Divulgação e restrição dos ensinamentos herméticos

PEREGRINI SANTIAGO

"Os lábios da Sabedoria estão fechados, exceto para os ouvidos do Entendimento.”
— O Caibalion.

Há muito tempo, constatamos que, não todos, mas a maioria dos estudantes do misticismo ainda não consegue perceber a importância maior da transcendência da matéria e até mesmo do ego e dos seus alegados "poderes desenvolvidos". Quando entram em contato com as Ordens ou outras organizações afins, quando começam a estudar os fenômenos psíquicos (telepatia, pré-cognição, projeção astral, etc.), se dão conta de que tais práticas sempre estão ao alcance, pois somos seres mentais. Assim, tendem com frequência a ficarem progressivamente fascinados com o despertar de muitos dos poderes até então latentes.

Diversos estudantes, fascinados, veem nas práticas místicas possibilidades de não apenas desenvolverem outros níveis de suas percepções, mas também de se crerem "superiores" aos outros, eventualmente desejando subjugá-los! Por estarem em tão intenso envolvimento com os poderes do ego, os quais, porém, são ilusórios, de modo a recrudescerem a prisão na existência, passam a intensificar a busca não como um meio para se libertarem das ilusões e sofrimentos impostos pela mente, mas sim como formas para se destacarem em seus pretensos poderes. Isso ainda ocorre na maioria dos casos. 

São poucos aqueles que já perceberam que, embora o despertar dos poderes psíquicos seja relevante para, por exemplo, expandirem a percepção e vivenciarem intensamente a multidimensionalidade do Universo, o mais relevante é a superação de todos os envolvimentos gerados pelo ego, isso incluindo a superação da busca de benesses pessoais por poderes desenvolvidos. A este respeito, sabemos que toda cautela é relevante, pois os conhecimentos místicos ainda não apenas são incompreendidos por muitos, como também distorcidos. Nesse sentido, a preservação estratégica desses conteúdo é sempre razoável, sem, porém, indicar restrição absoluta, pois a Sabedoria Arcana pertence à Humanidade, não a esta ou àquela organização.

Há séculos, inspirados por determinadas egrégoras, determinadas pessoas têm atuado neste planeta objetivando não apenas transmitir elevados conhecimentos metafísicos, mas também orientar estudantes. Sabemos que atualmente existe uma discreta organização místico-filosófica que tem atuado discretamente no planeta Terra para transmitir elevados ensinamentos aos sinceros busca-dores. Para tanto, tem utilizado determinados meios de transmissão dos ensinos, os quais não são os mesmos, devido a alguns fatores didáticos, parte dos quais expomos rapidamente neste texto. Antes, falamos, sem entrar em maiores detalhes, a respeitos dos "tipos" de organizações místicas, quanto às maneiras pelas quais concebem como devem transmitir seu conteúdo. Temos o conhecimento de determinadas organizações místico-filosóficas cuja transmissão dos ensinamentos ocorre de modo mais restrito, mas existem também aquelas que prezam pela divulgação irrestrita dos conhecimentos transmitidos, assim como as que são intermediárias nesse sentido, pois não são fechadas de fato, nem abertas.

A este respeito, atua uma Ordem hermética que zela pela sua não-exposição nominal, nem mesmo pelas mídias convencionais (internet, revistas, etc.), porque seus objetivos maiores ainda não devem ser revelados às pessoas em geral, ainda não preparadas para entender e aceitar o trabalho. Ao mesmo tempo, essa hiper-discrição age como uma das formas de evitar exposições inoportunas e até mesmo perigosas. Então, neste caso, falamos de uma Ordem "hiper-discreta", ou, simplesmente, "secreta". Existem outras, porém, que são conhecidas do público, se fazem revelar pelas mídias. Mesmo assim, são instituições parcialmente expostas, porque zelam pela proteção de seus rituais internos, de determinados ensinamentos transmitidos e também de seus membros, por motivos variados, inclusive relacionados a perseguições dogmáticas. Como, neste caso, são organizações divulgadas, não são, portanto, "hiper-discretas" ou "secretas", mas, "discretas" ou "semi-secretas".

De fato, como dissemos, existem grupos herméticos em atividade. Além daqueles que não se expõem publicamente, sabemos de alguns que atuam em variadas mídias. Mesmo na internet, por exemplo, em redes sociais, existem grupos sérios, embora ainda sejam tão poucos. Nessa mídia, a maioria dessas organizações se faz sentir claramente, em status "público" ou até mesmo "fechado", mas, em ambos os casos, sendo visíveis pelas pessoas em geral. Contudo, nesse espaço, existem alguns grupos, bem mais restritos, os quais decidem pela maior restrição da sua visibilidade nas mídias em geral, mesmo em redes sociais. Optam, por conseguinte, por agirem em status "secreto", devido a determinados motivos, a saber: i) Na presente humanidade, a maioria das pessoas ainda está profundamente enraizada em suas variadas crenças, tomando-as amiúde como "realidades absolutas"; ii) Pelo primeiro motivo, no atual as crenças, sobretudo quando consideradas muito "diferentes" dos ensinamentos herméticos, tendem a gerar intensos choques existenciais na pessoa, o que certamente perturba sobremaneira sua pretensa sanidade mental; iii) A maioria das pessoas apresenta fraquíssima base de estudos filosóficos genéricos e científicos, motivo pelo qual reforçam suas crenças doutrinárias, o que, no Hermetismo, não ocorre, devido ao alto teor de desconstrução-reconstrução conceitual da análise, a qual com frequência dialoga com a ciência oficial, mas eventualmente contestando-a; iv) A Conjura do Silêncio[1], que desde os derradeiros momentos da Atlântida platônica[2] tem atuado neste planeta, ainda considera os ensinamentos herméticos "perigosos" para a manutenção dos interesses de manipulação e alienação comportamental da sociedade. Além disso, ocultamente a serviço de forças detratoras interdimensionais, a Conjura tem procurado reforçar a ignorância das pessoas diante dos ensinamentos que transmitimos para, assim, mantê-las presas à "roda das encarnações", mormente motivada pela sensação de "culpa pessoal".

A Conjura tem especificamente atuado no sentido de gerar o medo e a culpa nas pessoas, os quais são aliados da ignorância. Temos conhecimentos de ataques constantes da Conjura contra aqueles que ousam não apenas a estudar o Hermetismo, mas também a transmiti-lo. Os grupos que resolvem ensinar esses conhecimentos, sobretudo quando são mais conhecidos do público, tornam-se mais propensos às investidas espúrias do Obscurantismo. Por isso, essas organizações místicas geralmente optam por ensinar em uma reserva ainda maior do que a normalmente considerada, de maneira a os preservarem e a conseguirem transmiti-los às gerações vindouras.

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[1] A "Conjura do Silêncio, ou "Obscurantismo", representa os interesses pessoais, em praticamente todos os ramos da sociedade, no sentido de não divulgar e até mesmo eliminar determinados ensinamentos, sobretudo os que versam sobre a escravidão mental do indivíduo e sobre como libertar-se desse condicionamento.

[2] A "Atlântida platônica" simboliza os derradeiros anos em que floresceu essa civilização, tal qual foi descrita por Platão [427-348 a.C.], na obra Timeu e Crítias.

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