Thoth e o Monismo

JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO - F.R.C.

thoth
Tema 858
1998- 3351

“A absoluta unidade de Deus está manifestada na imensa variedade de mundos."

Já escrevemos sobre Toth, considerado pelos antigos egípcios como um Deus, ao qual mais tarde os gregos deram o nome de Hermes, o deus da sabedoria, e passou à história com o nome de Hermes Trismegistus. Nas Primeiras Dinastias, ele era conhecido pelo nome de Imhotep, o escriba.

Estamos nesta palestra aprofundando os ensinamentos de Toth, pois dezenas de palestras recentemente escritas têm versado sobre os princípios deixados por Ele.

O valor de Toth é imenso no que diz respeito ao desenvolvimento espiritual neste atual ciclo, pois foi ele que mostrou as características do universo e a sua origem única. Trata-se de uma das esplêndidas manifestações em forma humana que a humanidade teve o privilégio de receber, pois, na verdade trata-se de uma, entre outras, manifestação direta de Deus na terra.

Verdadeiramente, neste atual ciclo de civilização, até a vinda de Toth, não havia nenhum povo que adotasse o monoteísmo[1]. Os diversos povos sempre tiveram vários deuses, existiam panteões repletos de deuses dirigindo cada tribo, cada profissão, ou representando os mais diversos tipos de sentimentos.

Atualmente, dizem que quem primeiro aceitou o monoteísmo foi o povo Hebreu, mas na verdade isto é um ponto que precisa ser bem esclarecido.


O Egito, muito antes dos hebreus haverem chegado lá, já havia a idéia de um Deus único, com base nos ensinamentos de Toth. Evidentemente os hebreus de então já admitiam a existência de um único deus, mas segundo uma visão dualística, em contraposição os herdeiros de Toth tinham uma visão essencialmente monística. Na verdade, no mundo ocidental, tem-se a idéia de que o monoteísmo, a crença num único Deus, deve-se aos Hebreus; isto é verdade, mas não o Monismo, doutrina esta que Moisés, embora haja dela se inteirado quando viveu na corte do Faraó, não a endossou, pois de forma alguma se tratava de uma doutrina que atendesse aos interesses do deus dos Hebreus. Embora Moisés houvesse tido conhecimentos sobre a natureza monística do Universo, ainda assim ele persistiu na doutrina monoteísta[1], que era uma forma bem adequada ao poder dominante no seio dos Hebreus.

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Mesmo que no Egito haja proliferado um sem número de deuses, isto foi decorrência natural de uma civilização que perdurou por milhares de anos e também por inúmeras outras razões. Toda religião, toda filosofia, ao longo do tempo, acaba por degenerar, especialmente quando fere interesses da conjura ou do “terceiro interesse” – força inferior. Não é de se esperar que haja sido diferente no Antigo Egito.

Em verdade, não pode ser negado que o monismo fere diretamente os interesses da força inferior, desde que ela só pode imperar segundo uma concepção dualística. Ela intitula-se de chefe, de “senhor de exércitos”, e, sendo assim, não pode admitir ser parte de uma mesma natureza. Aquele que se intitula de rei necessita de vassalos. Sem vassalo não existe rei.

Não é difícil falar sobre o monismo, o difícil é vivenciá-lo…

Tem que haver uma nítida separação entre deus e seres para que possa se falar em senhor, em soberano, ou em algo semelhante. Não tem sentido qualquer ser comandando a humanidade, se esta for parte integrante dele, por isso a filosofia monística não atende aos requisitos satânicos.

Indubitavelmente, o dualismo é o sistema que mais eficientemente se presta ao atendimento da condição de senhor e servo, duas condições distintas. No Monismo, tudo é Um, portanto na essência não existem condições de servo e senhor.

Realmente o dualismo é a linha filosófica que mais serve aos que se consideram senhores ou deuses, estes precisam do dualismo, sem o qual eles não têm sentido algum.

O sistema dualístico é o preferido dos que precisam se impor, mas isto só não atinge o Monismo. O Monoteísmo também é vulnerável a usurpações, desde que estabelece uma separação entre o Creador[1] e a creação. O Monoteísmo diz existir um só Deus Transcendente, embora não o coloque como a realidade única. Para o monoteísta o mundo foi creado do nada por Deus, ao passo que para o monista o mundo veio do Todo.

