JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO — F.R.C.
Tema 95
1974- 3327
"Um pouco de religião nos afasta da Filosofia; muita filosofia a ela nos reconduz."
— A. Rivoli.
De uma maneira geral, quanto aos sistemas religiosos, a humanidade está dividida em dois grupos. São duas formas de atitudes a respeito da relação entre o ser e o Todo. Neste sentido os seres humanos, desde os primórdios de sua organização, estabeleceram sistemas de cultos que culminaram nos últimos milênios com as religiões estruturadas e, paralelamente, com uma infinidade de seitas, sistemas e disciplinas.
Basicamente os sistemas místicos religiosos podem ser classificados em dois grupos: Sistemas Orientais e Sistemas Ocidentais. Admitindo-se estes dois grupos, cabe a nós indagar qual deles é o mais adequado para as pessoas. Para que possamos dar uma resposta acertada teremos de nos aprofundar um pouco mais sobre os tipos de prática de cada um dos grupos e também analisar a razão pela qual viemos ao plano material (Estuda num tema: Qual a razão da Vida). O dois grupos diferem basicamente entre si não apenas no que diz respeito aos métodos de culto, mas também no que tange às finalidades da ligação religiosa.
No Sistema Ocidental a pessoa apenas procura render uma homenagem ao Todo, a pedir ajuda, ou mesmo a agradecer por alguma coisa recebida. Neste sistema a participação do homem na religião é um tanto convencional, não havendo uma integração total e absoluta como acontece no Sistema Oriental em que um religioso passa horas e horas em mediação e muitas vezes chega a levar a vida inteira completamente desligado do mundo que o cerca em busca de uma Grande Paz Interior que dizem consegui-la com certas práticas místicas, com a meditação profunda e uma disciplina rígida sobre a mente e o corpo.
Nesta palestra não comentaremos especificamente sobre qualquer forma religiosa e sim sobre o comportamento do ocidental ante o mundo transcendental. O comportamento místico religioso do ocidental é completamente diferente daquele apresentado pelo oriental e isto em parte é decorrente das próprias características Psicológicas próprias deste povo. O Ocidental é possuidor de uma mente essencialmente analítica; ele está familiarizado com está com o método científico, uma formação básica cartesiana que requer provas e contra provas de tudo, só aceitando com convicção aquilo que é suscetível de uma evidenciação sensorial direta através dos sentidos físicos; ou indireta, por meio de aparelhos conversores e registradores.
As coisas transcendentais não se prestam à constatação por meios objetivos, desde que se tratam de algo cuja existência real pertence a uma outra "dimensão". Por isso é que a metodologia científica para o estudo de outras realidades não é fácil e mesmo ainda impossível no estágio atual das técnicas científica humanas. Esta falta de um método tira do ocidental aquela certeza absoluta a respeito das coisas místicas, basicamente da maneira de pensar do oriental que não requer experimentações para a evidenciação das coisas transcendentais. Disto advém que o ocidental é religioso na quase totalidade tão somente em conseqüência, ou daquela lembrança ancestral arquivada nos planos profundos de sua mente, ou daquela mensagem sutil oriunda da ligação entre o Criador e a Criatura Humana.
O homem, muitas vezes, é religioso por "status", ou por tradição, muitos se dizem religiosos por razões sociais e até mesmo por razões econômicas. Não se pode negar que no ocidente muitas religiões foram detentoras do poder político, social e mesmo econômico. Ainda hoje muitos fazem imensas fortunas explorando o lado religioso das pessoas. Também, uma grande parte, uma maioria, talvez é religiosa apenas por ignorância ou por temor dos fenômenos naturais: Ainda existem aqueles que o são por obediência a preceitos impostos desde a infância quando lhe foi condicionado a idéia de que toda pessoa deve ter uma religião porque o ateu é um pária da sociedade. Tirando-se dos Ocidentais essas motivações eles se tornam praticamente dissociados dos das ligações místico religiosas. O Sistema Místico Oriental requer uma grande passividade da mente, requer ser silenciar o diálogo interior, o que na realidade é difícil para o ocidental; daí a razão pela qual a mente dos Ocidentais não se prestar eficientemente para meditações intensas, desde que ela é muito analítica, objetiva e além do mais é muito inquieta. Não é muito fácil eliminar o tagarelar mental das pessoas do ocidente. Para isto é mister a fixação em algo, exigindo um esforço bem maior muito maior do que aquele necessário a um oriental. Afim de que elevados níveis de percepção sejam atingidos é fundamental a não racionalização. A magia é incompatível com o racionalismo.
