O início da Conjura do Silêncio

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.

"Paga a injúria com indiferença e o benefício com a gratidão e serás justo".

Tema 221
1976 - 3329

A partir da Atlântida, surgiram correntes migratórias em três direções distintas às quais, de certa maneira, a nossa civilização atual está historicamente relacionada. Evidentemente num passado bem mais distante aquele povo manteve relações com alguns núcleos sociais, como aquele que ocupava a região da Grécia, porém numa época anterior àquela historicamente reconhecida. Reforça esta assertiva aquilo que o Sacerdote de Saís disse a Sólon, citado por Platão, que a Grécia era muito mais antiga do que se afirmava, pois que, numa época já esquecida, houve uma guerra entre ela e a Atlântida.

Ante a iminente catástrofe, grupos de atlantas emigraram, e, de um modo geral, seguiram em três direções: Norte da África, América do Norte e Sudeste da Europa. Ali estabeleceram três civilizações historicamente reconhecidas: Egípcia (África), Maia (América) e Celta (Europa).

Historicamente pouco é sabido sobre as atividades daqueles emigrantes nos primeiros séculos após a destruição da Atlântida, pois tudo o que restou de várias destruições de documentos foi apenas uma fração mínima zelosamente guardada pelas Sociedades Iniciáticas. Praticamente quase nada restou dos documentos da civilização de Yucatã e Celta. Para a satisfação nossa um pouco sobrou da egípcia. Praticamente todos os registros dos Celtas e dos Maias foram destruídos.

Atualmente tudo o que oficialmente se sabe da história passada chegou até a nossa época porque todas as religiões predominantes no ocidente procedem do Oriente Médio, exatamente onde conhecimentos básicos foram oriundos das Escolas Iniciáticas do Egito, que controlavam o conhecimento técnico e histórico.

Não se sabe bem o que aconteceu no seio dos Celtas e dos Maias, com referência à existência ou não de uma “conjura” contra o saber, tal como existiu no Antigo Egito. Não se sabe oficialmente se, tal como aconteceu no Egito, naqueles dois outros núcleos também ocorreu uma divisão dos sábios em dois grupos distintos: Pró e Contra a generalização do conhecimento.

No Egito, já na Primeira Dinastia, havia uma nítida divisão política ligada ao saber. De um lado os que permitiam o saber controlado pelas Escolas Iniciáticas, e por outro lado os obscurantistas, que tentavam vetar o conhecimento, seja de que natureza fosse. Desta forma desde o seu início a civilização histórica do Egito já estava dividida em seu começo. Historicamente não se sabe se o mesmo ocorreu na civilizações Maia e Celta. Pela história sabe-se que estas últimas, se comparadas com os cinco mil anos de duração da egípcia, logo degeneraram.

A civilização Maia ainda realizou algumas obras de grande vulto, porém a “conjura” que lá também foi estabelecida conseguiu um sucesso total, e as civilizações seguintes caminharam no sentido inverso do progresso técnico.

A ação da “conjura” junto aos Celtas foi bem mais eficiente, pois nem as menores obras foram realizadas.

Somente no Egito os imigrados da Atlântida, de certa forma, puderam dar continuidade ao sistema de vida da primeira fase social daquele Continente desaparecido.

Durante uma fase muito longa da Atlântida houve uma estabilidade admirável graças a um sistema social baseado na experiência colhida de uma outra grande civilização ainda mais antiga, existente num outro continente também submerso, atualmente conhecido como MU (= Lemúria) situado no Oceano Pacífico.

É possível chegar-se a conclusões sobre o sistema social e político da Atlântida sem que se tenha de recorrer aos registros transcendentais, pois existem alguns documentos guardados por fraternidades secretas. Por tais informações se pode concluir que, durante muitos séculos, houve uma harmonia de vida ideal na Atlântida.

Na Atlântida, durante milênios, houve um perfeito entrosamento entre o Saber, a Religião e o Estado. Um estadista, um sacerdote e um sábio constituíam um triângulo administrativo.

O poder político, o saber técnico, e o conhecimento religioso somente eram dados mediante um controle tríplice. Ninguém galgava altos níveis de saber sem que estivesse ligado às organizações controladoras. Somente era dado ao buscador o conhecimento conjunto: Técnico, religioso, e político. O ensino era controlado, e somente o recebiam aqueles que necessariamente haviam se tornado sábios segundo a maneira de pensar. Aqueles que demonstravam condições de usarem a ciência, a política, e o poder sacerdotal com equilíbrio e justeza. Ninguém galgava uma posição política sem que tivesse sido preparado e iniciado numa forma de sabedoria arcana.

