JOSÉ LAÉRCIO DO EGITO — F.R.C.
"A natureza tem para tudo o seu objetivo"
— Aristóteles.
Tema 1232
2000 - 3353
Muitos aspectos do Unismo não analisaremos nestes temas, mas, como existe a necessidade de pessoas que chegaram a determinados patamares de compreensão avançarem em certos conhecimentos, então vamos estender um tanto mais o leque de ensinamentos. Não podemos negar-lhes o que pretendem, mas devemos orientá-los individualmente, pois, quando uma pessoa busca o conhecimento mais elevado, qualquer hermetista da V∴O∴H∴ tem o dever de instruí-lo. Por isto é que muitos conhecimentos de que chegamos a tomar ciência pretendemos dividi-los com o máximo de pessoas sinceramente interessadas, e que estejam suficientemente preparadas para receber informações de um nível não convencional. O critério de escolha do discípulo depende mais do seu grau de desenvolvimento espiritual do que propriamente de nós. Não é nenhuma pessoa que confere graus de admissão aos grupos de estudos herméticos em nível de Venerável, mas sim algo ligado à Egrégora do Hermetismo.
Temos grande desejo de poder contar com um grupo de estudos que permita penetrar num patamar bem mais elevado de conhecimentos, mas por enquanto temos que nos conformar em ter que esperar mais. De um total de quase duas centenas de interessados, em grupos que orientamos nos últimos dez anos de estudos herméticos, e por meio de mais de 1800 temas escritos até esta data, mesmo assim poucos deles chegaram ao nível de Veneráveis da Ordem Hermética.
Temos observado que, no transcorrer de mais de 20 anos à frente de grupos de estudos herméticos, a maioria dos inscritos acompanha os estudos simplesmente como um estado de empolgação, de descoberta do novo, mas não com o intuito de desenvolvimento pessoal. Quando os integrantes de um grupo terminam de receber os ensinamentos básicos, quase nenhum deles inicia a segunda fase de preparação, que consiste em por algum tempo continuar sozinhos a busca.
Na primeira fase é transmitido o conhecimento básico, os Princípios Herméticos são apresentados, e o buscador, quando está encerrando o primeiro nível, chega por dedução a condições complementares e a algumas outras deduções relativas aos Princípios Herméticos. A partir daí ele deve caminhar sozinho por certo tempo. Se houver conseguido entrar em sintonia com a Egrégora da Ordem, ele continuará com a mesma inquietude de busca, e o orientador, pressentindo isto, continua transmitindo ensinamentos complementares. O orientador apenas leva o discípulo até o portal do “templo”, mas não penetra com ele. Nessa etapa cada um tem que seguir sozinho, mas, se continuar “ligado”, outras oportunidades ocorrem, e, em especial, se o estudo foi feito com seriedade, ele por certo começará a receber ensinamentos de forma direta, por intuição. Para isso é necessário que haja conseguido certo nível de abertura das portas da percepção.
É nesta fase de teste que se vê se o discípulo está ou não preparado. Se ele estiver, ele “penetra no portal”, ou seja, continua a sua busca, e o orientador sabe disso pelo interesse demonstrado. Se não está preparado, ele pára ali, deixa os estudos de lado, acomoda-se satisfeito com o que já pensa conhecer. É comum que alguns se julguem mestres, ou até mesmo orientadores. Muitas organizações, que se auto-intitulam de “Ordens Iniciáticas”, surgem a partir de discípulos que não ultrapassaram o portal, mas que, apoiados na base que receberam, fundam organizações, etc. Outros começam a praticar alguma forma de proselitismo.
Vale o que é dito nos Evangelhos: “Muitos serão chamados, mas poucos os escolhidos.”
Pode acontecer que alguns parem “diante do portal”, que não penetrem, mas continuem ligados ao anseio de mais conhecimentos preliminares. A esses o Orientador pode ampliar um pouco mais o horizonte do conhecimento hermético, visando despertar o interesse deles em prosseguir e atravessar o portal.
No passado, nas Escolas Iniciáticas, após o conhecimento básico, o discípulo era considerado apenas um “buscador”. Ao completar a primeira etapa, era levado ao Portal do Templo, onde deveria penetrar sozinho para cumprir algumas “provas”. Depois se seguia outra fase em que o buscador, por um período de três anos, ficava afastado dos ensinamentos do templo. Nessa fase, alguns escolhiam o isolamento em algum lugar, muitos iam para o deserto, mas a maioria preferia caminhar de cidade em cidade, sem contacto com os orientadores, enfrentando as vicissitudes, enfrentando as “tentações da vida”. Por caminhar de lugar para lugar eram chamados de “peregrinos”.
