JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.
Tema 4
1976 - 3329
"O tempo é um véu suspenso diante da eternidade."
— Tertuliano.
Ao PODER SUPERIOR[1] são atribuídas três qualidades essenciais que O tornam diferenciáveis de tudo aquilo que existe:
Onipresença - Onisciência - Onipotência. Isto indica que Ele está em todos os lugares, sabe tudo, e pode tudo.
1°- ONIPRESENÇA:
O PODER para ser superior necessariamente deve ter a capacidade de estar presente em todos os pontos do Universo. Se houvesse um ponto em que ELE não pudesse estar presente, com certeza não seria Onipresente. Como poderia ser Onipresente se houvesse um ponto onde não pudesse estar. Neste caso necessariamente também não seria Onisciente porque existindo um ponto onde não estivesse certamente ali ocorreriam situações que estaria excluído, de onde coisa alguma saberia pois estaria de fora e, assim sendo, onde a Onisciência? Por outro lado, se houver ONIPRESENÇA necessariamente tem que haver ONISCIÊNCIA porque quem está presente em tudo conseqüentemente tem conhecimento de tudo o que ocorre, especialmente em se tratando da mais elevada capacidade de consciência que é a do PODER SUPERIOR, do ABSOLUTO. Assim estamos diante do segundo “Atributo do PODER SUPERIOR", que é a Onisciência.
2° - ONISCIÊNCIA:
Agora vejamos: Quem sabe tudo tem que ser onipresente e ser onipresente no espaço e no tempo. Só pela onipresença é que se pode ser onisciente. Alguém poderá dizer assim: Não é necessário que se esteja presente para saber de algo? Até certo ponto isto é verdadeiro, mas há situações em que não. Suponhamos que alguém diga: Eu sei por que me disseram. Então aquele que disse deve ter estado presente, ou ouvido de um outro e assim sucessivamente até um ponto em que alguém deve necessariamente ter estado presente. Como o início de tudo só pode ter UM, necessariamente só UM pode ser tido como Onisciente e este UM é o ABSOLUTO. Em sentido absoluto só pode haver onisciência se houver onipresença.
Consideremos outro ponto. Para que haja a onisciência se faz necessário à presença tanto em espaço quanto no tempo. Uma coisa pode estar oculta não apenas no espaço, mas também no tempo. Vejamos: Algo que haja existido antes de nós, por certo nós não temos acesso a ele, da mesma forma que uma coisa que está distante de nós em espaço também não temos acesso direto. Assim sendo, uma coisa pode estar escondida tanto no espaço quanto no tempo. Para saber de tudo o que aconteceu se faz necessário estar presente antes do próprio começo. Já é preciso estar presente quando da primeira manifestação, pois se não for assim algo existiu antes da primeira ocorrência e assim ficou sem registro, e se alguma coisa ficou sem registro não há, conseqüentemente, a onisciência porque algo deixou de se tornar ciente.
É fácil, agora, se compreender porque somente no “Eterno” pode existir a Onisciência. Só o Absoluto pode ser eterno e só o Eterno pode ser Onisciente.
3o - ONIPOTÊNCIA.
Ainda não conseguimos penetrar muito nos mistérios da Onipotência, mas já temos idéia de muitas nuances a ela relacionadas.
Somente pela Onipotência é possível chegar à Onipresença. Um poder limitado não pode estar em todos os pontos, e mesmo que existisse apenas um ponto que fosse impossível ser atingido conseqüentemente já não haveria Onipotência. Tudo aquilo a que podemos chegar pela consciência, até o limite de qualquer compreensão humana, está organizado de uma forma trina, em Trindades sucessivas. Apresentamos nesta palestra três qualidades da Natureza Divina formando uma das Trindades, a do Poder Superior que consiste em: ONISCIÊNCIA / ONIPRESENÇA / ONIPOTÊNCIA.
Feitas essas considerações já podemos ampliar um tanto mais a análise do Tempo como uma entidade absoluta. Não analisaremos agora o tempo cronológico. Para podermos entender melhor o assunto desta palestra temos que fazer conjecturas, fazer algo como um "exercício mental" a fim de estabelecer analogias que facilitem o nosso entendimento. Pensemos em qualquer tipo de ocorrência onde quer que ela se processe. Afirmamos que ali haverá tempo tanto o absoluto quanto o relativo, pois qualquer acontecimento sempre se situa ao longo do tempo. No Mundo Imanente não existe algo que não esteja ocorrendo no tempo, e assim sendo, em qualquer acontecimento, o tempo sempre está presente.
Pensemos numa situação futura. Hipoteticamente suponha-se que todo o Universo deixasse de existir; que até mesmo Deus deixasse de existir. Isso seria algo além do próprio NADA. Evidentemente não seria o nada Imanifesto e sim o "nada inexistência". Suponhamos agora que num futuro tudo ressurgisse, tudo voltasse a existir como antes.[2] Entre aquele momento em que tudo se extinguiu e aquele em que tudo ressurgiu teria havido algo, teria havido certo tempo. Da mesma forma, se ao invés de situarmos essa condição hipotética no futuro a situarmos no passado o mesmo ocorre. Vejamos: Houve um momento em que ocorreu o "Fiat Lux”, houve um momento em que tudo o que existe começou. Suponhamos que não houvesse começado naquele momento e sim em um outro antes ou depois. Permaneceria um elo de ligação entre os dois eventos, haveria o tempo ligando um e outro, mesmo que nada existisse, que nenhum, acontecimento existisse, ainda assim existiria tempo. Não havendo acontecimentos não haveria tempo no sentido cronológico, mas mesmo assim existiria o tempo absoluto. Os dois momentos da creação estariam unidos pelo tempo absoluto.