Enquanto esse sistema funcionou houve estabilidade no continente, porém, com o decorrer dos séculos, lentamente esse sistema foi sendo modificado até que ocorreram dissenções e, vagarosa mas inexoravelmente foi surgindo uma dissensão completa entre a Religião, o Saber e o Estado. Por fim esfarelou-se a base da estabilidade daquela civilização e disto nasceram hegemonias politico-administrativas, e o saber saiu do controle dos sábios sacerdotes. Houve degeneração politico-religiosa, a ciência então cresceu como uma excrescência, de forma independente, e sob a proteção de grupos políticos rivais.

Isso acarretou o fim daquela civilização. Há sistemas que afirmam que tudo terminou numa hecatombe provocada por uma guerra cataclísmica. A ciência levou o povo a um nível capaz de provocar um holocausto, a energia VRIL foi utilizada indevidamente.

Hoje a ciência está começando a estudar os cristais e isto é a porta que leva direto à descoberta do VRIL.

Na realidade não houve uma guerra, apenas acanhadíssimas experiências técnicas de exploração do VRIL ficaram fora de controle e uma tremenda e incontrolável reação em cadeia ocasionou o maior acidente artificial de que se tem notícia na terra.

Na realidade havia entre os cientistas duas correntes, uma que pretendia fazer experiências com alguns aspectos da ENERGIA VRIL sem que se tivesse a certeza dos resultados que até mesmo poderiam ser incontroláveis. Era um campo experimental muito perigoso, por isso grande parte dos cientistas se opunham a que aquele tipo de conhecimento fosse realizado sem que antes houvesse uma boa margem de segurança. Mas um outro grupo acabou por dar prosseguimento àquele tipo de experiência e, num determinado momento, tudo saiu de controle e o resultado foi a hecatombe que submergiu o continente inteiro. Mas, mesmo que aquele incidente não houvesse ocorrido, o continente já estava condenado pela utilização irracional em muitos outros campos, motivando desequilíbrios irreversíveis na natureza ambiente.

Tendo como certo que aquela situação da Atlântida não poderia continuar, sabendo da ameaça tremenda que pairava sobre aquele continente, milhares de pessoas emigraram, juntamente com grande número de sábios nas mais diversas especialidades.

Os documentos sobre a Atlântida guardados pelas Fraternidades Iniciáticas seguidamente foram sendo destruídos. Os que sobraram são vagos quanto às causas diretas da hecatombe. Apenas eles informam quanto ao nível técnico atingido e ao abuso existente com relação a terríveis fontes de energia, e cujos informes evidenciam não se tratar da energia nuclear.

A catástrofe da Atlântida, destruindo um Continente inteiro, foi por demais chocante para todos aqueles que haviam fugido de lá. Estes sofreram um terrível traumatismo moral, mas disto não resultou uma união, pelo contrário, resultou numa divisão terrível, pois os próprios sábios, os líderes, logo se dividiram em duas frações fundamentais com pensamentos opostos.

 – Uma corrente, que chamaremos obscurantista, que propugnava que a existência da Atlântida, e de tudo aquilo que com ela se relacionasse fosse apagada e esquecida; que nenhum resquício sobre a sua existência deveria jamais voltar a ser lembrado pelas gerações futuras, para que outra hecatombe de tamanha magnitude e crueza não viesse a ocorrer novamente. Dever-se-ia recomeçar tudo de novo de forma a evitar o sistema anterior, pelo que consideravam vital o esquecimento do passado e uma proibição absoluta de tudo aquilo que significasse técnica e conhecimento das leis da natureza, para que elas não viessem irresponsavelmente ser manipuladas em prejuízo da vida. Analisaram as causas da tragédia e acharam que o motivo básico fora a tecnologia, o conhecimento, o saber; além de certo limite ocasionaram a destruição do Continente mãe, portanto tudo aquilo que dissesse respeito ao conhecimento fora do essencial a uma vida frugal deveria inexoravelmente ser banido.

Segundo aquela linha de pensamento, as gerações futuras deveriam voltar a uma forma de vida mais simples, menos tecnológica, tanto ou quanto primitiva. Uma forma de vida mais natural, mais harmoniosa com a natureza, mais ligada aos preceitos religiosos. Para isto, criaram um termo que se perpetuou através dos séculos: “Com temor a Deus”. Todo e qualquer conhecimento além de certo nível indispensável ao essencial para a subsistência deveria ser proscrito.

Com esta ideia estabeleceram normas religiosas, as quais deveriam reger a conduta das futuras gerações.

