Iniciações autênticas da Senda

                                                                                 JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.

Tema 423
1995- 3348

“Desconfia sempre do que parece provável e começa sempre por crer no que parece incrível."
— Êmile Gaboriau.

Em palestras anteriores descrevemos sucintamente duas das iniciações ligadas aos mistérios do fogo e ainda queremos descrever uma outra, que consideramos bem significativas, no tema seguinte desta série.

Quando há uma razão definida é permitido descrever parcialmente alguma iniciação desde que ela ocorra fora do plano material. A razão pela qual uma iniciação no mundo denso não deve ser revelada enquanto uma no mundo astral pode sê-lo decorre do fato desta não ser passível de imitação por parte de pessoas ou de organizações inescrupulosas. Assim, vamos descrever parcialmente nesta palestra mais uma iniciação bem significativa. A nossa intenção visa tão somente fazer sentir ao principiante da caminhada na senda o quanto de belezas e de ensinamentos dizem existir em certas iniciações concedidas pelas Ordens de alto nível.

A iniciação que escolhemos para explanar nesta palestra é imprescindível a todos os que anseiam por ser um iniciado na Magia do Fogo que integra os Mistérios de Apolônio. Esta revelação visa um propósito definido, pois, o que queremos na realidade, não é simplesmente repassar o que dizem os iniciados, e sim mostrar o grau de responsabilidade que um discípulo deve ter durante a sua caminhada na senda, especialmente quando ele adentra nos conhecimentos deixados por Apolônio.

Mais uma vez queremos dizer que uma iniciação fora do corpo pode ser feita em nível de percepção clara ou não, neste caso estamos nos referindo às iniciações que ocorrem enquanto a pessoa está fisicamente adormecida. Na realidade a maior parte das iniciações é efetivada a nível astral, portanto fora do corpo físico, enquanto a pessoa está adormecida. Ante tal afirmativa é possível que esteja sendo feito a seguinte indagação: - Que significação uma iniciação desta com a pessoa desde que a pessoa não está dormindo e consequentemente for do plano de consciência clara? - Eis o lado misterioso das iniciações autênticas, como veremos.

Num processo iniciatório o que mais interessa não é o recordar propriamente, ou mesmo o saber em que consiste certa iniciação, mas sim a carga emocional que ela é capaz de despertar. O que importa numa iniciação é o despertar de faculdades adormecidas no ser, são os sentimentos que começam a aflorar naquele a quem foi concedida a iniciação, e o “poder” é transferido ao iniciado. Algumas ordens de alto nível optam mais por iniciações em plano astral com o iniciando fisicamente adormecido. Isto nada mais é do que uma forma de resguardar aquele que é iniciado, pois uma pessoa iniciada está sujeita a se envaidecer. Pode aflorar nela a vaidade como decorrência de ser membro iniciado de um grau elevado de uma Ordem Tradicional, e consequentemente cair tão logo haja dado os primeiros passos na nova caminhada. Mas, mesmo que uma pessoa desconheça haver sido iniciada, os propósitos inerentes ao ato manifestam-se do mesmo modo, tal como se ela houvesse participado claramente consciente.

Na realidade, numa cerimônia iniciática no astral, mesmo que a pessoa esteja fisicamente adormecida, ela está consciente de tudo, pois o que está dormindo é a matéria e não o espírito. A percepção da pessoa está normal no plano astral mesmo que ela esteja em sono profundo. Pelo que dissemos não há diferença alguma quanto aos resultados da iniciação quer a pessoa participe em estado de sono ou de projeção de consciência. Na realidade uma iniciação em projeção de consciência traz em seu contexto um perigo, o de despertar vaidade, egocentrismo, autoritarismo e outras qualidades indesejáveis, embora isto não seja algo inerente à iniciação em si, mas algo que uma pessoa pode ter ainda facilmente aflorável. A iniciação não desperta diretamente a vaidade, mas indubitavelmente torna presente uma chance da pessoa manifestá-la se antes não a houver controlado o suficiente.

Em certas iniciações, sem que a pessoa o perceba claramente, embora esteja fisicamente adormecida mesmo assim a partir de então ela começa a sentir que algum tipo de transformação está nela se processando. Por exemplo, começa a sentir maior facilidade para compreender os mistérios da natureza, os ensinamentos ocultos da senda, especialmente os relativos à ordem e ao grau que lhe foi conferido; percebe que a partir de um determinado momento começou a sentir que está recebendo com facilidade um grande fluxo de conhecimentos o que não corria antes. Muitas vezes são conhecimentos que parecem de difícil compreensão para uma pessoa comum, mas que para ela são claros e óbvios; um manancial de informações que afloram inesperadamente em nível de consciente. Mesmo que haja sido iniciada durante o sono a pessoa, via de regra, pode começar a ter uma recordação difusa do processo iniciático, aflora nela um sentimento de que algo lhe foi acrescentado, e até mesmo, em determinados momentos, ter visualização psíquica de símbolos inerentes à Ordem, e ao grau que lhe foi conferido.