Por essas razões as religiões Ocidentais diferem tanto das orientais. Aqui o homem geralmente vai à Igreja para o comprimento de uma forma de dever, para não se apresentar ante os seus semelhantes como um ateu ou, simplesmente, por temor diante do desconhecido. Muitas vezes ele vai porque tem dentro de si o temos de algo que ele diz duvidar, mas que não está bem convencido se existe ou não, isto é, se há ou não há uma vida após a morte. Somente nas últimas décadas se tem visto o ocidental procurar praticar algumas doutrinas mistico-religiosas mais elevadas e concomitantemente o surgir de uma maior objetivação da forma de pensar oriental. Por certo o oriental, graças ao desenvolvimento tecnológico que ali vem ocorrendo, está se tornando mais desligado das religiões.
No Sistema Oriental a pessoa é movida por características raciais que favorecer muito a quietude mental, por isto para as pessoas de lá é bem mais fácil à prática das doutrinas que exigem abnegação, paciência e quando não até mesmo sacrifícios. O Oriental, assim como grupos culturais indígenas são menos afeitos à objetivação das coisas e tende mais para as abstrações, tanto é assim que a civilização ocidental era construída graças ao método científico enquanto a oriental se mantinha afastada desse método. Por ser assim as pessoas de lá nunca exigiam provas daquilo que constituía as condições do dia a dia. O mesmo acontece com o xamanismo, com a feitiçaria praticadas por indígenas, em especial do México. O Oriental é afeito a divagações, razão pela qual para ele é fácil aceitar informações independentemente de provas objetivas. Exatamente, em decorrência dessa característica psicológica é que lhe é própria facilita-lhe o mergulhar muito mais profundamente nas doutrinas meditativas. O ocidental fica estarrecido quando vê em muitas nações orientais a quase totalidade da população mergulhar em divagações místicas e metafísicas, indo desde simples meditação até um estado altamente doentio comum a muitos faquires incultos, como acontece com os milhares de faquires absortos em um estado que só podemos taxar de lastimável.
Já vimos em palestras anteriores que há uma finalidade para a existência, que há uma missão a ser cumprida, que é através da consciência individualizada nos seres que o Todo se conscientiza objetivamente da sua obra. Podemos afirmar que até mesmo condições físicas degradantes, as práticas de certas doutrinas, mesmo que aberrantes, nem por isso deixam de ser de certa forma uma experiência a ser vivenciada. Até mesmo aquelas mutiladoras fazem parte do contexto da problemática dos espíritos. Mesmo as coisas negativas não deixam de ser também vivências experimentais de onde são tiradas conclusões inerentes ao mundo da matéria. Por isto, mesmo que aquelas vias têm que ser vivenciadas para a concretização plena. Não temos dúvidas de isso é cumprido num estágio bem negro do desenvolvimento espiritual. São experiências ainda trilhadas por muitos. É um tipo de experiência que a pessoa deve o mais rápido possível deixar para trás. No momento em que um caminho é trilhado, no momento em que a objetivação de algo é atingida e conseqüentemente conscientizada, há necessidade de aprofundamentos em outros sentidos. Permanecer ali é estagnação, é contrariar uma característica inerente à mente, que é a busca de novos estímulos para através deles novos ângulos da criação serem adequadamente explorados.
Diante disto cabe uma análise mais fria a respeito da atitude de muitos faquires. Analisando-se a atitude da grande maioria deles sentimos que existem todas as graduações possíveis. Entre as pessoas que se aprofundam no estudo dos vários ramos das práticas orientais vamos encontrar desde os grandes místicos e iniciados, até pessoas incultas no campo da metafísica. Estas últimas conseguem um método de meditação e ficam cativos deles a um ponto tal que param de progredir, ficam punindo o corpo à guisa de disciplina de uma forma absurda, sem entender que certas disciplinas são formas superadas de desenvolvimento. Existem basicamente quatro métodos disciplinares citados para a auto disciplina espiritual. [1]
1 - CAMINHO DO MONGE;
2 - CAMINHO DO FAQUIR;
3 - CAMINHO DO IOGUIM;
4 - QUARTO CAMINHO.