 – Uma outra corrente, que chamaremos Conservadora, preconizando a conservação daquela mesma orientação que durante milênios se mostrara eficiente na Atlântida, funcionando bem, e que a quebra da diretriz administrativa foi que permitiu a ciência enveredar por trilhas perigosas. O problema fora a quebra do controle entre os poderes, permitindo o funcionamento interdependente do Estado, Religião e Ciência, mas, desde que esse triângulo fosse mantido, tudo transcorreria sem problemas.

Essa linha alegava que as suas idéias eram viáveis, pois funcionara bem no início da Atlântida. Apenas deveria ser modificada de forma a tornar uma associação mais rígida do que na Atlântida, para que não viesse a ocorrer um rompimento no futuro. Seria o mesmo sistema inicial da Atlântida, porém com controle bem mais rígido.

Os do primeiro grupo (os não conservadores) contestaram, alegando a inviabilidade daquele tipo de conduta, porque a mente humana estava condicionada para descobrir coisas, para evoluir de forma egoísta e independente, e que, mais cedo ou mais tarde, o controle seria mais uma vez quebrado e tudo voltaria ao ponto anterior. A história se repetiria, portanto.

Os do segundo grupo, por sua vez, alegavam que esconder a verdade e coibir o saber também não contornaria o problema, porque a mente humana estava condicionada para descobrir coisas, para evoluir. Sendo assim o fato de ser negada a verdade, de o conhecimento ser perseguido, não resolveria nada, porque, mais cedo ou mais tarde, uma ciência nasceria, independentemente de qualquer controle.

Os conservadores queriam manter o sistema que durou séculos na Atlântida, os não conservadores se opunham a isso, dizendo que o sistema se mostrara ineficiente, desde que a ciência se libertara e o resultado fora a catástrofe. Diziam que começar com um mesmo tipo de sociedade seria o mesmo que preparar o mundo para uma nova catástrofe no futuro. Os conservadores diziam que, se não fosse o sistema que eles propunham, a Atlântida nem sequer haveria sobrexistido pela décima parte do tempo que existira. Achavam inviável conservar o povo ignorante, porque a espécie humana era dotada de um ímpeto tendente a levá-la ao progresso. Afirmavam que uma ciência controlada e bem orientada levara o homem a um ponto capaz de corrigir as suas próprias imperfeições biológicas, faria a mente humana se tornar menos egoísta, mais rica de amor à vida.

Seria fastidioso enumerar a enorme sucessão de pontos de vista das duas correntes. Basta-nos fixar a idéia da existência de que as duas linhas de pensamento continuaram existindo de maneira irreconciliável. Os Conservadores estabeleceram as bases para o incremento da sua maneira de pensar, mas não conseguiram se impor, nos primeiros milênios, no Egito. Assim, a corrente não conservadora, que mais tarde se transformou naCONJURA DO SILÊNCIO (ou OBSCURANTISMO), de início teve menos poder no Egito. Ali a corrente dominante foi a conservadora e com certeza isso foi a razão pela qual aquela civilização existiu por cerca de cinco mil anos.

Em Yucatã a corrente conservadora teve vida efêmera, pois, no período de maior esplendor do Egito, a conjura já havia dominado e conduzido a civilização ali estabelecida à ignorância quase completa. A corrente Celta teve menor influência dos conservadores, por isto os altos conhecimentos Atlantas quase nem chegaram a existir, o pouco que foi estabelecido lá teve duração ainda menor do que as duas outras.

A linha básica de pensamento dos conservadores era modelada de forma tal que os conhecimentos deveriam ser oferecidos, não deveriam de forma alguma ser negados, mas mantidos sob forma secreta. Ao homem deveria ser concedido o direito natural de saber, de ser obedecida a sua inclinação biológica de investigar, saber e usar as leis naturais. Contudo deveria haver um rigoroso controle por parte de uma cúpula, constituída por mentores dos três poderes citados. O conhecimento das ciências, bem como a militância política, só seria permissível quando fornecido através de um poder disciplinador. Foi exatamente essa idéia que deu origem àquilo que mais tarde veio a receber o nome deESCOLA DE MISTÉRIO, sobre o que tratamos devidamente em outra palestra.

As ESCOLAS DE MISTÉRIOS” constituíam uma forma de controle do conhecimento. Uma maneira de tornar mais seguro o saber para evitar a repetição da história com outra destruição terrível.

Assim nasceu com as Escolas de Mistérios a idéia “O CONHECIMENTO MEDIANTE A INICIAÇÃO”. A cada um, segundo o seu nível mental, a sua capacidade de entendimento, a sua disciplina e dedicação. De grau em grau as verdades deveriam ir sendo reveladas, os conhecimentos oferecidos, e a pesquisa permitida.

