PEREGRINI SANTIAGO
"Não existe equilíbrio absoluto. Tudo está em estabilidade dinâmica".
— P.
Tema 128
2014 - 3367
Quem está certo? Quem está errado? Quem está em harmonia? Quem está em desarmonia? Essas indagações não possuem respostas prontas e definidas, pois as percepções são proporcionais às crenças, às intencionalidades e aos conhecimentos pessoais, no momento da percepção. A harmonia, em sua concepção mais estrita, é apenas uma vaga e remota elaboração ideal. No máximo, exprime a existência de um equilíbrio dinâmico, cujos componentes e forças, mentais em manifestação, estão instavelmente em movimento aparente de compensação.
Enquanto houver alguma sensação de ego, há, por conseguinte, algum nível de ilusão de separatividade, de maneira que o desapego efetivo somente é passível de manifestar-se com a anulação infinita do ente desejante. Embora seja uma uma idealização, a harmonia apresenta relevância para diversos níveis de experiências agradáveis do ser. Contudo, devido à instabilidade da acomodação circunstancial, motivada pelo tédio, diversas sensações de harmonia se instauram progressivamente, num processo perceptivo indo em direção à Estabilidade Absoluta da Mente. Ou seja, num processo cujo objetivo final equivalente ao estado de não-ser, como Consciência Cósmica não expressa mentalmente. Entretanto, enquanto o ego sentir as vivências de suas ilusórias separações da totalidade única do Infinito, sentirá que age de modo independente do outro, elaborando sentidos, imagens e mergulhando num mar de espelhos, meramente conceituais.
Assim como a harmonia representa apenas um idealização, o “mal” e o “bem” também expressam apreciações ideológicas. Representam, basicamente uma questão de estratégia, intencionalidade e posicionamento diante do "jogo virtual da existência". Tais elementos ainda não são, contudo, amplamente percebidos e sentidos pela maioria dos habitantes físicos deste planeta, devido ao atual patamar geral de lucidez existencial. Mas essa variação analítica e interpretativa funciona como dimensão egoica fundamental para que o ser possa aceder a níveis mais elevados de percepção e conhecimento. Mesmo no plano da aparente dualidade, isto é, no plano da creação, a relatividade analítica e interpretativa sobre os seres, objetos e eventos impede um real e clara delimitação acerca do "mal", do "bem", da "corrupção" e da "purificação", por exemplo. A apreciação diferencial diante do mundo obedece a estratégias pessoais de aceitação e controle, visando à própria sobrevivência. Como tal apreciação muda muito, em função de fatores culturais, geográficos, históricos, entre outros, é praticamente uma impossibilidade a incisiva afirmação estável acerca da validade real do objeto percebido e de sua imagem conceitual. Entretanto, malgrado essa relatividade conceitual, é importante ainda, nas sociedades em geral, que haja diversos níveis de controle social, tendo por objetivo a ordem local e o estabelecimento do convívio organizado entre os indivíduos, motivo pelo qual as leis civis são tão relevantes para atuarem de maneira a instaurar e preservar o bem-estar de cada um e da coletividade.
Portanto, os conceitos em destaque, ou seja, "harmonia", "mal" e "bem" não apresentam, portanto, nenhum valor de estabilidade real e de existência independente. O "ponto certo", como suposta "harmonia" e subjacente ao Universo, existiria como elemento entre desajustes. Desta forma, tal "ponto certo" seria, no mínimo, um aspecto potencial e presente nos "pontos errados" (desarmonias). No nível do "É", visão monista, tudo quanto há é simultaneamente coexistente como infinitas possibilidades atualizáveis pela Mente Universal. No TODO, estão potencialmente plasmados os lados "negativo" e "positivo", mas, ao mesmo tempo, Ele está além desses conceitos, pois é UMa Única condição cosmo-mental de existência.