JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO — F.R.C.
"Quem quer colher mel, primeiro deve aprender a suportar picadas."
Tema 1799
2007 - 3360
Algumas religiões,
especialmente as orientais, e também as Ordens Iniciáticas, dão muito valor a
exercícios visando ampliar e a fazer nascer certas capacidades individuais. Por
outro lado, o Hermetismo não se liga ao treinamento dos discípulos nesse sentido, e existe há uma
razão para isso, a qual procuraremos esclarecer nessa palestra.
A Filosofia Hermética, pela condição de ser unista[1], e mais ainda por ter como base o Princípio Mental – Universo Mental –, se distancia muito de todos os outros sistemas em
muitos sentidos, especialmente no tocante à importância de exercícios no
sentido de liberação espiritual. Certos exercícios, com certeza, auxiliam muito
a pessoa se equilibrar na vida, ter mais saúde, mais equilíbrio emocional, ter
menos ansiedade e angústia, portanto condições próprias do Mundo Imanente, porém que não leva o ser a sair dele, ou seja, auxiliar a agir
em um estado ilusório. Isso para o Hermetismo fica em segundo plano,
primeiramente ele deve aprender o como sair da condição de mundo
ilusório, como deixar de ser um prisioneiro da imanência. Por isso o Hermetismo
não propõe muitos exercícios, como o fazem outras doutrinas, a não ser aqueles
que dizem respeito à captação e administração da energia.
Em consequência de a Purificação[3] ser apenas decorrente da observância de códigos, e códigos serem
necessários apenas para manutenção da ordem e respeito a algumas leis naturais,
mas que diretamente nada auxilia na libertação das cadeias da vida no
Mundo Imanente, e não mais que isso. Por isso, o Hermetismo pode até incentivar a purificação como uma fórmula visando à preservação da ordem, mas não propriamente
como algo que influa na libertação dos seres que vivem presos nas agruras do viver num mundo de ilusão – Imanência.
A meta principal do Hermetismo visa à libertação dos seres
condicionados ao existir no Mundo Imanente, ao viver num plano
que é apenas um artifício da mente, uma ilusão, mas que ele crê ser verdadeiro.
O objetivo do Hermetismo é libertar o ser do mundo da ilusão, da ilusão do
viver no dia a dia, e não de estabelecer condições de uma vida mais
amena, diminuir reencarnações, etc. Isso é importante, mas o objetivo maior é a
libertação da pessoa da prisão em que vive no Mundo de Maya, e para isso
exercícios místicos pouco falem. Por exemplo, que valor desenvolver dons como a
telepatia, como ela contribui para o ser voltar ao Ser?
Comumente a quase
totalidade das religiões procura desenvolver seus programas doutrinários
considerando o mundo como uma realidade, o que não acontece com os altos níveis
de ensinamentos do Hermetismo que mostra como o
mundo habitual é um artifício da Mente, ou seja, uma ilusão. Essa é a razão que leva os estudos da VOH a dar pouca ênfase às
condições da Imanência, preocupando-se
mais em fazer o discípulo chegar à certeza do que o Primeiro Principio
Hermético e por meio dele voltar à Unicidade.
A Purificação, e mesmo Cientificação[3], não são tão importantes quanto faz parecer a quase totalidade das
religiões. Esta apenas pode ajudar a pessoa a entender que o mundo é uma
ilusão e assim ela querer se libertar dele, mas nenhuma dessas duas condições
pode ser considerada libertadora. A Purificação chega a ser irrelevante, e mesmo a Cientificação tem importância muito relativa, vale até onde ela facilitar o ser a voltar à origem.
Nenhuma forma de purificação liberta e nem mesmo a cientificação o faz. O valor da cientificação é maior do que o da purificação, porque enquanto esta apenas promove uma acomodação – descanso do
peregrino – na trilha da libertação, a aquela faz o ser entender sua própria natureza e o que o
espírito precisa fazer para um dia se tornar um ser liberto. Na verdade a cientificação vai bem mais alto do que a purificação, pois leva o ser ao conhecimento
da verdade e isso pode se tornar uma forma de libertação. O próprio Jesus disse: “Conhece a verdade e ela te
libertará”. Entenda que é através do conhecimento da verdade que a pessoa
pode mais facilmente chegar à libertação.
A libertação depende principalmente daquele nível de Deus – Energia. A Cientificação leva o ser a se inteirar do
papel fundamental da energia em todos os processos cósmicos, bem como no da
libertação. Ela auxilia a pessoa a seguir o rumo em busca do objetivo
principal, a libertação do “cativeiro” da Imanência.
Treinamentos diversos,
entre os quais a prática da Ioga, auxilia, mas não são fundamentais na
libertação do ser. São deveras úteis em diversos
sentidos no tocante ao desenvolvimento espiritual, mas existem muitos outros
meios que são mais efetivos. Tudo se resume à energia, muitas práticas auxiliam
no administrá-la, mas, com bem menos esforço, se pode chegar a idênticos
resultados. Uma prática meditativa, por exemplo, pode fazer a pessoa se sentir
em comunhão com o Superior, vivenciar estados mentais maviosos. Acontece,
porém, que tão logo o exercício cessa a pessoa volta ao plano vivencial comum,
sem que tenha ocorrido qualquer aumento da energia pessoal, sem incremento de
conhecimento sobre a natureza do mundo e a sua própria, e, em termos de energia
ficar sujeito até, em certas ocasiões a diminuí-la em decorrência do desgaste
inerente ao processo. E mesmo quando o método promove incremento de energia, de
nada serve isso se a pessoa não souber como usá-la, e especialmente como não a
perdes.