Por outro lado os propugnadores da ignorância tentavam apagar todo o conhecimento do passado do homem, negar toda a verdade, interditar a ciência e eliminar a história de outros ciclos de civilização. Negar tudo a qualquer preço. Não podemos negar que o propósito dos não conservadores era válido e se baseava em fatos merecedores de certa atenção. Fundamentalmente eles desejavam que outra hecatombe jamais viesse a ocorrer, que a terra não mais servisse de palco para uma desgraça tão grande como aquela que ocorrera na Atlântida, provocada pelo conhecimento do homem sobre os princípios e leis do Criador. Que somente a ELE fosse dado o direito de manipulá-las, que jamais o homem tivesse o direito de interferir inconscientemente em coisas ligadas à Criação e à Natureza.

Os obscurantistas tinham como certo que há leis e princípios que somente cabe a Deus manipular. Tinham como meta um planeta em condições ideais à continuidade da vida, onde o homem pudesse se perpetuar como espécie e manter intacto o corpo, como um templo sagrado para a evolução da alma.

O mesmo desejavam os conservadores, somente que estes admitiam que negar a verdade era o mesmo que permitir que ela surgisse deturpada. Não permitir a ciência era o mesmo que estimular o seu progresso na clandestinidade, sem qualquer controle, portanto. Assim, a melhor maneira era ensinar mediante um rígido controle. Os conservadores tinham o propósito de melhorarem o sistema existente na Atlântida, onde existia o tríplice controle, mas exercido de uma forma pouco rígida. Lá não existiam as Escolas de Mistérios, organizações criadas no Egito, visando tornar mais efetivo o controle do saber e a conservação da unidade Política, Religião, Ciência.

Da discrepância de pontos de vista se originou uma luta de uma violência incrível no campo político entre os dois grupos, cujos reflexos condicionam totalmente a política mundial de hoje, e todas as lutas e divisões existentes no passado e no presente da nossa civilização nada mais são do que desdobramentos daquela.

Durante três milênios a filosofia dos conservadores conseguiu se manter firme no Egito, porém os seus oponentes nunca permaneceram inativos. Lutaram por um ideal, lutaram com todas as armas e com firme propósito de destruir a filosofia conservadora a qualquer preço.

Mesmo que a história haja sido apagada, isto que estamos revelando é uma verdade que explica toda problemática do mundo histórico e cujos registros fragmentários pertencem a algumas instituições mistico-religiosas.

Na sequência desta série de palestras, veremos como evoluíram estas duas correntes até os nossos dias, e como tudo aquilo que aparece ilógico na história desta atual civilização toma sentido. Também veremos o papel exercido pelas forças do lado negativo, pelos seres kelipóticos, dificultando a ascensão do ser para o seu ponto focal, que é o PODER SUPERIOR.

Atributos do espírito

                                                                                 JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO  F.R.C

 Tema 6
1998 - 3352.

"O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel."
— Platão.

No estudo da creação, há necessidade, inicialmente, de ser considerada a creação dos espíritos, e, paralelamente, a creação das coisas que compõem o mundo. Assim é que, desde a época védica, teoricamente, foram consideradas duas origens, às quais foram dadas, respectivamente, os nomes de Purusha e Prakriti. Em palestras futuras, detalharemos como, basicamente, se processa a creação, tendo‑se em conta estas duas origens. No momento, iniciaremos estudando algumas condições inerentes à natureza do espírito.

Houve um período de nossa história em que os pensadores religiosos se preocuparam demais com a natureza dos anjos. Isto chegou ao máximo em Bizâncio, onde os filósofos religiosos discutiam sobre o sexo dos anjos, quantos anjos cabiam na cabeça de um alfinete, e coisas assim. Discussões que não levavam a coisa alguma, e disto nasceu o termo “discussão bizantina” – discussão sobre coisas de somenos importância.

Não queremos nesta palestra enveredar numa discussão bizantina, ao salientar algumas particularidades da natureza do espírito, porque, somente tendo-se alguma idéia do que na realidade ele seja, é que se pode melhor compreender inúmeras coisas inerentes às religiões e à evolução.

Todas as religiões afirmam que Deus criou os anjos e os espíritos. Então vejamos um mínimo daquilo que pode representar um espírito, a fim de podermos ter uma idéia mais precisa sobre a natureza deles.

Basicamente, três qualidades são fundamentais para que se possa dizer que algo é um espírito: O Querer, a Consciência do Eu, e um quanto de Energia.