O Caminho do Monge é o da devoção, da obediência sem contestações, sem indagações. Normalmente é a maneira de ser dos conventos e abadias. Pela obediência irrestrita a pessoa pode chegar a uma disciplina espiritual, a um aniquilamento do EGO. Isto, na Árvore da Vida pode ser representado pela vitória sobre HOD, aquele que subiu o primeiro degrau na ascensão na escada de Jacó.
No Caminho do Faquir a disciplina chega a se fazer sentir sobre as atividades involuntárias do corpo. O faquir chega a vencer a dor, a disciplinar as atividades autônomas do organismo, como o controle da respiração, dos movimentos intestinais, etc. A disciplina domina o segundo degrau da escada que é Netzarah. É precisamente ali onde ocorrem certas aberrações decorrentes do exagero. A disciplina facilmente é confundida com mo domínio da sensibilidade, descambando para o não domínio da sujidade, da higiene, etc. Isto é uma decorrência da manifestação da polaridade que existe em tudo e que acaba por determinar tais aberrações. A maioria dos faquires na verdade são pseudo faquires, pessoas que apenas têm domínio sobre o corpo, mas não sobre a mente. Tanto isto é verdade que a própria razão deixa de ser atendida, esmo diante dos exageros praticados. Mas, entre aquela multidão de faquires na maioria das vezes composta por excrescências humanas, é possível serem encontrados alguns iniciados autênticos, mas o comum é serem visto verdadeiros parasitas sociais, por ignorância ou por fanatismo. No caminho do faquir é onde há maior proliferação de enganadores, mentirosos e impostores que pouco evoluem, que quase nada conseguiram ainda fazer, que pouco aprenderam da arte de viver a não ser o seu lado negativo, isto é, viverem na imundície, cobertos por parasitas, perfazendo apenas um triste postal de degradação física da raça humana. São criaturas esquálidas, com cabelos desgrenhados, unhas enormes e imundas, pessoas que nunca trabalharam e que nunca fizeram algo pelo desenvolvimento da vida na terra. Eles nunca vivenciaram nada, jamais colheram quaisquer experiências válidas, exceto o da degradação da vida. Mas, o que causa espécie é que existem pessoas que julgam que aquele tipo de vida é algo que leva o homem se aproximar da Divina Fonte.
No Caminho do Ioguim já não é preciso a obediência cega do Caminho do Monge e nem da disciplina terrível do Caminho do Faquir. Neste nível o "adepto" já ultrapassou a fase de ter que disciplinar a matéria. Se precisar ele o faz, pois está num nível em que já tem condições para tanto, mas. por outro lado, ele entende perfeitamente que o importante na caminhada é a disciplina das emoções e sentimentos, pelo que estabelece uma vida visando chegar ao domínio de Gevura e Hessed, embora ainda não o de Binah eHokhmah, o que só é atingido no Quarto Caminho.
O Quarto Caminho compreende o desenvolvimento racional, sem o uso de meios que digam respeito à matéria. Nele funciona a razão, o intelecto. Esse caminho é o que mais importa a libertação pelo conhecimento. Ele visa mais a cientificação do que a purificação.
Evidentemente esses caminhos são métodos, e é plenamente possível uma pessoa chegar à purificação em qualquer um deles, porém o mais comum é que o aperfeiçoamento vá se processando gradativamente em todos eles simultaneamente. Nisto os orientais são bem diferentes. Lá se pode ver os diferentes caminhos dessa forma bem destacados, o que não aconteceu tanto no Ocidente onde o desenvolvimento é tanto ou quanto integrado. Aqui há uma forma de desenvolvimento simultânea abrangendo os quatro métodos.
Para concluir esta palestra diremos que não apenas a disciplina mental leva o indivíduo a vivenciar realidades diferentes, a abordar outros planos de consciência, a penetrar em outros universos relativos. Os adeptos de muitas seitas apreendem assim se deslocarem para outros mundos - universos relativos - onde são fáceis as associações mentais com vivências místicas bem interessantes. Uma pessoa, tão logo atinge a capacidade de autodisciplina, deve utilizar isso para vôos mais altos, para o desenvolvimento interior buscando se libertar do jugo do mundo imanente – mundo objetivo – e assim regressar à ORIGEM.(*)
-------
[1] Na realidade, não são apenas quatro, mas sim sete caminhos.