Entre os dois momentos haveria tempo, embora a consciência não pudesse registrá-lo. Não havendo qualquer tipo de referencial, qualquer coisa que pudesse servir de comparação, não se daria conta do tempo como um fluxo, mas sim como um elo de ligação. Tomemos um outro exemplo: Suponhamos que uma situação como aquela mencionada no conto infantil "A Bela Adormecida". Se todas as coisas "adormecessem", se os seres vivos parassem, ficassem adormecidos, se tudo parasse, mesmo as partículas atômicas, por um, dez, cem, mil, milhões de anos, e num determinado momento tudo voltasse à atividade, tudo “acordasse” novamente; nenhuma árvore, nenhum animal, nenhuma estrutura se apresentaria com qualquer alteração que representasse o "fluir do tempo", tudo estava da mesma forma do momento da ocorrência. Nessa situação a pessoa não poderia se dar conta do tempo transcorrido. Tanto podia ser um segundo, quanto um milhão de anos, a percepção do “fluir” do tempo não existiria. O tempo como que teria parado também. Não é que ele houvesse parado de fato, pois como o tempo não se desloca conseqüentemente ele não pode parar. Só aquilo que se desloca é que pode parar. Na verdade quem se desloca, quem flui são os acontecimentos. Naquela situação, não havendo acontecimentos, a sensação de fluir não existiria também, mas mesmo assim o tempo absoluto não haveria sido extinto. Nessas situações hipotéticas que citamos vemos que tudo aconteceria como um agora, algo sem futuro e sem passado, e é isto que se chama o “eterno agora”, é isso o “Infinito atemporal”.
Assim, vimos que o Tempo é onipresente e como tal ele é também onisciente porque estando presente em todos os acontecimentos, e até fora deles, tudo ele têm registrado, portanto tudo sabe. Então é fácil sentir que o tempo é eterno, algo que jamais teve princípio e nem terá fim. Por mais que se prolongue aquelas situações citadas para o futuro, ou para o passado, jamais se atinge um limite além do qual seja impossível um prolongamento. Estamos diante do infinito. É muito difícil a mente humana, presa à cronologia das coisas, entender o infinito, mas com esses exemplos alguma coisa disto se torna possível.
Desta forma, sentimos claramente que o Tempo apresenta-se como parte de uma Trindade inerente ao Absoluto. Se o tempo fosse algo diferente do Poder Superior, se não tivesse os mesmos atributos Deste, por certo haveria dois Poderes idênticos. O Poder Superior é o ÚNICO, é o ABSOLUTO, portanto só nos resta admitir que o Tempo Absoluto é o próprio Poder Absoluto.
Um outro ponto importante em que sentimos claramente uma condição de eternidade pode ser sentido com a hipótese de tudo se extinguir e tudo ressurgir e mesmo assim existir algo ente as duas situações – o temo – nos leva a penetrar no mistério da eternidade, a sentir o que é o eterno.
O Tempo é a Eternidade, e como ele é o PODER ABSOLUTO podemos sentir o porquê oPoder Superior sempre existiu e sempre existirá.(*)
(*) Observação: Este artigo ainda não foi submetido à revisão ortográfica e gramatical.
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[1]Normalmente usam-se três denominações: DEUS - FORÇA SUPERIOR e PODER SUPERIOR indistintamente. Na realidade são três denominações específicas. Deus é o nome da divindade suprema de cada pessoa. Deus é a imagem que cada um faz do Ser mais elevado da concepção pessoal. Podemos dizer que Deus é feito à imagem e semelhança de cada um, portanto representa um Ser que está dentro da Criação, portanto limitado e tem uma gama imensa de variações. E Deus de cada uma, portanto são tantos o numero de pessoas existentes no universo. Cada Deus tem o seu oposto. A palavra DEUS não define superioridade. FORÇA SUPERIOR. A palavra força em física é definida como a capacidade de produzir trabalhar, de determinar movimentos. Assim pode-se dizer que está restrita à criação ao universo e não ao COSMOS. Ao universo porque só no universo existe movimento, o NADA é parado. É SUPERIOR a todas as demais, mas há o seu lado oposto, a o oposto a força inferior. PODER SUPERIOR: Estar alem da força, pois o poder é que gera a força o poder, como o próprio nome indica significa algo capaz de tudo Não pode existir algo além do poder. Quando definido como PODER SUPERIOR não cabe lugar algum para mais coisa alguma. Nada pode ser maior do que um poder e definido como Superior é o máximo possível, o absoluto, está alem do Universo, é infinito e como infinito não tem oposto, pois se tivesse este também deveria ser infinito e não há possibilidade de dois infinitos. Havendo dois infinitos um não conteria o outro e sendo assim ambos não seriam infinitos seriam metades.
[2] O problema tempo é tão complexo que temos dificuldades de encontrar palavras adequadas quando a ele nos referimos. Temos que utilizar palavras que de alguma forma dizem respeito a tempo. Eu disse "num futuro". Ora, naquela situarão não se pode falar de futuro, pois futuro é tempo relativo. É cronologia e estamos falando de algo que não é cronológico.