1ª – O QUERER:

O Querer, base essencial do Livre Arbítrio, é fundamental para que seja caracterizada uma entidade, uma individualidade. O espírito tem que ser uma individualidade, uma unidade tanto ou quanto personalizada. Se assim não for, como conceber um indivíduo destituído do querer? Suponhamos uma pessoa que, ao acordar pela manhã, não fosse o seu querer que a fizesse abrir os olhos e sim o querer de X. Para se levantar, fosse o querer de X, para trocar de roupa, também, para ir ao banheiro e providenciar a higiene pessoal, para centenas de atos voluntários indispensáveis como o locomover-se, o tomar o café da manhã, o sair para o trabalho, pegar uma locomoção, para dirigir o veículo, abrir as portas, chegar ao emprego e durante o dia inteiro praticar um imenso número de atos que são diretamente dependentes de um ato de querer. Suponhamos que tudo isso não ocorresse pelo querer da própria pessoa e sim pelo querer de X. Então cabe a indagação: Tal ser existiria como um indivíduo? – Qual a diferença dele para um autômato? Sem a capacidade de expressar-se, de pensar e de agir própria, como admitir que tratar-se-ia de um ser pessoal? – Por certo o ser seria X, pois era ele quem tudo comandava. Por isso, para ser um espírito, é indispensável o “querer”.

O exercício do querer está diretamente ligado ao Livre Arbítrio. Para que uma pessoa possa exercer o querer, ela tem que ter a liberdade relativa de fazer tudo aquilo que quiser fazer. Sem o querer, há uma anulação total da individualidade pessoal.

2ª – CIÊNCIA DE SI:

É fundamental que o espírito tenha ciência de si mesmo. O “Eu Sou” é inerente à percepção de si. Até o próprio Poder Superior define-se como “EU SOU QUEM SOU”. Isto equivale a dizer eu sei que existo, sei quem eu sou.

Pode-se pensar que a consciência do eu é inerente à vida. Isto não é verdade, porque somente os espíritos que evoluem e algumas outras formas de existência ligadas diretamente à creação são dotados do atributo de ter ciência de si mesmo, de se dar conta de ser quem é.

Onde quer que exista vida, há uma forma espiritual, há um espírito, mas nem sempre se trata de espírito ligado à cadeia evolutiva do tipo humano. Uma célula vegetal, por exemplo, tem vida, e, tendo vida, com certeza tem espírito, porém esse tipo de espírito não evolui como um ser humano, nela não se faz presente o “eu sou” – impropriamente considerado o ter consciência de si – e nem um querer independente. Difere, portanto, de inúmeros animais e do ser humano. Os Rosacruzes têm dois nomes para denominar o elemento impulsionador da vida. Dizem que todas as formas de vida têm energia de espírito, mas nem todas têm alma. Assim eles diferenciam na vida duas coisas: Energia de Espírito e Alma.

Dentro dessa conceituação, podemos dizer que a alma tem individualidade, tem ciência de si, tem um querer próprio, enquanto que as demais formas de vida têm a Energia Vital, que é a energia do Poder Superior, comandada diretamente pelo querer d’Ele. Uma célula tem vida, portanto tem espírito, mas por certo não tem consciência de si, não sabe quem ou o que é. Não pode exercer o querer próprio e nem pode pensar Eu sou eu.

É exatamente a ciência de si que permite o exercício do querer. Não poderia haver livre arbítrio sem a ciência de si. Também temos que admitir que a ciência de si seja tão somente uma parte, um exercício da Consciência Cósmica. A recíproca não é verdadeira, pois há Consciência[1] sem o exercício do querer, mas não há exercício do querer sem ciência.

3ª – A ESTRUTURA:

É fácil sentir a necessidade de mais um terceiro elemento para oferecer o mínimo necessário para a existência de um espírito. Já vimos que, no mínimo, ele deve ter consciência e querer. Mas consciência e querer não são coisas, não existem sozinhos, têm necessidade de algo mais, de um suporte, algo a que possam ser imanentes. Como tudo na natureza só se manifesta pela vibração, não se pode ter dúvidas de que deve existir uma estruturação, uma manifestação vibratória, que sirva de suporte para a consciência e para o querer poder ser exercido.

A consciência não é uma manifestação vibratória, a sua natureza é totalmente diferente de qualquer coisa que exista, seja em qual for o plano. Ela não é uma “coisa”, mas sim um “estado” inerente a alguma “coisa”. Algo que se manifesta em uma estrutura, e o querer é apenas um exercício através de uma estrutura. Por isso não se procure saber qual o nível de vibração da consciência, pois ela não é vibratória.

