A origem dos espíritos

                                                                                  JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO  F.R.C.

Tema 7
1976 - 3329

"Quinze minutos de reflexão ampliam e educam o espírito mais do que vários meses de leitura".
— Madame de Lambert.

A grande indagação de por que o Creador creou o universo e a origem dos espíritos tem sido um tema filosófico muito debatido e questionado através dos séculos. Talvez nunca a pessoa venha a encontrar uma resposta para esta indagação, até que se cientifique e chegue à união com o TODO. Mas, como a verdade absoluta não nos pertence e sim a Verdade de Cada Um, então vale a pena fazer indagações que ao menos aquietem a nossa mente inquiritiva.

Em diversas palestras, dissemos que o Poder Superior se fragmentou em miríades de individualizações conscientes, para ter conhecimento objetivo de sua obra.

Uma das doutrinas que mais se aprofunda na análise dessa problemática, sem dúvidas, é o Hermetismo, em especial um dos seus ramos, a Cabala. A Cabala, a ciência de Deus, busca esclarecer não só a natureza de Deus, mas também o porquê das suas diferentes formas de manifestação. Não se trata de uma seita ou religião, mas sim de uma filosofia, cujo objetivo é conjeturar a respeito de Deus.

A Tradição mencionada na Cabala diz que “Deus desejou ver a face de Deus”, por isso Ele efetivou a creação. Deus, pelo seu querer, desejou a primeira separação, e assim teve origem a Primeira Polaridade. No primeiro momento houve a “separação”, formando-se aPrimeira Luz. Só havia o NADA, e então veio existir a LUZ. De certa forma, pode-se dizer que a Primeira Luz resultou da polarização do NADA[1], e sendo assim a Luz constituiu-se o DOIS em Relação ao NADA. Assim tornou-se possível a consciência da existência de algo, completando-se uma Trindade. Sempre que ocorre uma polarização, os extremos são o “um” e o “dois”, e imediatamente forma-se o “três”, que pode ser algo concreto ou não, constituindo-se o Três (Vide palestras futuras sobre os números l, 2 e 3.) Veremos melhor isto quando estudarmos a natureza dos números.

Essa primeira manifestação da LUZ já é vibração no mais alto nível possível, de onde, pela queda de frequência, todas as coisas se originam. Esta LUZ é a primeira manifestação da existência positiva, do manifestável em oposição ao NADA, que é imanifestável e inconscientizável.

Diz a Cabala: A PRIMEIRA LUZ É A SEMENTE DE TUDO QUANTO FOI, É, e SERÁ. Essa primeira manifestação é denominada “PRIMEIRA COROA”, e dela tudo deriva.

Diz a tradição (Cabala): “Quando Deus desejou, a LINHA DE LUZ penetrou no VAZIO.”

A Linha de Luz originou de início duas outras luzes que eram uma projeção da Primeira, uma polarização da Primeira Luz, formando-se algo que pode ser representado graficamente por um triângulo – o Primeiro Triângulo – e que compõe a parte superior da “Árvore da Vida”, na “Árvore dos sephiroth”[2]. O triângulo superior representado graficamente por três “Sephiroth”:Kether (Coroa), Hokhmah e Binah.[3]

Nesse nível já havia uma descida, não propriamente do Poder Superior como um todo, mas de uma projeção Dele no sentido da creação; havia se estabelecido uma queda da frequência daquela vibração inicial quando se fez sentir a ação de RA sobre MA. Nesse nível, a Creação era tão somente Luz[4], o nível de frequência ainda estava totalmente dentro de um nível vibratório que chamam de luz, mas que na verdade transcende ao conceito de claridade.

A Luz, quando se manifesta como “luminosidade”, não ocupa uma frequência única, e sim uma faixa que cobre uma gama de frequências, e assim já existia uma polarização, um certo distanciamento da origem, no que diz respeito ao nível vibratório. Dentro da creação, como esse distanciamento não podia ser para cima, já que a Primeira Luz ocupava o nível mais elevado possível, então é óbvio que esse distanciamento haja ocorrido para baixo.

A Primeira Luz, quando se polarizou originando a Segunda Luz, houve simultaneamente a origem de uma terceira condição, fazendo assim um triângulo, exatamente aquele que está na parte alta do esquema da “Árvore da Vida”. Se o distanciamento fosse apenas no sentido de queda de frequência vibratória, a evolução seria naturalmente linear, e conseqüentemente não formaria um triângulo. Como já no primeiro momento ocorreu diferenciação também qualitativa ela deixou de ser linear. A polarização trouxe qualidades diferentes em cumprimento ao plano de Deus. Entre essas qualidades já havia um sentido de masculino e de feminino, de positivo e negativo, de ativo e passivo, de Pai e Mãe, e assim por diante.

A ------------------------------- B

Foi dado à “mãe” o direito de gerar, de crear todas as formas de existência, e, inicialmente, os espíritos. Diz a “Tradição”: O homem foi criado segundo a imagem e semelhança de Deus… Isto é verdade, porque, não existindo nada mais que uma Trindade, ou seja, a Tríade Superior – Kether – Hokhmah – Binah – é evidente que qualquer coisa que viesse a existir depois teria que sair de uma delas. Assim aconteceu sair exatamente daquela que deveria ser a mãe, como se nos apresenta a natureza até hoje.

As principais doutrinas cristãs dizem que os anjos do céu se revoltaram contra Deus, e que houve uma guerra, da qual resultou uma separação, constituindo duas falanges, a dos anjos rebeldes e a dos anjos fiéis, e que estes foram os vencedores. Como consequência, os vencidos foram expulsos do céu e atirados no abismo, juntamente com Lúcifer, o comandante das hostes infernais, creando-se assim as legiões de demônios.

Agora já podemos indagar o que representa realmente a creação de um anjo, ou seja, de um espírito. O que é que foi gerado para caracterizá-lo? – Na realidade foi separado um tanto de energia tirada de o seu próprio Ser Creador. A energia era aquela mesma inerente ao Poder, constituindo-se a Partícula Divina de cada ser. Essa partícula é basicamente um suporte energético ao qual estão inerentes a “consciência de si” e o Querer.

Há três elementos intimamente ligados sem os quais não pode existir espírito algum:a estrutura, a consciência e o querer. Sem individualidade não existe o eu, e sem o eu não existe aquilo que se chama espírito.

Conclusão: O espírito é creado tendo como estrutura o resultado da união de RA + MA, ou seja, de uma essência em vibração que é a própria LUZ UNIVERSAL, e como atributosConsciência Querer. Em temas avançados será detalhado todo o processo de criação dos espíritos, desde o nível transcendente até o imanente.

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[1] A rigor não houve polarização, esse Princípio Hermético tem sentido apenas dentro do Universo creado. Para que exista polarização tem que existir algo, e no nada não tem algo que possamos conceituar como tal.

[2] Será estudado em palestra futura.

[3] Esta tríade será estudada em palestra posterior, no tocante ao estudo básico da Cabala.

[4] Ainda não havia luz no sentido de claridade, mas sim de um tipo de manifestação que assim é chamada. Luz claridade é fótons, partículas, e no primeiro momento não havia partículas. Luz claridade é algo mensurável, a frequência é plenamente determinada, enquanto que a Luz de que falam os livros sagrados é algo bem mais transcendente.