Só no Monismo não tem lugar para um senhor separado do servo, assim sendo não tem como um ser colocar-se no lugar da Força Superior, assumir a Sua identidade, como já aconteceu muitas vezes. No monismo Deus, em sua expressão máxima, não tem nome, e a Ele não podem ser atribuídas quaisquer qualidades, pelo que é simplesmente Inefável. Desta maneira, não tem como alguém, ou algo, usurpar-Lhe o lugar, mesmo porque Nele estão englobados todos os potenciais.

O Peregrino da Senda percebe o sentido velado dos ensinamentos…

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Tem-se alegado que, no Antigo Egito, só existiu o dualismo, em sua forma menos elevada, o Panteísmo. Na verdade foi onde mais proliferaram deuses, mas isto não implica que não haja existido em nenhum momento o Monoteísmo, a não ser num curto período do Faraó Amenophis IV. Isto não é verdade, porque, na realidade, o ensinamento deixado por Toth (Doutrina Hermética) é totalmente direcionado ao Monismo. Até podemos concordar que o Monoteísmo só haja existido com Amenophis IV, pois que, na realidade, o que paralelamente existiu com o dualismo e o panteísmo foi o Monismo.

Uma das mais significativas contribuições ao desenvolvimento do conhecimento metafísico do Universo diz respeito aos ensinos de “Hermes”. Eles refletem o mais puro Monismo, mas acontece que os ensinamentos por ele deixados perderam-se em sua grande parte, especialmente quando da destruição da Biblioteca de Alexandria, em obediência aos preceitos obscurantistas.

Desde que o obscurantismo passou a direcionar a conduta da sociedade humana, especialmente através das religiões, os ensinos herméticos foram banidos, restando apenas citações ligeiras em alguns hieróglifos, gravadas em papiros e pedras. Ao nosso tempo chegaram apenas quatro obras ao alcance dos não iniciados, conhecidas pelo nome de Kybalion (O Caibalion)[2], “Pistis Sophia” e “Corpus Hermeticum” (Conteúdo da Tábua da Esmeralda). O Caibalion é uma obra que não foi diretamente escrita por Toth, mas sim em época bem mais recente, como forma de divulgação dos seus ensinamentos pela V∴O∴H∴ [4]

O mencionado livro não existe disponível em sua totalidade, mas existe um pequeno resumo dele também intitulado Caibalion, o qual assinam Os Três Iniciados, isto porque, na realidade, nenhuma pessoa pode por direito dizer-se autor dessa obra.


É impressionante o número de obras esotéricas que ora estão sendo vendidas no mundo. Trata-se de um tremendo emaranhado de informações, em sua grande maioria inautênticas, ou mesmo intencionalmente direcionadas para determinados fins. Por isso é preciso separar o joio do trigo. A obra que mencionamos antes pode com certeza ser catalogada como trigo. Na realidade trata-se de um resumo do que consta no Original, que é uma obra reservada aos membros da Veneranda Ordem Hermética.

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Desde priscas eras, os conhecimentos de Toth estão baseados nos chamados Sete Princípios Herméticos, mas devemos revelar que esses ensinamentos estendem-se bem mais. Muito do que Toth ensinou foi destruído no incêndio da Biblioteca de Alexandria, mas algumas Escolas de Mistérios preservaram grande parte dos ensinamentos que agora estão sendo divulgados.

Estão sendo organizados grupos de estudos herméticos em diversos lugares, visando o aprofundamento dos estudos da Ordem, contudo toda vigilância é pouca, porque o obscurantismo, a conjura, não se extinguiu, e menos ainda o “terceiro interesse”.

Um cuidado que se deve ter é identificar a autenticidade das organizações, e, mesmo nas organizações sérias, deve ser mantida vigilância, para não permitir que sejam dominadas pelo obscurantismo.

Sem dúvidas, cada princípio hermético encerra conhecimento de altíssimo nível, não se tratam de níveis relativamente simples. Neles estão contidos ensinamentos do mais alto nível metafísico.

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VEJAM OS QUE TÊM OLHOS PARA VER…

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[1] Monoteísta: admite um só Deus. Monista: admite que tudo quanto haja é uma expressão do próprio Deus.

[2] Temos usado o nome creador para fazer distinção. Crear é gerar, e criar é cultivar. A mãe, por exemplo, crea o filho no útero e o cria no lar.

[3] Conforme cita Rohden, Kybalion é uma palavra derivada do mesmo radical Kybele, ou Cibele, divindade fenícia que simboliza a luz. Portanto Kybalion seria, pois, um luzeiro, ou seja, um farol para guiar a humanidade na sua longa jornada rumo ao Infinito. Outras duas obras: Corpus Hermeticum e Tábula Esmeraldina.

[4] Sigla em português da autêntica fonte de ensinamentos herméticos.