Uma das mais elevadas Trindades, como vimos na palestra anterior, é formada pelo QUERER + RA + MA – origem de tudo quanto há. O Poder Superior só se manifesta como uma “Trindade”, dentro da Creação, quando a Consciência, através do Querer, faz interagir RA com MA, originando uma vibração, que poderá se manifestar, sob forma de energia ou de matéria. A CONSCIÊNCIA É A ALMA DE DEUS, A CONSCIÊNCIA É O TEMPO, A CONSCIÊNCIA É A ESSÊNCIA DO PODER SUPERIOR, É A GÊNESE DE TUDO QUANTO HÁ.

No mundo creado, a consciência só pode se manifestar de uma forma imanente, ou seja, em alguma coisa, assim ela se apresenta quer em estruturas materiais, quer energéticas. Um espírito não é matéria, logo ele tem que ser energia, e assim podemos dizer que ele é um tanto de energia dotado de consciência e “querer”. Essa consciência, contudo, pode estar ou não individualizada. É individualizada quando há a consciência do eu, quando a partícula é capaz de se dar conta de si como ser. Dizemos isto porque um ser pode ter tão somente a consciência universal, não particularizada como individualidade independente. Cada um de nós é um espírito, mas com individualidade própria, com uma consciência que, embora seja universal, está bem individualizada, a ponto de cada pessoa dizer eu sou eu e tu és tu.

Quando se fala na creação do espírito humano, com certeza pode-se afirmar que isto não diz respeito a uma forma física estruturada, e sim a um tanto de energia primordial dotada de uma individualização da consciência e concomitantemente com um Querer – livre arbítrio. O que se cria é o EU, a individualidade, o “dá-se conta de si”. Portanto o espírito é uma energia com individualidade e consciência de si como forma existencial.

A individualidade se manifesta pelo querer. Sem o querer não pode haver individualidade, como vimos no início. Esta é uma das razões pela qual Deus nunca interfere no querer das pessoas, pois interferir é retirar, é anular o querer, e anulá-lo extingue a individualidade, o que equivale a exterminar o próprio espírito. Destruir um espírito seria destruir o seu Eu e destruir o “querer” é destruir o Eu. Coibir o exercício do livre arbítrio equivale a anular o “querer”, que é o mesmo que destruir a individualidade, ou, em outras palavras, destruir o espírito.

Existem indagações muito frequentes que consistem no se querer saber por que Deus não evita os males dos homens? Por que Deus deixa que se façam certas coisas indesejáveis? Por que Ele, sendo a bondade, permite que os seres façam males uns aos outros? Por que deixou que os anjos houvessem desobedecido e se revoltassem – como consta na Cabala e na Bíblia? A resposta reside em dois motivos principais. Primeiro porque o mal é algo muito relativo. Interpretamos o mal como aquilo que não nos é agradável, embora aquilo considerado como tal possa ser prazeroso para outro ser. Segundo, Ele deixa que os males se manifestem, porque eles são coisas oriundas do querer, ou seja, do exercício do livre arbítrio, e, sendo assim, se Deus os coibisse, então Ele estaria anulando, impedindo o “querer” do espírito, e isto seria ditar a extinção do espírito; seria fazer um espírito ser comandado pelo “querer” que não é o seu próprio, e isto, portanto, acarretaria a anulação da própria individualidade.

-------

[1] A Consciência existe desde sempre, É Eterna, exprime todas as possibilidades cósmicas de universos. É UNA, porquanto é infinita, de modo que está presente em tudo quanto há, até mesmo nos seres não dotados de ciência de si.

Hermetismo e exercícios místicos

                                                                       JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO  F.R.C.

"Quem quer colher mel, primeiro deve aprender a suportar picadas."

Tema 1799
2007 - 3360

Algumas religiões, especialmente as orientais, e também as Ordens Iniciáticas, dão muito valor a exercícios visando ampliar e a fazer nascer certas capacidades individuais. Por outro lado, o Hermetismo não se liga ao treinamento dos discípulos nesse sentido, e existe há uma razão para isso, a qual procuraremos esclarecer nessa palestra.

Filosofia Hermética, pela condição de ser unista[1], e mais ainda por ter como base o Princípio Mental – Universo Mental –, se distancia muito de todos os outros sistemas em muitos sentidos, especialmente no tocante à importância de exercícios no sentido de liberação espiritual. Certos exercícios, com certeza, auxiliam muito a pessoa se equilibrar na vida, ter mais saúde, mais equilíbrio emocional, ter menos ansiedade e angústia, portanto condições próprias do Mundo Imanente, porém que não leva o ser a sair dele, ou seja, auxiliar a agir em um estado ilusório. Isso para o Hermetismo fica em segundo plano, primeiramente ele deve aprender o como  sair da condição de mundo ilusório, como deixar de ser um prisioneiro da imanência. Por isso o Hermetismo não propõe muitos exercícios, como o fazem outras doutrinas, a não ser aqueles que dizem respeito à captação e administração da energia.

