Introdução à natureza dos sonhos

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO  F.R.C.

Tema 356
1995 - 3348

"Nem sempre está dormindo quem está de olhos fechados."

Em todas as épocas o sonhar exerceu grande influência sobre as pessoas. Para uns, é algo sem significação, para outros é algo tão importante que muitos sonhos foram tidos como mensagens dos deuses.

Na Bíblia há muitas citações a respeito de sonhos, muitos profetas receberam mensagens das divindades através deles. Há muitas referências aos anúncios feitos em sonhos pelos anjos anunciadores, assim aconteceu com o nascimento de Salomão e de Jesus.

Teriam os sonhos importância real? - Certamente, pois na Bíblia está escrito: Quando os tempos forem chegados, as crianças terão visões e os velhos terão sonhos.

A fisiologia até o momento não pode explicar o que na realidade são os sonhos, apenas ela consegue detectar quando uma pessoa está sonhando e alguns mecanismos cerebrais inerentes ao processo, mas de forma alguma o que ele é em essência, contudo através da metafísica no campo do Unismo isso se torna de fácil compreensão.
            
Sendo algo muito enigmático, é muito elevado o número de tentativas de explicá-los, chegando mesmo a existir uma mística inerente aos sonhos. A arte divinatória tem nos sonhos um dos seus principais suportes operacionais.
            
Sempre houve os que tentaram interpretar os sonhos. Na Grécia antiga as pitonisas pre­viam o futuro e adivinhavam os acontecimentos pelos sonhos, tal como faziam também os antigos sacerdotes da Pérsia.
            
Para os Cristãos e Judeus e o mais conhecido de todos os sonhos é aquele que José, filho de Jacó interpretou para um Faraó do Egito. Aquele sonho do Faraó constitui um dos tipos básicos e classificados como Sonho Profético.
            
Na psicanálise o sonho tem um papel muito importante haja vista o que disse Freud: “O sonho é na vida real o que conduz ao conhecimento do inconsciente”.
            
Os sonhos sempre foram envoltos por uma auréola de mistério, exatamente, não apenas porque representam um estado de percepção totalmente discrepante do estado de vigília, pois que, via de regra, são alheios aos princípios que regem o pensamento lógico. São condições que ocorrem como que fora do espaço-tempo comum. Na realidade é assim, somente a mente objetiva tem essa conotação de tempo, que vivenciamos no dia-a-dia, mas podemos afirmar que em outros níveis de consciência se tem uma sensação temporal característica.
            
Conforme o plano de consciência em que se esteja a sensação de fluir do tempo vai desde o patamar típico do dia a dia comum até um patamar em que se torna zero ao nível do NADA. Por isso é que durante o sono a pessoa perde a noção de tempo físico, a noção de cronologia. Sonham-se alguns segundos e tem-se a impressão de uma vivência correspondente a horas ou mesmo dias e meses do estado de vigília. Por outro lado, também cada ponto do “disco da consciência" tem escala temporal própria. Isto é o tampo linear é função do ponto de aglutinação – ponto de detecção da Mente sobre a Consciência.
            
Diz a medicina que o sonho é  indispensável à saúde mental. Se privar uma pessoa do sonho  por certo a sua mente entra em falência. Poucos sabem que  existem distintos tipos de sonhos como veremos:

· SONHOS DE TENSÕES;
· SONHOS PROFÉTICOS;
· SONHOS POR PERCEPÇÕES DO ESPÍRITO;
· SONHOS POR PROJEÇÕES ASTRAIS;
· SONHOS POR VIVÊNCIA DE OUTRAS REALIDADES (MUNDOS).

Nesta palestra veremos dois  dos cinco principais tipos de sonhos.

SONHOS DE TENSÕES:
           
A psicanálise admite que seja através dos sonhos que ocorre um extravasamento das tensões internas. Freud disse que no sonho a mente fica liberta da auto-sensura, e assim se dá vazão aos impulsos sem as contenções impostas pelo formalismo da vida.
            
As preocupações geram tensões que fazem com que a mente cerebral torne-se muito ativa durante o sono. Assim, parte daquela atividade psíquica que ocorre durante o sono aflora em parte ao nível da consciência de virgília sob a forma de sonho. Via de regra, este tipo de sonho é algo confuso, incompleto e incoerente. Isso ocorre porque apenas parte daquela atividade é rememorada, além do mais como ele é formado a partir de fragmentos de várias situações diferentes estruturando um contexto muitas vezes sem segmento lógico algum. Portanto, o principal motivo do aspecto confuso apresentado pelos sonhos resulta da ação de filtro exercido pela auto-censura que apenas deixa aflorar no estado de vigília apenas parte daquela atividade. Somente aquilo que não envolve um grande conflito para a consciência moral é que aflora, o mais fica  totalmente bloqueado a nível de subconsciente. O filtro da censura, mesmo com a pessoa fora do estado de virgulais, somente deixa passar fragmentos esparsos do contexto, por isso é que  os sonhos geralmente são confusos.

Indubitavelmente um dos tipos de sonho é este: sonho de extravasamento da  tensões. Ele nada mais é do que um afloramento de condições que no estado de vigia é contido pela censura pessoal.
            
A dificuldade de muitos analistas é o não admitir que existam outras razoes, outros processos que se manifestam como sonho. É o querer que tudo seja tão somente  um extravasamento do conteúdo  inconsciente da pessoa. Nisso praticamente é que se baseiam algumas linhas de psicanálise. A psicanálise estabelece como norma de tratamento a utilização dos sonhos no sentido de tornar a pessoa consciente daquilo que está reprimido dentro dela. Dormindo a auto-censura rompe-se em parte deixando aflorar o problema como sonho aquilo que  estava reprimido em níveis profundos da mente cerebral e que era a causa de algum distúrbio somático ou de conduta.
            