São diversas as condições conferidas por uma iniciação autêntica e, por certo, o mais importante não são as revelações de conhecimentos específicos, nem os símbolos, os pentáculos e equivalentes, mas sim o despertar de qualidades pessoais adormecidas. É o fazer aflorar capacidades antes ignoradas. Mas, como tudo no universo, isso é algo muito sério como nos mostra a iniciação do Y[1].

Tudo no universo tem o seu oposto, assim sendo as cerimônias levadas a efeito por organizações diabólicas também despertam qualidades negativas, pelo que, sob determinados aspectos poderiam também ser consideradas iniciações embora que inversamente semelhantes ao que uma verdadeira iniciação confere à pessoa. A grande diferença é que os resultados são precisamente inversos, pois aqueles rituais não trazem em si o poder do sacerdócio pelo que não há possibilidade alguma de despertarem as qualidades superiores do ser. Na maioria das vezes aqueles rituais não despertam poder real algum, alguma capacidade especial que a pessoa apresente são mais manifestações do mundo das trevas exercidas por conjugação de forças negativas do que por poder pessoal. Assim, os poderes aparentemente poderosos que muitas pessoas envolvidas com as trevas parecem possuir não são poderes despertados pelas leis que regem a iniciação e sim a manifestação da natureza satânica.

A iniciação desperta valores latentes e com certeza não inexistem valores latentes negativos. O ser tem essência Divina, pura, mas que está ainda envolvido por camadas de negatividade. A pessoa tem duas camadas, uma envolvida, portanto “adormecida”, e outra envolvente aquela que aflora no dia a dia. Assim sendo a positividade tem que ser retirada do “nível de bloqueio” em que se encontra nos espíritos criados e trazidos ao nível de manifestação. Em outras palavras, o que está latente e tem que ser despertado é a natureza positiva da pessoa desde que a negatividade não constitui a parte envolvida e sim a parte envolvente. A camada envolvente é manifesta, portanto não está adormecida, muito pelo contrário ela é a camada que marca ainda a quase totalidade dos atos e do modo de ser da maioria das pessoas.

Numa iniciação autêntica, é posto em ação princípios e leis divinas aptas a promoverem o despertar da natureza latente das qualidades adormecidas da natureza íntima e Divina de cada um. Essa capacidade é regida por leis que somente são manipuláveis através do sacerdócio de Melquisedec, que é legado temporariamente aos verdadeiros iniciadores de algumas Religiões, Confrarias e Ordens subsidiarias da Ordem Divina de Melquisedec
(O. B. D. M.).

Repetimos, o que ainda não está desperto totalmente na grande maioria dos espíritos encarnados é a LUZ, lado intimo da essência do ser, e não as camadas exteriores constituídas de imperfeições e maldades. Portanto o que deve ser despertado é o lado positivo, aquela essência que ainda está bloqueada desde que o lado negativo já é aquele que se apresenta manifesto. Podemos dizer que a iniciação desperta qualidades adormecidas enquanto que os rituais de magia negra apenas estimulam a própria natureza negativa manifesta. É o que acontece, os rituais diabólicos não conferem poderes especiais, apenas eles apenas liberam a natureza negativa já atuante em cada pessoa. Todo poder que um ritual demoníaco parece dotar a pessoa na realidade é apenas a exteriorização mais fácil de instintos inferiores que estão apenas reprimidos, a revelação mais direta do envolvimento satânico. Muitas vezes a pessoa que se julga possuidora daqueles poderes na realidade apenas é intermediária das múltiplas faces do próprio poder negativo contratadas através de rituais nefandos. Sabendo ou não se tornam mediadores entre o mundo em que vivem e os seres dos mundos inferiores, da corte dos palácios da impureza.

Muitos são os que se enganam totalmente quando se julgam detentores de poderes especiais, pois a força que eles ostentam tem como origem o lado negativo da natureza representada por aqueles parceiros do mundo das trevas aos quais se ligaram por compromissos ritualísticos. Embora uma iniciação sempre condicione algum tipo de sofrimento na realidade isto é apenas o fruto dos conflitos que diante do qual a pessoa se defronta, mas jamais algo de natureza negativa, pois a verdadeira iniciação é abençoada pela Divina Ordem Celestial de Melquisedec à qual administra o direito e o poder do Sacerdócio, por isso é citado ser o próprio JESUS um sacerdote segundo a Ordem de Melquisedec.

Grande número de atos litúrgicos são formas simplificadas de iniciação, como, por exemplo, alguns sacramentos da Igreja Católica. Alguns deles foram instituídos ritualisticamente pelo grande APOLÔNIO DE TIANA e outros já existiam como seja o do BATISMO. O próprio JESUS autenticou a validade de um ato ritualístico desde que ele mesmo recebeu o batismo através de JOÃO no Rio Jordão.

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[1] A INICIAÇÃO DO Y se refere ao processo místico-iniciatório em que o busca-dor se vê diante de dois caminhos básicos a seguir: um deles continua a levá-lo ao mundo das ilusões, em que os prazeres e sofrimentos reinam; o outro conduz à Verdade, à Libertação da mente escravizante, mas através de muitas dores e desilusões. [P.]