Em consequência de a Purificação[3] ser apenas decorrente da observância de códigos, e códigos serem necessários apenas para manutenção da ordem e respeito a algumas leis naturais, mas que diretamente nada auxilia  na libertação das cadeias da vida no Mundo Imanente, e não mais que isso. Por isso, o Hermetismo pode até incentivar a purificação como uma fórmula visando à preservação da ordem, mas não propriamente como algo que influa na libertação dos seres que vivem presos nas agruras do viver num mundo de ilusão – Imanência.

A meta principal do Hermetismo visa à libertação  dos seres condicionados ao existir no Mundo Imanente, ao viver num plano que é apenas um artifício da mente, uma ilusão, mas que ele crê ser verdadeiro. O objetivo do Hermetismo é libertar o ser do mundo da ilusão, da ilusão do viver no dia a dia, e não de estabelecer condições de  uma vida mais amena, diminuir reencarnações, etc. Isso é importante, mas o objetivo maior é a libertação da pessoa da prisão em que vive no Mundo de Maya, e para isso exercícios místicos pouco falem. Por exemplo, que valor desenvolver dons como a telepatia, como ela contribui para o ser voltar ao Ser?

Comumente a quase totalidade das religiões procura desenvolver seus programas  doutrinários considerando o mundo como uma realidade, o que não acontece com os altos níveis de ensinamentos do Hermetismo que mostra como o mundo habitual é um artifício da Mente, ou seja, uma ilusão. Essa é a razão que leva os estudos da VOH a dar pouca ênfase às condições da Imanência, preocupando-se mais  em fazer o discípulo chegar à certeza do que o Primeiro Principio Hermético e por meio dele voltar à Unicidade.

A Purificação, e mesmo Cientificação[3], não são tão importantes quanto faz parecer a quase totalidade das religiões. Esta apenas pode ajudar a pessoa a entender  que o mundo é uma ilusão e assim ela querer se libertar dele, mas nenhuma dessas duas condições pode ser considerada libertadora. A Purificação chega a ser irrelevante, e mesmo a Cientificação tem  importância muito relativa, vale até onde ela facilitar o ser a voltar à origem.

Nenhuma forma de purificação liberta e nem mesmo a cientificação o faz. O valor da cientificação é maior do que o da purificação, porque enquanto esta apenas promove uma acomodação – descanso do peregrino – na trilha da libertação, a aquela faz o ser entender sua própria natureza e o que o espírito precisa fazer para um dia se tornar um ser liberto. Na verdade a cientificação vai bem mais alto do que a purificação, pois leva o ser ao conhecimento da verdade e isso pode se tornar uma forma de libertação. O próprio Jesus disse: “Conhece a verdade e ela te libertará”. Entenda que é através do conhecimento da verdade que a pessoa pode mais facilmente chegar à libertação.

A libertação depende principalmente daquele nível de Deus – Energia. A Cientificação leva o ser a se inteirar do papel fundamental da energia em todos os processos cósmicos, bem como no da libertação. Ela auxilia a pessoa a seguir o rumo em busca do objetivo principal, a libertação do “cativeiro” da Imanência.

Treinamentos diversos, entre os quais a prática da Ioga, auxilia, mas não são fundamentais na libertação do ser. São deveras úteis em diversos sentidos no tocante ao desenvolvimento espiritual, mas existem muitos outros meios que são mais efetivos. Tudo se resume à energia, muitas práticas auxiliam no administrá-la, mas, com bem menos esforço, se pode chegar a idênticos resultados. Uma prática meditativa, por exemplo, pode fazer a pessoa se sentir em comunhão com o Superior, vivenciar estados mentais maviosos. Acontece, porém, que tão logo o exercício cessa a pessoa volta ao plano vivencial comum, sem que tenha ocorrido qualquer aumento da energia pessoal, sem incremento de conhecimento sobre a natureza do mundo e a sua própria, e, em termos de energia ficar sujeito até, em certas ocasiões a diminuí-la em decorrência do desgaste inerente ao processo. E mesmo quando o método promove incremento de energia, de nada serve isso se a pessoa não souber como usá-la, e especialmente como não a perdes.