Por isso para Freud o sonho seria uma tentativa da mente de realizar um desejo que no estado de vigília, ou está contido por uma série de fatores, especialmente pela censura. De forma alguma negamos isso, apenas queremos salientar que tal representa apenas um dos tipos possíveis de sonho.
            
Neste grupo situa-se grande parte dos sonhos eróticos. Para a psicanálise o sonho erótico nada mais representa do que o afloramento das repressões exercidas sob a sexualidade. As religiões sempre exerceram grande repressão à sexualidade por várias razões. Algumas delas estudamos na palestra A MÍSTICA MATRIMONIAL. Assim se estabelece a censura moral para impedir que a pessoa utilize-se  da sexualidade de forma indiscriminada. Parece ser isso uma imposição prejudicial desde que ela pode ser fonte de distúrbios. Mas Queremos dizer que mais sério é a liberdade sem limites como veremos depois. Mas, por outro lado a sexualidade pode servir de mecanismo para sonhos projetivos. Se a liberdade sexual por um lado diminuiria as tensões, por outro lado ela ocasiona seríssimos problemas para a pessoa, não apenas a nível social como especialmente a nível energético.
            
Na temática referente às repressões de natureza sexual deve ser considerado tudo aquilo que já ensinamos sobre a Energia Sutil.
            
Mas queremos dizer que nem sempre um sonho erótico representa um afloramento de uma repressão sexual, pois existe outro mecanismo que estudaremos numa palestra futura desta série e que é algo bem diferente e que está sujeito, a ser  perigoso.

SONHOS PROFÉTICOS:

Na Mente Cósmica – Consciência – tudo quanto há ou que possa vir a ser já existe e aquilo que chamamos mente individual nada mais é do que uma parcela daquela. Assim sendo na consciência já está o presente, o passado e o futuro. Por tal razão é possível em determinadas situações a pessoa ter acesso a um nível que ela pode ter ciência até mesmo daquilo que ainda não se manifestou cronologicamente no seu mundo. Esse tipo de acesso à mente  atemporal é possível mesmo no estado de vigília, porém, é mais comum durante o sono quando há o silencio do diálogo interno, quando há contenção do pensamento.

O pensamento é como um caçador ” disse o M. G. que está a todo tempo se movendo de um lugar para ouro, permanentemente espreitando. No estado de vigília a pessoa permanentemente está com a mente em grande atividade sob a forma de pensamentos. À cada segundo o pensamento muda de um lugar para outro, de uma coisa para outra, de uma circunstancia para outra. A pessoa tem um tagarelar interno permanente e isso constitui a primeira grande dificuldade ao acesso a níveis mais elevados de consciência. Durante o sono o diálogo interno é atenuado acentuadamente e assim torna-se mais fácil a pessoa ter acesso aos planos mais altos da sua natureza cósmica.
         
Abordando a Centelha Cósmica inerente à cada pessoa é possível se ter acesso ao futuro e  isso pode aflorar como um sonho. Aquilo que consideram realidade habitual é apenas um dos incontáveis posicionamentos – registros – de afloramento daquilo que existe na Consciência. Na realidade quando tal acontece trata-se de uma visão além do tempo cronológico. Tudo já existe na consciência, por isso é bastante uma consulta aos registros da consciência para que ocorra  é provável a antevisão do futuro. A abordagem de distintos pontos da Consciência é  mais fácil de ocorrer em estado onírico do que no de vigília.
            
Quando a pessoa tem acesso aos registros do tempo, que é parte de sua própria natureza, durante o sono ela ao acordar, ao voltar ao estado de virgília tem uma sensação exata de haver tido um simples sonho.
         
A mente tem um escudo protetor natural que protege a pessoa contra grandes perigos inerentes aos sonhos como estudaremos em outra palestra. Esse perigo diz respeito à identificação que pode ocorrer não apenas no estado de vigília como também no sonho. No estado de vigília a pessoa vive sem cosmo-ciência de si, vive quase todo tempo identificado com as tensões, com aquilo que lhe chega pelos canais dos sentidos. Praticamente só em poucos momentos a pessoa está consciente de si. Durante o sonho ocorre exatamente o contrário, a pessoa mesmo que normalmente não esteja consciente de si mesmo assim ela assiste a coisa como um espectador.
            
Durante séculos o homem se recusou a aceitar o sonho como coisa de sua autoria. Ao sonhar a pessoa tem a impressão dele ser apenas um espectador de seu próprio sonho, e só rara e vagamente ela percebe como se fosse uma produção pessoal, algo à semelhança de um filme em que ele é um espectador. Mesmo que ele seja um dos personagens naquele episódio do sonho mesmo assim ele sente-se como se fosse um mero espectador.
            
Em tema futuro veremos uma situação muito séria exatamente quando em vez de for um espectador a pessoa se identifica com o próprio sonho. Quando isso ocorre podemos afirmar, por razoes que estudaremos numa próxima palestra, existe uma situação real de perigo. Para a psicanálise o sonho é uma produção da pessoa embora a sensação de quem sonhou do sonhador seja o oposto disso. Ele tem a sensação de haver sido algo que ele apenas assistiu, mesmo que haja sido um dos personagens.
            
Outro ponto que merece consideração diz respeito à linguagem dos sonhos. Em uma palestra anterior em que tratamos de outros mundos dissemos que a linguagem de comunicação entre o mundo físico e o mundo hiperfísico se processa tem como expressão a linguagem simbólica. São os símbolos que servem de linguagem entre diferentes mundos. Assim, o conteúdo onírico tem grande percentual de símbolos.