Os seres e a ilusão de Universo

                                                                        JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO  F.R.C.

Tema 1855
2007 - 3360

“O nosso poder é o nosso intento".
— Miguel Ruiz.

A própria ciência questiona se este universo no qual existimos é único ou apenas um entre muitos outros. Tudo indica que o número de universos é grande, embora nada saibamos do que eles constam. Se existirem outros é até possível que tudo seja diferente, mesmo as leis e princípios físicos podem ser diferentes. Nesse tema vamos nos ater ao nosso universo e estudá-lo como se ele fosse uma bolha flutuante no seio de MA[1] povoado por miríades de seres.

Se não se sabe  nem mesmo se as leis que regem outros universos são as mesma daqui, por isso apenas se pode estudar parcialmente o que existe no nosso, e que compreende todo o conteúdo de conhecimentos da ciência. Não somente o mundo material, mas todos os planos existenciais que conhecemos integram a nossa “bolha”. Podemos dizer que ela é plena de energia, e todas as interações e constituições existentes dependem da energia.

As pessoas não se dão conta de que vivem envolvidas por miríades de situações que, na verdade, não são mais que um labirinto de ilusões, ou como dizem os orientais, e muitos iniciados. Vivem sonhando e não acreditando que esse universo seja uma criação mental. Não vamos discutir se todos os  universos  são reais, na verdade o que podemos dizer é que nenhum deles é real, todas as pessoas vivem totalmente presas à ilusão de um mundo  real. O Hermetismo pensa assim porque está explicito no Primeiro Principio que diz: “O Universo é mental”.

Por não suspeitarem na irrealidade das coisas, por não aceitarem essa vida como sendo um sonho, as pessoas ficam presas nesse mundo por tempo indefinido, presas apenas porque acreditam na existência real, portanto, presas por uma ilusão. Como vivem  totalmente presas à ilusão mental, vivem totalmente  presas à ilusão de mundos. Assim ficam presas por tempo indefinido, até que percebam. Não desconfiam que a existência neste mundo se trate apenas de um sonho, mas do qual não conseguem acordar – sair. Não é impossível se acordar e sair do mundo de sonho, mas isso é difícil de acontecer porque descontinuidade é imensamente forte a ignorância da descontinuidade.

O Hermetismo tem como base a unicidade, a certeza de que tudo é UM e que a diversidade é apenas um engodo gerado pela mente. O filme Matrix mostra isso quando Neo teve de escolher entre tomar uma pílula vermelha indicativa da Verdade ou uma azul indicativa da ilusão. Ele optou pela vermelha, quis conhecer a Verdade, e assim tomou ciência de que aquele mundo que até então vivera era um grande teatro de ilusão, onde os seres são apenas figurantes que ignoram sua condição, que crêem ser personalidades reais. O Iniciado sabe que tudo é ilusão, que ele vive mergulhado num sonho, sem ignorar que ele é um aspecto de Deus oriundo da aparente descontinuidade da existência.

O drama da vida é isso que conhecemos, e como a problemática é muito séria então existem muitos meios de ensinar a conviver com a ilusão, dando origem a muitos sistemas religiosos que visam oferecer a salvação. Na verdade, o que as religiões ensinam, no máximo, pode libertar o ser da culpa, para vivenciar um estado que chamam de céu, mas isso não indica libertação, ele continua preso  na ilusão, continua mergulhado no sonho do existir na descontinuidade. O importante seria que as religiões não alimentasse a ilusão mental, mas o que fazem é dar outra roupagem aos que vivem na descontinuidade. Seria importante que levasse a um estado em que o ser se reconhecesse como uma centelha divina, e não como um ser dominado pelo Ego.

Conhece a verdade e ela te libertará”. O que significa conhecer a verdade, e o que significa libertará? A verdade é que esse mundo é irreal, e todas as situações são meros sonhos. Conhecer a verdade é saber que vivemos em um sonho, que esse mundo que julgamos tão concreto ele no máximo pode ser  comparado a uma imagem virtual. Não existe concretude alguma, a aparente concretude é puramente produzida pela mente. Conhecer a verdade, portanto, é conhecer a verdadeira condição desse mundo para poder despertar e sair do  sonho de realmente existir na complexidade. Por desconhecer a natureza deste mundo o ser vive muitas vidas sempre tão envolvido com a ilusão que em nenhum momento procura despertar, porque ignoram que esse mundo é uma ilusão, desconhece a verdade sobre o mundo em que vivem, ou melhor, no qual estão projetados. A quase totalidade das pessoas só sabe o como o existir na ilusão, por isso tentam resolver os problemas dentro do próprio sonho administrando-o como se fosse uma realidade.

Enquanto a pessoa está presa no sonho ela sofre as agruras desse sonho, que somente com o despertar é que ele chega à realidade de se sentir parte integrante de Deus. Quase todas as atividades na multiplicidade geram sofrimentos que, se bem examinados, se constata serem frutos da ignorância sobre a natureza individual. É essa ignorância que dá lugar às religiões aos sistemas sociais, políticos, filosóficos. Não se pode dizer que isso seja ruim, na verdade a maioria são boas, mas no máximo conduzem o ser àquele estado que o Hermetismo chama de “Nona Câmara”. Mesmo assim são importantes porque atendem, estabelecem uma trégua na caminhada do ser (descanso do peregrino). Podem até dar um sentido ao viver, mas não dá a libertação. Geralmente, até mesmo  reforçam a ilusão, ajudando à manutenção do sonhar, podendo até darem sentido ao existir, mas um existir na descontinuidade onde continuam prisioneiros. Dentro do sonho religiões e filosofias, assim como sistemas sociais e políticos podem aliviar os seres, mas nenhum procurar  estabelecer condições para a libertação.

No filme Matrix podemos ver isso. Neo optou pelo conhecimento da verdade e pôde sentir que aquele mundo era ilusão, mas os que lá viviam tinham a certeza de que tudo era real. Se ele houvesse optado pela pílula azul ele seria mais um naquela multidão, onde cada qual vive mergulhado em seus afazeres, envolvidos numa problemática imensa. Neal em vez de pedir a abertura de um portal para sair daquele mundo, ele também poderia passar a viver nele e ali fundar filosofias, religiões, sistemas sociais, religiões, estabelecer regras, oferecer a  salvação, etc. Os que vivem naquele mundo ilusório continuam indo e voltando (roda das encarnações). Mesmo sabendo a verdade sobre a natureza daquele mundo, Neal poderia ficar la visando auxiliar os seres ignorantes presentes naquele mundo. Assim muitos seres iluminados procederam, mesmo conhecedores da verdade optaram por viver no Mundo de Maia visando estabelecer as bases para uma futura libertação dos seres.

A condição idílica, o céu como é descrito pelas religiões, não pode existir dentro da  multiplicidade. Na existência material existem condições  amenas e condições terríveis, que o ser pode se envolver, mas em nenhum momento existe um verdadeiro paraíso. Existem turbulências e calmarias que a pessoa pode encontrar no mundo e dentro de si, mas isso ainda está distante de ser a libertação, pois a qualquer momento  tudo pode desmoronar, o céu pode ser desfeito [ver filme Amor Além da Vida.]

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[1] "MA" representa o "vazio quântico", o NADA, o "meio cósmico passível de vibrar pela ação do Querer Cósmico do Poder Creador ["Deus Creador"]". Exprime o Infinito, que interpenetra e constitui tudo quanto há. Todas as coisas e seres são aparentes modificações vibratórias de MA.