Mais do que o uso de exercícios místicos a conduta de vida e o método de agir são mais primordiais. Exercícios místicos, sem dúvidas são importantes na administração e captação da energia, mas estão distantes de muitas práticas de vida, como o saber se alimentar, e bem especialmente como  conduzir seus processos mentais.  

Tudo no universo é movido por energia, e a libertação não fica de fora. Sem energia o ser não tem como sair da ilusão em que vive, não tem meios para a libertação, por isso, no tocante à libertação espiritual a VOH, em primeiro plano, dá ênfase a ensinamentos sobre a natureza do ser e do universo, e em especial de como adquirir energia – ter o Máximo de poder pessoal possível – e não a perder inutilmente. Põe em primeiro plano ensinamentos que permitem o aprendizado em torno da captação e administração da energia e não aqueles que apenas geram estados sensoriais – criadores de sidis.

Havendo bastante energia as qualidades potenciais do campo místico se manifestam espontaneamente. Há pessoas que desde criança demonstram poderes – Os Sete Poderes do Mago – sem que para isso haja praticado exercícios místicos. A fonte abastecedora de energia deles não depende de exercícios e treinamentos especiais, mas sim de um dom adquirido pelo método de vida muitas vezes em outras encarnações.

É melhor que o tempo desprendido para desenvolvimento de estados mentais incomuns seja usado na aquisição de conhecimentos do como adquirir, e administrar a energia, do que para a obtenção de capacidades psíquicas. Não vale muito ter muito treinamento místico e não ter energia para a efetivação dos processos conquistados. A Ioga propõe uma série de exercícios que visam captação de Prana – energia sutil – e nesse caso está em uníssono com o Hermetismo. Contudo, mesmo assim o Hermetismo não usa exercício de Ioga e de muitos outros sistemas porque sabe que muito mais fácil é captar energia independentemente de exercícios. Noventa por cento da energia que a pessoa capta ela é dispersa inutilmente. Não adianta a pessoa saber captar e não saber administrar.

Muitas doutrinas primam em exercícios de captação de energia, mas nem ao menos citam a existência de muitos meios de perda; nem mesmo falam da existência de predadores de energia que vivem vampirizando as pessoas. Para os vampiros é até muito bom que a pessoa pratique exercícios de captação, pois assim ela fica mais rica naquilo que eles desejam (engordar a criação para servir de alimento).

O estudo da Quarta Câmara Hermética é direcionado ao estudo da energia, com ênfase especial para a aquisição, distribuição, perdas, etc. Muitos discípulos cobram dos instrutores a falta de exercícios no estudo do Hermetismo e a resposta é que embora sejam importantes para a pessoa viver melhor dentro do mundo imanente, contudo nenhum exercício é capaz de libertar o ser, pois não existe possibilidade de libertação sem que haja energia suficiente.

Um exercício místico pode fazer a pessoa “viajar” mentalmente por outros planos incomuns, mas não possibilita deslocamentos físicos e nem o exercício de ações neles. Pelos exercícios místicos pode ocorrer viagem, mas se não houver suficiente energia ela apenas será de nível mental, mas não de nível mais profundo, como aqueles que se consegue através de sonhos lúcidos. Por meio de práticas místicas a pessoa pode despertar Os Sete Dons do Mago (Vidência, Premonição, Telepatia, Telecinesia, Teleplastia, Astromancia e Anástase), mas nada será efetivado se não houver energia suficiente para a ativação do processo, especialmente da Anástase, capacidade de sair do corpo físico e agir fora dele. Exercícios podem facilitar essa capacidade, mas apenas em nível de percepção e não a nível físico. 

De tudo, o mais importante que existe é a pessoa ter capacidade de criar suas realidades, embora isso somente seja conferido a quem tiver um grande poder pessoal, um manancial imenso de energia. Para isso, mais do que exercícios meditativos, por exemplo, valem aquelas práticas do Nagualismo em geral – métodos dos feiticeiros – e conduta administrativa proposta pelo Hermetismo de nível superior. 

-------

[1] O Hermetismo, em essência, é uma uma filosofia unista (ou "monista), porque considera todas as coisas existentes como expressões cósmicas de UMa Única Realidade.
[2] A "purificação" denota o estado mental pelo qual o espírito se sente em "harmonia" e "obediência" com os códigos que considera "bons" e "corretos". Um ser "purificado" não sente "culpa", pois não "viola" nenhum preceito pessoal.
[3] A "cientificação" representa o estado em que o ser se dá conta de sua ilusória condição mental, ao mesmo tempo em que percebe a totalidade da manifestação cósmica do Universo, mas, ainda assim, preso ao ego, embora num nível bem mais elevado de percepção.