que ocultavam a face da deusa Ísis. Por isto descobrir os princípios velados era retirar o primeiro dos véus da face de Ísis. Isto hoje pode ser representado e confirmado ritualisticamente pelo buscador, desde que ele haja chegado ao mencionado patamar, que reflete o merecimento pelo esforço e dedicação nos estudos. A ele, então, é facultado o direito de retirar o Primeiro Véu de Ísis.

Se a indagação sobre a existência de outros Princípios Herméticos for endereçada a alguém que verdadeiramente haja ultrapassado o primeiro portal dos ensinamentos herméticos, ele responderá afirmativamente, contudo apenas dirá sim. Por certo não mencionará claramente quais são eles até que esteja seguro de que o seu interlocutor também já é ciente do mesmo conhecimento.

Aquele que já detém o conhecimento, quando fala ou escreve sobre a doutrina hermética, pode deixar bem claro algum deles, mas sem citar diretamente tratar-se de outro princípio. Não descreverá diretamente em linguagem clara, em obediência a uma norma estabelecida pela V∴O∴H∴, que determina que a descoberta seja algo pessoal. Na verdade não se trata de ocultamento algum pura e simplesmente. O objetivo é outro bem diferente, é uma forma de forçar a pessoa a examinar e reexaminar os sete princípios, meditar sobre eles, senti-los em sua natureza, e assim aprender dedutivamente e não indutivamente. O discípulo deve aprender pela via dedutiva e não pela via descritiva.[2]

Pela razão exposta, o Peregrino da Senda de forma alguma deve revelar os princípios adicionais. Só é lícito citá-los direta e claramente a outrem mediante sinais de identificação. Na verdade, se alguém o fizer de outra forma, não recairá qualquer punição material sobre ele, mas acontece que aquele que recebeu o conhecimento gratuitamente não mais terá progressos na busca, pois, se não meditou o bastante sobre os sete princípios básicos até poder sentir a presença de outros, se não passou horas pensando sobre os sete princípios, sobre a natureza do universo, com certeza nele não houve o devido desenvolvimento mental necessário, a fim de poder receber diretamente revelações superiores. Receber o conhecimento indutivamente praticamente impede o preciso amadurecimento dos conceitos pessoais; a facilidade vicia a mente, impedindo a compreensão de conceitos mais elevados.

Receber e não descobrir faz com que a mente fique bloqueada, e, assim sendo, o portal de acesso continuará fechado, fazendo com que a pessoa não tenha progresso significativo algum, e assim ela acabará desistindo da Bendita Senda Hermética por falta de motivação pessoal, por ter dúvida quanto àquilo que lhe foi dado saber; ao contrário, se aquilo for uma descoberta pessoal, a pessoa não terá dúvida alguma, pois se tratará de uma conclusão pessoal, tratar-se-á de algo óbvio. Assim ela estará fora de uma das “bocas escancaradas de Cérbero” – a dúvida.

Se a pessoa não tiver o devido desenvolvimento mental, não chegará a penetrar no “Mistério da Nona Hora”, não entenderá o quanto necessário do Corpus Hermeticum, especialmente do Diálogo de Thoth com Pimandro[3], e outros diálogos, nem do verdadeiro sentido do Pistis Sophia, e assim por diante.

Saber sem a descoberta pessoal equivale a alguém ser posto diante das Tábuas de Esmeralda existentes nos túneis do conhecimento existentes sob a esfinge sem que antes haja aprendido a decifrá-las, e sem que ao menos haja conseguido aprender o caminho para chegar até onde elas estão guardadas.

Àquele que revelou os Princípios indevidamente cabe a responsabilidade de haver dificultado o desenvolvimento espiritual daquele a quem foi feita a revelação indevida. Por certo espiritualmente ele responderá por isto, nesta ou noutra encarnação.

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[1] Este tema tem o número 865, mas, se forem incluídos vários outros reservados da V∴O∴H∴ e da Maçonaria, este número ultrapassa bem a casa dos mil e duzentos.

[2] Já dissemos em outra palestra que existem 12 formas de aprender, sendo a primeira delas a via indutiva. Esta se refere à forma de ensinamento em que este é de forma descritiva. O professor ou instrutor ensina descritivamente. A segunda é a forma dedutiva, nesta aquele que ensina apresenta as bases, e coloca o discípulo diante de um enigma ou de uma proposição, à qual este deve chegar por uma conclusão pessoal.

[3] Vide temas de 691 a 701.