Mais do que o uso de
exercícios místicos a conduta de vida e o método de agir são mais primordiais.
Exercícios místicos, sem dúvidas são importantes na administração e captação da
energia, mas estão distantes de muitas práticas de vida, como o saber se
alimentar, e bem especialmente como conduzir seus processos
mentais.
Tudo no universo é
movido por energia, e a libertação não fica de fora. Sem energia o ser não tem
como sair da ilusão em que vive, não tem meios para a libertação, por isso, no tocante à libertação espiritual a VOH, em primeiro plano,
dá ênfase a ensinamentos sobre a natureza do ser e do universo, e em especial de como adquirir energia – ter o Máximo de
poder pessoal possível – e não a perder inutilmente. Põe em primeiro plano
ensinamentos que permitem o aprendizado em torno da captação e administração da
energia e não aqueles que apenas geram estados sensoriais – criadores de sidis.
Havendo bastante
energia as qualidades potenciais do campo místico se manifestam
espontaneamente. Há pessoas que desde criança demonstram poderes – Os Sete Poderes do Mago – sem que para isso
haja praticado exercícios místicos. A fonte abastecedora de energia deles não
depende de exercícios e treinamentos especiais, mas sim de um dom adquirido
pelo método de vida muitas vezes em outras encarnações.
É melhor que o tempo desprendido para desenvolvimento de estados mentais
incomuns seja usado na aquisição de conhecimentos do como adquirir, e
administrar a energia, do que para a obtenção de capacidades psíquicas. Não
vale muito ter muito treinamento místico e não ter energia para a efetivação
dos processos conquistados. A Ioga propõe uma série de exercícios que visam
captação de Prana – energia sutil – e
nesse caso está em uníssono com o Hermetismo. Contudo, mesmo assim o Hermetismo
não usa exercício de Ioga e de muitos outros sistemas porque sabe que muito
mais fácil é captar energia independentemente de exercícios. Noventa por cento
da energia que a pessoa capta ela é dispersa inutilmente. Não adianta a pessoa
saber captar e não saber administrar.
Muitas doutrinas
primam em exercícios de captação de energia, mas nem ao menos citam a existência
de muitos meios de perda; nem mesmo falam da existência de predadores de
energia que vivem vampirizando as pessoas. Para os vampiros é até muito bom que
a pessoa pratique exercícios de captação, pois assim ela fica mais rica naquilo
que eles desejam (engordar a criação para servir de alimento).
O estudo da Quarta Câmara Hermética é direcionado ao estudo da energia, com ênfase especial para a
aquisição, distribuição, perdas, etc. Muitos discípulos cobram dos instrutores
a falta de exercícios no estudo do Hermetismo e a resposta é que embora sejam
importantes para a pessoa viver melhor dentro do mundo imanente, contudo nenhum
exercício é capaz de libertar o ser, pois não existe possibilidade de
libertação sem que haja energia suficiente.
Um exercício místico
pode fazer a pessoa “viajar” mentalmente por outros planos incomuns, mas não
possibilita deslocamentos físicos e nem o exercício de ações neles. Pelos
exercícios místicos pode ocorrer viagem, mas se não houver suficiente energia
ela apenas será de nível mental, mas não de nível mais profundo, como aqueles
que se consegue através de sonhos lúcidos. Por meio de
práticas místicas a pessoa pode despertar Os Sete Dons do Mago (Vidência, Premonição, Telepatia, Telecinesia, Teleplastia,
Astromancia e Anástase), mas nada será efetivado se não houver energia
suficiente para a ativação do processo, especialmente da Anástase, capacidade de sair do corpo físico e agir fora dele. Exercícios podem
facilitar essa capacidade, mas apenas em nível de percepção e não a nível
físico.
De tudo, o mais
importante que existe é a pessoa ter capacidade de criar suas realidades,
embora isso somente seja conferido a quem tiver um grande poder pessoal, um
manancial imenso de energia. Para isso, mais do que exercícios meditativos, por
exemplo, valem aquelas práticas do Nagualismo em geral – métodos dos
feiticeiros – e conduta administrativa proposta pelo Hermetismo de nível
superior.
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[1] O Hermetismo, em essência, é uma uma filosofia unista (ou "monista), porque considera todas as coisas existentes como expressões cósmicas de UMa Única Realidade.
[2] A "purificação" denota o estado mental pelo qual o espírito se sente em "harmonia" e "obediência" com os códigos que considera "bons" e "corretos". Um ser "purificado" não sente "culpa", pois não "viola" nenhum preceito pessoal.
[3] A "cientificação" representa o estado em que o ser se dá conta de sua ilusória condição mental, ao mesmo tempo em que percebe a totalidade da manifestação cósmica do Universo, mas, ainda assim, preso ao ego, embora num nível bem mais elevado de percepção.