As Ordens Tradicionais se adaptam às épocas; hoje os estudos herméticos não ocorrem em templos, eles podem ser feitos em muitos lugares. Muitas vezes o buscador não conta nem sequer com um orientador próximo, pois a busca solitária também é válida. Mas geralmente acontece como no ditado: “Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece.” De alguma forma, em decorrência da ligação que o discípulo estabelece com a egrégora hermética, de uma forma ou de outra ele acaba localizando um orientador sem que precise sair procurando, pois a ocasião se apresenta. A V∴O∴H∴ não atribui o título de Mestre àqueles que preparam os discípulos, pois, segundo os ensinamentos arcanos, o Mestre Hermético é a própria Egrégora.
Na Egrégora está registrado tudo aquilo que diz respeito à Ordem, e isto faz com que o buscador (busca-dor), sem que se dê conta, acabe por localizar alguma pessoa que possa lhe servir de orientador, de prepará-lo, para que possa receber o conhecimento diretamente da Fonte.
Muitas vezes as coisas acontecem de forma inusitada. Por exemplo, acontece que um buscador, que vive em um lugar onde não possa contar com um orientador, sinta vontade de se mudar para outra cidade. Ele mesmo nem sabe por que está querendo se mudar de uma cidade para outra, até mesmo de um país para outro, movido ou não por diferentes razões. Isso acontece amiúde porque ele está sendo conduzido ao encontro de um orientador. No passado, a pessoa tinha que buscar um templo, que podia ser perto ou distante. Na atualidade a busca de conhecimento leva a pessoa a um orientador, a alguém que pode instruí-la, até mesmo numa praça pública. Hoje muitos ensinamentos arcanos estão sendo transmitidos pela própria Internet, mas é preciso separar o joio do trigo.
No passado, após o buscador haver assimilado os conhecimentos básicos, ele se retirava do templo e ia para um lugar solitário, até mesmo para o deserto, ou peregrinava durante um determinado período de tempo. Durante aquele período não recebia ensinamentos diretamente do Instrutor, mas os recebia mentalmente, às vezes sob a forma de “descobertas pessoais”; outras vezes, sem que o soubesse, “encontrava pessoas comuns” com as quais conversava, e aprendia muitas coisas “novas”. Esse era o período de peregrinação, daí o título que a pessoa recebia: “Peregrino da Senda”.
Hoje, em essência, tudo permanece como antes, é oferecida à pessoa a oportunidade de estudar o Hermetismo. Para isso sempre surge alguma oportunidade, desde que a pessoa tenha um mínimo de preparo e de interesse sincero. Acontece que, ao integrar um grupo, muitos são movidos por vários tipos de interesse, assim nem todos chegam ao fim da primeira etapa, nem todos conseguem chegar ao fim daquilo que pode ser chamado de “primeiro grau”, e receber o título de “Peregrino da Senda”. Alguns permanecem, cumprem a primeira fase, quando então o grupo é desfeito. Aí começa a fase em que o discípulo tem que peregrinar sozinho, isto é, voltar às suas atividades normais, a atuar em sua religião, ou em outros movimentos. Essa etapa é aquela representada na “Iniciação do duplo caminho” (Tema 0.424), também popularmente conhecida como a “Iniciação do Y”. É aí que ele tem diante de si dois caminhos distintos, o do mundo do conhecimento superior, e o da vida comum. Esta situação está simbolicamente representada na iniciação do duplo caminho[1].

Em nenhum momento é perguntado ao Peregrino se ele quer continuar. Se o fosse, por certo diriam sim, quando na prática mostram que não.Prosseguir é uma decisão pessoal e muito sutil, mas que todos os buscadores vivenciam. A quase totalidade escolhe o caminho oposto ao do conhecimento,escolhe exatamente a “via da acomodação”. Acomoda-se naquilo que estava antes,continua fazendo o que sempre fez, apenas com um pouco mais de conhecimento,mas não de sabedoria, ou, o que é mais lastimável, passa a usar o conhecimento em proveito egoístico, quando não maléfico, e por esse tipo de atitude leviana está sujeito a pagar um preço muito alto.
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[1] Esse mesmo sentido foi representado no filme MATRIX, quando foi dado a Neo escolher entre duas pílulas, uma azul, que corresponderia ao viver na ilusão, mas viver sem maiores problemas, ou a vermelha, que levaria ao conhecimento da verdade, porém trazendo em seu bojo uma terrível luta pela libertação.
Contato: peregrinodethoth@gmail.com
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